Bahia

Santo Amaro recebe Comissão da Verdade para depoimentos sobre a ditadura

A Comissão Estadual da Verdade na Bahia foi criada em dezembro de 2012, por meio do Decreto Estadual 14.227

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Na audiência pública que realiza nesta sexta-feira (15), a Comissão Estadual da Verdade – Bahia vai ouvir seis vítimas da ditadura militar em Santo Amaro, no Recôncavo baiano. Os depoimentos começam a partir das 8h30, no auditório do Colégio Estadual Teodoro Sampaio, no município.

Um dos depoentes, Antônio Trigueiros, 73 anos, era auxiliar técnico de manutenção da Refinaria Landulpho Alves, da Petrobras, e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) quando foi preso em 1º de abril de 1964, em Santo Amaro. Ficou encarcerado no Quartel do Barbalho, no Forte de Monte Serrat, na Cidade Baixa, e no Quartel do 19 BC, no bairro do Cabula, sendo foi libertado em 22 de dezembro do mesmo ano. Ele conta que sofreu a tortura psicológica de um “fuzilamento” com pólvora seca.

Tortura moral

Outro depoimento será o de Siginaldo da Costa Vigas, 73, que também trabalhou na Petrobras e estava começando a frequentar reuniões do PCB quando foi preso em 6 de abril de 1964 e solto 45 dias depois. A Comissão ouvirá também o professor Carlos Augusto da Silva, 80, preso de 12 de abril a junho de 1964. Ele diz que não sofreu torturas físicas, “mas muitas torturas morais”, era ligado a grupos de esquerda e escrevia no jornal mensal ‘Tribuna dos Moços’, em Santo Amaro.

Laurindo Pedro Gomes, 74, operador de processamento na Refinaria Landulpho Alves, também vinculado ao PCB, foi procurado pela Polícia em casa em 1964, mas conseguiu fugir pelos fundos e se abrigar na casa de parentes. Depois, se apresentou no Quartel General da VI Região Militar, em Salvador, e afirma que foi salvo em decorrência de uma carta de apresentação do general Juracy Magalhães, solicitada por um procurador e chefe do partido União Democrática Nacional (UDN) em Santo Amaro, de quem era amigo. Diz também que foi muito perseguido por ter sido diretor do grêmio estudantil do Centro Educacional Teodoro Sampaio.

Outro a depor, Odyrceo da Costa Vigas, 75, era operador da área de Utilidades da Refinaria Landulpho Alves quando foi preso em 6 de abril de 1964 e somente libertado em junho. Não foi torturado, mas diz que viu muita gente sofrendo agressões e presenciou ameaças a outros presos. Apesar de não ser ligado oficialmente ao PCB, participava das reuniões. Também vai depor o professor Aloisio Lago, 72, diretor do jornal mensal ‘O Trombone’, que circula na cidade há 15 anos. Também será ouvida Maria Mutti, fundadora do Núcleo de Incentivo Cultural de Santo Amaro (NICSA) e que está criando o Instituto Cultural Emanoel Araújo.

Relatório final

A Comissão Estadual da Verdade na Bahia foi criada em dezembro de 2012, por meio do Decreto Estadual 14.227, com o objetivo de apurar e esclarecer violações aos direitos humanos cometidas por agentes públicos, entre os anos de 1946 e 1988, principalmente as violações ocorridas durante a ditadura militar, de 1964 a 1985.

O primeiro relatório parcial da CEV-BA foi entregue ao então governador Jaques Wagner, em dezembro de 2014, e o relatório final estará pronto em agosto deste ano. Vinculada ao gabinete do governador, a Comissão é formada pelos advogados Jackson Azevedo (atual coordenador) e Vera Leonelli, as professoras Amabília Almeida e Dulce Aquino, o sociólogo Joviniano Neto e os jornalistas Walter Pinheiro e Carlos Navarro.