
A declaração do vereador de Feira de Santana, Edvaldo Lima (União Brasil), que classificou a lei que transformou o Dia da Consciência Negra em feriado nacional como um ato de racismo, repercutiu negativamente entre movimentos sociais. Grupos ligados ao movimento negro na cidade manifestaram-se repudiando veementemente as declarações do parlamentar.
Sem surpresas
Em entrevista ao Acorda Cidade, a ativista, pedagoga e mestre em Educação, Hely Pedreira, que tem forte atuação no movimento de mulheres negras, classificou a fala do parlamentar como uma atitude lamentável e que se torna ainda mais problemática em um contexto onde os interesses comerciais estão sendo colocados acima das lutas sociais.

“É lamentável, porém não me surpreende, pois a postura infeliz tem sido recorrente em inúmeras situações que dizem respeito à questão negra em nosso município. Infelizmente, essa postura só alimenta a tentativa de apagamento e desqualificação das lutas e conquistas do povo negro, pois, caso o ‘nobre’ não tenha conhecimento, o feriado é o atendimento de uma reivindicação dos Movimentos Negros Organizados, não é nenhum presente dado”, disse Hely Pedreira.
Homofobia e racismo
A reportagem do Acorda Cidade também ouviu a agente de cultura Marinalda Soares, que é coordenadora do núcleo em Feira de Santana da Rede Nacional de Mulheres Negras no Combate à Violência. Para ela, a fala se torna ainda mais grave por ter sido feita por um agente público, com mandato em exercício, que se autodeclara pertencente ao grupo negro.

“Um negro que carrega dentro de si homofobia e racismo. Eu falo que ele tem raiva do povo preto. Eu não sei por que tantas falas desmerecedoras para o nosso povo, porque um edil como ele, uma pessoa, um vereador, chega a fazer uma fala dessa, dizer que não deveria ter o feriado do 20 de novembro para o povo preto e o povo branco que tinha que trabalhar. Ele não sabe o que está falando”, disse Marinalda.
Interesses do comércio
Durante as entrevistas, as duas militantes fizeram questão de analisar a fala do vereador sob a ótica dos interesses comerciais. Edvaldo Lima fez o comentário sobre a lei em resposta à fala do colega Sílvio Dias, que criticou a autorização para o comércio de Feira de Santana funcionar no dia 20 de novembro. As duas ativistas também analisaram esse aspecto.

“A abertura do comércio desrespeitando a legislação federal é prova da tentativa de desqualificação de uma causa que é tão relevante para a população negra, visto que um quantitativo significativo está no comércio e precisa alimentar o capitalismo com sua força de trabalho, mas não pode vivenciar o momento de reflexão sobre a própria existência ante uma sociedade racista”, declarou Hely Pedreira.
“Esse feriado é por reparação histórica. Quanto nós lutamos para que esse dia acontecesse? E quando a gente consegue, vêm esses edis, que não têm comprometimento com a nossa cultura e com a nossa raça, e falam uma asneira dessas. Quando eu soube que aqui em Feira o comércio iria estar funcionando, desde ontem que eu estou num estado de nervos, porque isso não pode acontecer. Não era para ter acontecido, e a gente vai dar resposta nas ruas e nas nossas redes sociais”, complementou Marinalda.
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Com informações da jornalista Jaqueline Ferreira do Acorda Cidade
Reportagem escrita pelo estagiário de jornalismo Jefferson Araújo sob supervisão do jornalista Gabriel Gonçalves
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