E, tenho dito

A ministra Carmen Lúcia, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, alertou esta semana para a ameaça da insatisfação popular ante a descrença no Estado. Ao abordar a "avalanche de processos", enquanto participou de debate sobre foro privilegiado promovido pela Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), a ministra disse: "Muitas vezes, especialmente na parte administrativa, eu acho que estou maquiando cadáver. Esse Estado brasileiro, como está estruturado e como a Constituição previu há 25 anos, não atende mais a sociedade. O que era esperança, na década de 1980, pode se transformar em frustração. A tendência de uma frustração, o risco social é se transformar em fúria. E, quando a fúria ganha as ruas, nenhuma ideia de Justiça prevalece". Conforme divulgou o Estadão, a ministra disse ainda que "privilégios existem na monarquia, e não na República" e que "o Supremo é tribunal, não é corte”. “Não vejo como se garantir materialmente o princípio da igualdade, preservando os que são sim privilegiados," acrescentou. Tenho comentado sempre no rádio que o nosso modelo político precisa ser repaginado, mas dizer isso como um cidadão comum em uma cidade do interior é como um beija-flor tentando apagar um incêndio na floresta. Agora, foi a ministra quem disse que o Estado não atende mais a sociedade, e que bom que isso repercutiu por todo o país. A gente observa governantes exercerem seus mandatos com a ideia da política partidária e isso tem que acabar, porque estamos precisando de gestões. É preciso esquecer os conchavos políticos. A sociedade está evoluindo e os governantes não estão acompanhando. O nosso modelo político está caduco. A política partidária ainda é o câncer desse país. Só se governa pensando nas articulações políticas e não dá para continuar assim.