Daniela Cardoso e Ney Silva
Bancários da Bahia e Sergipe participaram na manhã desta terça-feira (8) do Seminário Interestadual com o tema Precarização na Organização do Trabalho no Setor Bancário. O evento, promovido pela Federação e pelo Sindicato dos Bancários, foi realizado na sala 5 da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Feira de Santana. A pesquisadora, médica e especialista em medicina do trabalho, doutora Margarida Barreto, do estado de São Paulo, veio fazer uma palestra sobre o tema.
A doutora Margarida Barreto disse que as doenças no mundo do trabalho estão se acentuando, e os números da Previdência Social comprovam isso. Segundo ela, nos últimos três anos, entre acidentes e doenças do trabalho e profissionais, foram 2 milhões e 500 mil casos no Brasil, com 9 mil mortes. “É como se a gente estivesse numa guerra. Na verdade, se pararmos para pensar, apesar do avanço da tecnologia, vêm aumentando as questões relacionadas aos transtornos mentais”, afirmou.
Margarida Barreto lembra que nos anos 80 ocorreu um verdadeiro boom com as chamadas Ler-Dort, que são lesões por esforços repetitivos, e na opinião dela, o corpo do trabalhador já não aguentava mais aquele ritmo que estava sendo imposto com as tecnologias. “Fica claro pra gente que o mito do trabalho leve, como muitos dizem, a exemplo do trabalho bancário ou o telemarketing, que muitos acham que é um trabalho leve, não é. A demanda mental, a exigência mental é acentuada e daí, justifica-se, inclusive, no primeiro momento, as lesões por esforços repetitivos, devido ao ritmo intenso, e no segundo momento, os transtornos mentais”, destacou.
Na opinião de Margarida Barreto, para mudar toda essa situação e voltar a ter um ambiente saudável nas empresas, não adianta discurso, não adianta a empresa falar em sustentabilidade e ética coorporativa, quando ela tem uma série de atitudes práticas que rompe esse discurso. Ela cita, por exemplo, que existem as chamadas subnotificações. “Esses números que citei sobre adoecimento são subnotificados. As empresas omitem e a quantidade de adoecimento é muito maior”, afirmou.
Segundo Margarida, um trabalhador quando adoece já é condenado a ser demitido. A doutora afirmou que as empresas hoje estão se dedicando somente a produzir cada vez mais e estão produzindo uma fábrica de trabalhadores infelizes, além, de robotizar e individualizar as pessoas, causando maior sofrimento. Ela acredita que a situação só se resolverá com o mundo do trabalho decente, que passa pela solidariedade, respeito ao outro, reconhecimento, mas passa muito mais por outra forma de organizar o trabalho, que de fato seja democrática, que os trabalhadores sejam criativos, sendo respeitados na sua criatividade e tendo autonomia em fazer.
“Isso hoje não existe. O trabalhador tem que estar na produção. Computadores, telefones e as máquinas de modo geral estão sendo mais importantes do que o próprio trabalhador, que hoje virou uma mercadoria descartável, um objeto”, lamentou Margarida Barreto.
A presidente do Sindicato dos Bancários de Feira de Santana, Sandra Freitas, disse que o objetivo do seminário interestadual foi mostrar para a categoria de bancários como o capitalismo e a busca desenfreada pela produção vêm maltratando os trabalhadores. “A federação e o Sindicato dos Bancários saem na frente trazendo a público um assunto tão pertinente, que é a saúde do trabalhador”, afirmou.
Sandra concorda com a professora e palestrante Margarida Barreto de que a precarização do trabalho vem trazendo sérias consequências para os trabalhadores de forma geral. De acordo com ela, a categoria de bancários é a terceira que mais adoece com problemas psicossomáticos, ler-dort, que são lesões por esforços repetitivos. A sindicalista estima que em Feira de Santana 30% dos bancários têm algum tipo de doença.
Sandra Freitas também destaca outro problema que tem prejudicado os bancários: a redução do quadro funcional, com demissões, transferências e fechamento de postos de trabalho. Em contrapartida, a sindicalista informou que a demanda aumenta a cada dia. “Então a sobrecarga é grande e por isso os trabalhadores vêm adoecendo”, destacou.