Rua Marechal Deodoro centro de Feira de Santana -comércio
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

O município de Feira de Santana aparece em um estudo sobre a incidência do crime de racismo na Bahia, elaborado pelo Instituto de Segurança Pública, Estatística e Pesquisa Criminal (ISPE).

O estudo, denominado Quando a cor da pele define o alvo – Racismo, território e desafios para a sociedade baiana (2022–2024), foi apresentado nesta quarta-feira (19), em um evento promovido pela Polícia Civil, no Museu Eugênio Teixeira Leal, no Centro Histórico de Salvador, alusivo ao Dia Nacional da Consciência Negra (20 de Novembro).

estudo sobre crimes de racismo na BA
Fonte: ISPE

Conforme o relatório, Feira de Santana concentra 5% dos registros de crimes de racismo no estado, enquanto em Salvador (capital brasileira com o maior percentual de população negra, com mais de 83% dos seus habitantes se autodeclarando pretos ou pardos) está concentrada a maior parte das ocorrências, com 30,6%.

O relatório mostra ainda que cinco dos 32 municípios com maior número de registros pertencem à Região Metropolitana de Salvador.

O estudo mostra que as ocorrências em Salvador ocorrem com mais frequência nos finais de semana (29% dos casos), e em residências, trabalho e escola. Os casos estão mais concentradas nos bairros centrais e de classe média alta, áreas caracterizadas por grande circulação de pessoas e presença de espaços comerciais e de serviços.

estudo sobre crimes de racismo na BA
Fonte: ISPE

Os dados indicam que 32,3% dos casos registrados na capital se concentram em quatro bairros:

  • Caminho das Árvores – 9,6% dos registros
  • Pituba – 7,8%
  • Itapuã – 7,8%
  • Barra – 7,1%

A análise destaca que esses episódios estão relacionados ao que o estudo denomina racismo territorializado, conceito que associa a ocorrência dos casos a fatores como: circulação em locais de alta renda; convivência entre grupos sociais distintos; contrastes de status, poder e pertencimento racial.

O levantamento sugere que esses ambientes, onde diferentes classes sociais se encontram, podem intensificar situações em que práticas discriminatórias se manifestam.

estudo sobre crimes de racismo na BA
Fonte: ISPE

De acordo com a assessoria de comunicação da Polícia Civil, o documento reúne dados coletados e analisa cerca de 4,5 mil ocorrências relacionadas ao racismo na Bahia.

Ainda segundo a SSP, o relatório examina a evolução dos crimes de racismo e injúria racial na Bahia entre 2022 e 2024, com base nos boletins de ocorrência registrados nas unidades da Polícia Civil do Estado da Bahia.

O mapeamento revela também a presença de casos em municípios do Litoral Sul e Extremo Sul, como Ilhéus, Itabuna e Porto Seguro. As ocorrências estão distribuídas de forma desigual pelo território, com maior volume em áreas de maior urbanização e circulação de pessoas.

Os dados ao qual o portal Acorda Cidade teve acesso, mostra ainda que, além da distribuição geográfica, o estudo aponta que o racismo na Bahia permanece como expressão da desigualdade social e das estruturas históricas de poder, configurando um fenômeno estrutural e persistente, presente nas relações sociais e institucionais.

Os dados mostram que os registros aumentaram no período analisado, resultado de um conjunto de fatores.

Entre as possíveis explicações para esse crescimento está tanto a maior conscientização da população quanto o aumento da confiança na denúncia, ao mesmo tempo em que se observam a continuidade de práticas discriminatórias naturalizadas.

O levantamento também destaca que mulheres negras seguem como o principal grupo afetado, reforçando a interseção entre raça e gênero na incidência das ocorrências. Já em relação aos autores, a maioria são mulheres (58,5%). No que se refere à idade e cor da pele, eles têm entre 30 e 50 anos, pardos e brancos.

O relatório “Quando a cor da pele define o alvo – Racismo, território e desafios para a sociedade baiana (2022–2024)” foi apresentado pelo responsável estatístico do ISPE, Evaldo Simões.

Conforme destacou a Polícia Civil, além de reforçar o compromisso com a transparência nas análises estatísticas produzidas institucionalmente, o estudo busca oferecer informações necessárias à tomada de decisões estratégicas pelos órgãos gestores e contribuir para o debate e a reflexão sobre os impactos dessa temática na sociedade.

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