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Edvaldo Lima, vereador | Foto: Paulo José/Acorda Cidade

A declaração do vereador de Feira de Santana, Edvaldo Lima (União Brasil), que classificou a lei que transformou o Dia da Consciência Negra em feriado nacional como um ato de racismo, repercutiu negativamente entre movimentos sociais. Grupos ligados ao movimento negro na cidade manifestaram-se repudiando veementemente as declarações do parlamentar.

Sem surpresas

Em entrevista ao Acorda Cidade, a ativista, pedagoga e mestre em Educação, Hely Pedreira, que tem forte atuação no movimento de mulheres negras, classificou a fala do parlamentar como uma atitude lamentável e que se torna ainda mais problemática em um contexto onde os interesses comerciais estão sendo colocados acima das lutas sociais.

Hely Pedreira | Foto: Jaqueline Ferreira/Acorda Cidade

“É lamentável, porém não me surpreende, pois a postura infeliz tem sido recorrente em inúmeras situações que dizem respeito à questão negra em nosso município. Infelizmente, essa postura só alimenta a tentativa de apagamento e desqualificação das lutas e conquistas do povo negro, pois, caso o ‘nobre’ não tenha conhecimento, o feriado é o atendimento de uma reivindicação dos Movimentos Negros Organizados, não é nenhum presente dado”, disse Hely Pedreira.

Homofobia e racismo

A reportagem do Acorda Cidade também ouviu a agente de cultura Marinalda Soares, que é coordenadora do núcleo em Feira de Santana da Rede Nacional de Mulheres Negras no Combate à Violência. Para ela, a fala se torna ainda mais grave por ter sido feita por um agente público, com mandato em exercício, que se autodeclara pertencente ao grupo negro.

Marinalda Soares
Marinalda Soares | Foto: Arquivo Pessoal

“Um negro que carrega dentro de si homofobia e racismo. Eu falo que ele tem raiva do povo preto. Eu não sei por que tantas falas desmerecedoras para o nosso povo, porque um edil como ele, uma pessoa, um vereador, chega a fazer uma fala dessa, dizer que não deveria ter o feriado do 20 de novembro para o povo preto e o povo branco que tinha que trabalhar. Ele não sabe o que está falando”, disse Marinalda.

Interesses do comércio

Durante as entrevistas, as duas militantes fizeram questão de analisar a fala do vereador sob a ótica dos interesses comerciais. Edvaldo Lima fez o comentário sobre a lei em resposta à fala do colega Sílvio Dias, que criticou a autorização para o comércio de Feira de Santana funcionar no dia 20 de novembro. As duas ativistas também analisaram esse aspecto.

Comércio de Feira de Santana/Centro
Foto: Jefferson Araújo / Acorda Cidade

A abertura do comércio desrespeitando a legislação federal é prova da tentativa de desqualificação de uma causa que é tão relevante para a população negra, visto que um quantitativo significativo está no comércio e precisa alimentar o capitalismo com sua força de trabalho, mas não pode vivenciar o momento de reflexão sobre a própria existência ante uma sociedade racista”, declarou Hely Pedreira.

“Esse feriado é por reparação histórica. Quanto nós lutamos para que esse dia acontecesse? E quando a gente consegue, vêm esses edis, que não têm comprometimento com a nossa cultura e com a nossa raça, e falam uma asneira dessas. Quando eu soube que aqui em Feira o comércio iria estar funcionando, desde ontem que eu estou num estado de nervos, porque isso não pode acontecer. Não era para ter acontecido, e a gente vai dar resposta nas ruas e nas nossas redes sociais”, complementou Marinalda.

Leia também: Vereador de Feira de Santana diz que dar folga a trabalhadores no Dia da Consciência Negra é racismo

Com informações da jornalista Jaqueline Ferreira do Acorda Cidade

Reportagem escrita pelo estagiário de jornalismo Jefferson Araújo sob supervisão do jornalista Gabriel Gonçalves

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