
O verão, que teve início oficialmente no último domingo (21), traz consigo dias ensolarados e temperaturas elevadas. No entanto, o que muitos acreditam ser uma época de pressão alta, na verdade, esconde um risco inverso: a hipotensão arterial ou pressão baixa.
Embora a hipertensão (pressão alta) costume receber mais atenção, a queda da pressão no verão pode desencadear quadros graves de tontura, desmaios e até fraturas. Para entender melhor esse fenômeno, o Acorda Cidade conversou com o médico André Almeida, cardiologista e professor da área.
O mito da pressão alta no calor
Diferente do senso comum, o calor não aumenta a pressão. O médico André Almeida explica que o organismo possui mecanismos de defesa para não superaquecer, o que acaba reduzindo os níveis tensionais.
“Usualmente, durante o verão, e quanto mais avançado, mais calor estiver ocorrendo, maior a chance da pressão cair. E a pressão cai por quê? Por alguns motivos. Então, durante o calor intenso, o organismo lança a mão de um mecanismo de dilatação dos vasos para poder dissipar o calor e não causar uma hipertermia, aumento da temperatura. Quando os vasos se dilatam, normalmente existe uma queda da pressão. Esse é o primeiro mecanismo”. O segundo fator é a desidratação, muito comum no verão devido ao aumento da transpiração.
Atenção redobrada para idosos
Pessoas que já fazem tratamento para o coração ou hipertensão devem estar em alerta máximo, principalmente os idosos. O uso de diuréticos e beta-bloqueadores pode dificultar a resposta do corpo ao calor. O médico destaca a hipotensão ortoestática, aquela tontura ao levantar rapidamente.

“A pessoa idosa ou aquela que usa diuréticos ou antipertensivos, e principalmente no verão com muito calor, quando se levanta rapidamente, não dá tempo ainda do organismo se readaptar, se rearrumar para manter a pressão estável. E a pressão, então, cai. Quando a pressão cai, o que acontece com a quantidade de sangue que está indo para o cérebro? Ela diminui. A tendência é a pessoa ficar tonta, podendo cair. Numa queda dessa, bate a cabeça numa quina de uma mesa ou a perna, termina tendo um traumatismo craniano ou uma fratura de fêmur e por aí vai”, explicou o médico ao Acorda Cidade.
Os perigos da desidratação
Além da vasodilatação, o suor excessivo é um fator crítico. Ao perdermos líquidos e sais minerais, o volume de sangue diminui, tornando-o mais “espesso”.
“A alta temperatura, com a perda do líquido e consequente a queda da pressão arterial, existe um aumento na viscosidade do sangue. Vou dizer na linguagem popular, o sangue fica mais grosso. Se o sangue fica mais grosso, aumenta o risco de formação de coágulos, aumenta o risco de formação de arritmias.”
“Então, a desidratação associada à queda da pressão, ao aumento da viscosidade do sangue, principalmente naquelas pessoas idosas, que usam remédio para o controle da pressão arterial, naquelas que tomam diuréticos, diabéticas e nas pessoas com doenças do coração, esses cuidados devem ser intensificados.”
Alimentação e medicamentos também influenciam
O cardiologista reforça que alguns medicamentos podem agravar quadros de hipotensão no verão.
“O uso de vasodilatadores que dilatam os vasos do organismo, o uso de beta-bloqueador vai mascarar o quadro de hipotensão e de resposta do organismo, porque quando a pressão cai, o coração tende a bater mais rápido. Se a pessoa usa determinados medicamentos, chamado beta-bloqueador, ele segura a resposta da frequência de batidas do coração. Então, esses medicamentos podem trazer, precisam ser vistos com muito cuidado e ajuste de dose.”
A alimentação também deve ser adaptada à estação.
“Durante o verão, evite comidas muito gordurosas. Evite comida muito pesada. Quando a pessoa se alimenta, boa parte do sangue do organismo vem para, no popular, a boca do estômago. Para quê? Para aumentar a digestão, melhorar a digestão. Se você já está num calor intenso, os vasos estão dilatados, o organismo está desidratado. Se você faz uma alimentação copiosa, ou seja, se come muito, uma quantidade excessiva de sangue vem para fazer a digestão e diminui a quantidade de sangue que vai para o cérebro, diminui a quantidade de sangue que vai para os músculos. Por conseguinte, a pressão cai.”
Pressão 12 por 8 ainda é normal?
Essa é uma dúvida comum entre a população, especialmente após a divulgação de novas diretrizes sobre pressão arterial. De acordo com o cardiologista André Almeida, a resposta é sim.
“A Sociedade Brasileira de Cardiologia estabeleceu que a pressão normal é a pressão abaixo de 12 por 8. O ideal é uma pressão até 12 por 8. Ponto. Ah, por causa disso eu vou brigar porque meu paciente está com a pressão 13 por 8? Não. Eu vou orientar ele que ele deve evitar o excesso de sal, de gordura, de açúcar, evitar o sobrepeso, evitar a obesidade, fazer atividade física, cuidado com o álcool, cigarro, são os cuidados gerais.”

O médico, que faz parte da entidade desde 1989, explicou que a pressão arterial não se comporta de forma totalmente estável ao longo do dia. “A tendência da pressão é subir um pouco, cair um pouco, subir um pouco, cair um pouco. Isso chama-se ritmo circadiano.”
Ele reforça que a busca por atendimento médico deve acontecer principalmente quando há sintomas associados, independentemente do valor medido.
“Quando a pressão subir e a pessoa se tornar sintomática, a pessoa tiver dor no peito, tontura, muita dor de cabeça, dificuldade para visualizar as coisas, imediatamente deve ir para o hospital.”
“A pessoa pode ter uma pressão de 10 por 6 e sentir absolutamente nada, não tem problema nenhum. Já o outro pode ter uma pressão de 10 por 6 e ter tontura. Se isso acontecer, você tem que deitar, levantar as pernas, que é a tendência dessa pressão subir um pouco e você melhorar, principalmente se tiver sintomas, se não tiver sintomas não dá para fazer nada, mas se tiver tontura, sensação de desmaio, sim, é isso que deve ser feito.”
Para aproveitar a estação com saúde, confira as recomendações do médico:
Sinais de Alerta:
- Tontura frequente (especialmente ao levantar);
- Fraqueza além do habitual;
- Palpitações ou descompasso no coração;
- Queda da pressão em casa;
- Desmaios.
“Se você toma o remédio da pressão, você precisa procurar o atendimento para ver se a dose desse medicamento precisa ser ajustada. Você precisa ver se você está desidratado. Precisa ver se os eletrólitos sódio, potássio, cálcio, magnésio, fósforo estão adequados.”
Como prevenir:
- Hidratação: Beber, em média, dois litros de água por dia.
- Movimentação lenta ao levantar: Se estiver deitado, sente-se primeiro antes de ficar em pé, principalmente os idosos.
- Alimentação leve: Preferir alimentos leves em menor quantidade.
- Exercícios físicos: Evitar o sol entre 10h e 16h (sol forte). Usar roupas leves e nunca casacos pesados para “suar mais”.
- Não suspenda medicação: Jamais pare de tomar seus remédios de pressão sem orientação médica.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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