
A Bahia é o estado do Nordeste com o maior número de casos de violência contra mulheres. O dado, que reflete um cenário alarmante e persistente, foi um dos temas centrais da coletiva de imprensa que marca o início da campanha “Sem Medo – Pela não violência contra meninas e mulheres”. O lançamento aconteceu nesta quarta-feira (19), na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs).

A campanha tem proporção mundial e é aderida no Brasil com objetivo de promover a conscientização na comunidade e levar informação às mulheres vítimas de violência. Em Feira de Santana, a iniciativa é do Movimento de Organização Comunitária (MOC).
Em entrevista ao Acorda Cidade, a coordenadora do evento, Selma Glória de Jesus, explicou que serão 21 dias de atividades intensas, envolvendo todas as organizações parceiras do MOC.

“Já é o 15º ano que o MOC lança a campanha e convoca todas as organizações. A gente começa no 20 de novembro, que é o Dia da Consciência Negra, estamos antecipando hoje porque amanhã é feriado, e vai até 10 de dezembro que é o Dia Universal dos Direitos Humanos”, destaca Selma.
O tema “Sem Medo” vem da perspectiva de que para denunciar, as mulheres precisam ser encorajadas e acolhidas, e a sociedade, bem como os equipamentos públicos e forças de segurança precisam atuar nesta rede de proteção.
“A gente precisa, de uma certa forma, ajudar as mulheres a se encorajar. Porque não basta ter os equipamentos, não basta ter o disque denúncia, se as mulheres não são encorajadas e se elas não são apoiadas.”

“‘Sem Medo’ convocando para que as mulheres assumam esse protagonismo. E aí tem um ditado de Margarida Alves que ela diz “Medo nós tem, mas não usa”. Então, mesmo com medo, como enfrentar e superar todas as formas de violência contra meninas e mulheres.”
É necessário a compreensão de que toda mulher ou menina, pode acabar vivenciando uma situação de violência, mas existem atualmente perfis mais suscetíveis e atingidos pelos índices.
“Segundo os dados do Mapa da Violência, do IPEA, também são várias fontes de dados que nos mostram e comprovam, que as mulheres negras e as mulheres pobres são as principais vítimas de violência e do feminicídio. Portanto, esse perfil tanto é de mulheres, quanto também é de meninas, porque meninas de 0 a 14 anos, elas são as principais vítimas de violência sexual.”

No topo do ranking estão, respectivamente a violência psicológica, física e sexual, mas estas não são as únicas. A violência patrimonial e moral também faz parte da realidade de várias brasileiras.
Para fortalecer o combate, o MOC tem buscado as instituições de aporte para incentivar melhores planos de ação envolvendo jurídico, psicológico, entre outros.
“O que nós estamos fazendo constantemente é o diálogo com o poder público para melhorar os equipamentos de atenção, como o Centro de Referência, Casa abrigo, Deam, a Ronda Maria da Penha. Então são esses equipamentos que a gente puxa para o diálogo para melhorar a sua atuação na proteção às mulheres”, conta.

Esteve presente no lançamento, a comunicadora social, Roseli Carvalho. Ela é natural de Salvador, e lançou um livro de reportagens narrativas que documenta e preserva as histórias de vida de oito Griôs Sisaleiros da Comunidade Rose em Santaluz (BA). Os Griôs são contadores de histórias, figuras fundamentais na manutenção e transmissão dos saberes ancestrais.
A campanha do MOC para ela é mais uma forma de fazer história, ouvindo, e incentivando a mudança da cultura do machismo que traz consigo uma histórico de violência. Em sua trajetória de pesquisas e oitivas, ela relata que é muito comum encontrar relatos de ciclos repetidos da violência.

“Precisamos combater a todo momento esses crimes contra a vida, contra a mulher em vários aspectos. Eu penso que esse evento é muito importante para debater essas pautas no geral. São vários relatos e principalmente a violência psicológica, porque não é só a violência física”, pontua.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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