
O fim do ano é tradicionalmente um período de balanço pessoal, ajustes no orçamento e tomada de decisões que podem impactar diretamente o ciclo seguinte. Em 2025, marcado por juros elevados, inflação resistente e aumento do endividamento das famílias, o planejamento financeiro se tornou ainda mais relevante para entrar em 2026 com estabilidade.
Segundo pesquisa da Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro), em parceria com o Datafolha, 59% dos brasileiros se consideram planejados, mas 43% não possuem reserva de emergência e 28% gastam mais do que ganham. Esses dados evidenciam a importância de organizar contas, rever prioridades e avaliar com mais cuidado decisões de grande impacto, como renegociar dívidas, reestruturar e estruturar novos investimentos para o próximo ano.
Para especialistas em finanças pessoais, o período de dezembro funciona como uma “janela de ajuste”. É quando as pessoas têm mais clareza do que funcionou ou não ao longo do ano e conseguem projetar o futuro com mais precisão. Como explica Marcello Marin, contador e especialista em governança corporativa, em entrevista ao portal Terra, “planejar é escolher o caminho quando ainda há tempo para fazer ajustes. Em um cenário de juros altos e incertezas, quem se organiza antes tem mais chances de prosperar”.
Revisar dívidas: prioridade para começar 2026 com menos riscos
Uma das recomendações de Marin é revisar dívidas acumuladas ao longo dos últimos meses. O final do ano costuma concentrar gastos sazonais, como festas, viagens e presentes, que pressionam o orçamento, especialmente para quem não se preparou previamente.
Além disso, instituições financeiras costumam ampliar campanhas de renegociação entre novembro e dezembro, oferecendo condições diferenciadas, como juros reduzidos e parcelamentos mais longos. Vale priorizar dívidas com juros elevados, como o rotativo do cartão de crédito e empréstimos antigos que foram contratados em períodos de taxas mais altas. A revisão permite recuperar a capacidade de consumo e reorganizar os compromissos financeiros de forma mais consciente, evitando que 2026 comece com acúmulo de pendências.
Nessa etapa, é importante:
- levantar todas as dívidas ativas, com valores, taxas e prazos;
- negociar pagamentos à vista com desconto, quando houver margem;
- substituir dívidas caras por opções mais baratas, se necessário;
- evitar assumir novos financiamentos antes de resolver pendências críticas.
Para quem pensa em fazer grandes investimentos em 2026, ajustar o orçamento agora aumenta a chance de conseguir melhores taxas, enquadrar parcelas no orçamento e evitar comprometer a renda com um contrato de longo prazo.
Investimentos e reserva de emergência: como reorganizar a carteira
Além de quitar dívidas, o fim do ano é um momento estratégico para revisar investimentos, analisar desempenhos e definir novos objetivos. Com o cenário econômico brasileiro ainda incerto, a recomendação é ampliar a reserva de emergência para proteger o orçamento contra imprevistos e volatilidade.
O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) aponta que o planejamento financeiro reduz a exposição a riscos e aumenta a capacidade de adaptação em momentos de crise. O 13º salário, por exemplo, pode servir como impulsionador para quem deseja reforçar ou iniciar uma estratégia de investimentos para 2026.
Entre as práticas mais recomendadas, estão:
- recalcular o valor ideal da reserva de emergência, geralmente de três a seis meses de despesas fixas;
- verificar se os investimentos atuais ainda correspondem aos objetivos e ao perfil de risco;
- analisar taxas, prazos e liquidez antes de migrar recursos entre aplicações;
- evitar investimentos de alto risco motivados apenas por tendência ou recomendações superficiais.
Reorganizar a carteira ajuda a construir previsibilidade, e isso se reflete diretamente em decisões que dependem de fluxo de caixa bem definido, controle sobre gastos futuros e segurança financeira mínima para absorver oscilações econômicas.
Metas para 2026: decisões de longo prazo exigem planejamento
Traçar metas financeiras realistas é fundamental para transformar dezembro em um mês de preparo, e não apenas de consumo. Para muitas famílias, 2026 deve marcar um movimento de reorganização após meses de juros elevados, reajustes de preços e restrições no orçamento.
Entre as metas mais frequentes, estão: trocar de veículo, reforçar a previdência privada, juntar dinheiro para a entrada de um imóvel, iniciar um pequeno negócio ou investir em educação. Todas essas decisões exigem análise de riscos, projeção de cenários e visão de longo prazo.
No caso de quem pretendefinanciar carro, é necessário avaliar além das parcelas: custos adicionais, como seguro, IPVA, manutenção e combustível, devem ser incorporados ao planejamento. Muitas pessoas calculam apenas o financiamento e acabam comprometendo uma fatia maior da renda do que o previsto.
Indicadores de comportamento de consumo mostram que objetivos de médio e longo prazo tendem a ser mais sustentáveis quando combinados com planejamento. Isso evita decisões impulsivas motivadas por promoções de fim de ano, pressão social ou sensação de urgência.
Preparar o futuro começa com organizar o presente
Usar os últimos meses do ano como planejamento é uma das estratégias mais eficazes para iniciar 2026 com clareza, estabilidade e capacidade de tomada de decisão. Revisar dívidas, reorganizar investimentos, definir metas viáveis e racionalizar gastos são passos que ajudam a construir segurança financeira e reduzir riscos em momentos de incerteza econômica.
Decisões devem ser analisadas dentro de um projeto maior, que considere renda futura, estabilidade profissional, reservas de emergência e projeções inflacionárias. Em um país no qual quase metade da população não possui reserva financeira, o planejamento deixa de ser opcional e se torna uma ferramenta para aproveitar oportunidades e enfrentar desafios com mais tranquilidade.
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