Acorda Cidade

Quando a estudante de Direito  Lorena de Castro Ferreira Novais, 28 anos, saiu para a academia, no fim da tarde de segunda-feira, a vizinha, uma rezadeira de 78 anos, lhe disse: “Que Deus te acompanhe”.  Pouco mais de uma hora depois, por volta das 18h30, Lorena foi morta por dois homens, ao chegar em seu prédio, no Largo de Santo Antônio Além do Carmo. 
 
“Eu só ouvi três pipocos, mas achei que fossem essas bombas que os meninos jogam na rua. Nunca pensei que fosse com ela”, contou a vizinha, que preferiu não se identificar. Lorena, que era aluna da Faculdade Pedro II, estava na garagem e foi atingida por seis tiros na  cabeça e no pescoço, de acordo com o 18º Batalhão da Polícia Militar (Centro Histórico).
 
Ela morreu antes de ser socorrida. Segundo familiares, a estudante tinha acabado de chegar da academia, em sua motocicleta Honda Fan, quando foi surpreendida por dois bandidos que chegaram em um Siena prata. Ela tinha passado em casa apenas para trocar de roupa – deveria seguir para a faculdade, no Comércio, onde cursava o terceiro semestre de Direito. 
 
Ainda de acordo com parentes da vítima, que preferiram não ser identificados, depois de estacionar a motocicleta na garagem do prédio, Lorena voltou para fechar o portão, quando um dos bandidos desceu do carro, apontando uma arma. A estudante ainda teria tentado correr em direção ao prédio, mas não deu tempo. “A família inteira está muito abalada. A mãe dela está sofrendo muito, ela era filha única”, disse uma prima.
 
Perseguição  
 
Segundo a família, Lorena estava sendo seguida e foi morta em uma tentativa de assalto – os dois homens teriam tentado levar a moto da jovem.
 
“É triste pensar em algo assim, mas é como se  ela já soubesse, porque, na Páscoa, um primo nosso completou dez anos de falecido por ter resistido a um assalto. No dia, ela postou uma homenagem no Facebook dizendo que eles voltariam a se encontrar um dia”, lembrou a prima.
 
No entanto, para uma amiga de Lorena, a estudante de Direito teria sido executada. “Essa área aqui é calma. Ela me disse várias vezes que se sentia segura morando aqui. Pelo que soube, os dois homens chegaram atirando e, depois que ela caiu no chão, descarregaram a arma, além de não levarem nada. Isso não parece tentativa de assalto”, argumentou.
 
De acordo com a delegada Klaudine Passos, titular da 3ª Delegacia de Homicídios (Baía de Todos os Santos), Lorena percebeu que estava sendo seguida. “Ela chegou a largar a moto e já estava entrando em casa, mas foi morta pelas pessoas que a perseguiram”.
 
Mesmo assim, a delegada preferiu não comentar as hipóteses sobre a motivação do crime. “Já temos uma linha de investigação e estamos seguindo por algumas vertentes, mas prefiro não comentar, para não atrapalhar as investigações”, disse.
 
Embora o prédio em que Lorena morava não tivesse câmeras de segurança, Klaudine afirmou que a Polícia Civil já solicitou as imagens de câmeras que ficam na Ladeira da Água Brusca. “Não temos testemunha ocular do fato, mas vamos analisar as imagens. Nós precisamos investigar, ver o que ela fazia,  se estava recebendo alguma ameaça. Precisamos sondar todo o histórico dela, para ver o que poderia levar alguém a matá-la”.
 
Ainda de acordo com a delegada, Lorena não tinha passagem pela polícia. Já a assessoria de comunicação da Polícia Civil informou que a mãe da jovem, que mora no mesmo prédio que ela, ainda não foi ouvida.
 
Para o major Alexandre Costa de Souza, subcomandante do 18º BPM, a hipótese de latrocínio, considerada pela Polícia Militar, é “estranha”. “Nós não sabemos se ela era envolvida em alguma coisa, mas, que é estranho, é. Se a ideia fosse roubar, eles não teriam por que persegui-la. A pessoa larga a moto, vai atrás e executa”, comentou.
 
Faculdade
 
A faculdade onde Lorena estudava – Dom Pedro II – divulgou uma nota de pesar, ontem, no Facebook. Já era a segunda graduação de Lorena. Ela já tinha se formado em Administração e trabalhava como profissional autônoma.  
 
A jovem tinha uma filha de 8 anos e era considerada uma pessoa tranquila e caseira pelos amigos e familiares. “Ela era amigável e inteligente. O marido dela faleceu, há alguns anos, em um acidente de carro, por isso ela era caseira, saía pouco”, explicou um vizinho.
 
De acordo com a prima de Lorena, a maior preocupação da família depois da morte da jovem é com a filha da vítima. “A gente tem tentado fazer com que ela volte à rotina. Na hora dos disparos, ela estava dentro de casa”, lembrou. “Ela percebeu o que tinha acontecido com a mãe quando viu os familiares chegando. Depois, ela começou a perguntar pela mãe…”, comentou.
 
A criança morava com a mãe e a avó, que não quis falar ontem com a imprensa. O corpo de Lorena deve ser enterrado hoje, às 10h, no cemitério Jardim da Saudade, em Brotas. As informações são do Correio.