Foto: Divulgação
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Com base no relatório apresentado pelos pesquisadores da empresa Arqueólogos Consultoria LTDA, que confirma a localização exata do antigo Cemitério do Campo da Pólvora, no estacionamento do Complexo da Pupileira, em Salvador, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN ) homologou o cadastramento do Sítio Arqueológico Cemitério dos Africanos, em Salvador, possivelmente um dos maiores da América Latina. O processo SEI está disponível para consulta pública no site do instituto. Com este reconhecimento e a proteção prevista, os pesquisadores aguardam desocupação da área para continuidade das pesquisas e criação de um centro de memória no local.

A apresentação oficial dos resultados finais do estudo arqueológico foi  realizada na última terça-feira (21), quando foram detalhadas todas as etapas da pesquisa, desde a escuta social, as reuniões mediadas pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MP), a interação com os grupos sociais, principalmente por meio do ato inter religioso, a cadeia operatória do trabalho arqueológico desenvolvido e os resultados obtidos a partir do trabalho de campo e análise do material coletado. A reunião  contou com a participação dos interessados nos processos: a arqueóloga, antropóloga e coordenadora do projeto arqueológico, Jeanne Dias; o professor Dr. Samuel Vida, a doutoranda em urbanismo Silvana Olivieri; e  de representantes do IPHAN, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), da Santa Casa de Misericórdia, que administra o Complexo da Pupileira e proprietária do terreno, do Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA), entre eles os procuradores Dr. Alan Cedraz, Dra. Cristina Seixas e Dra. Lívia Vaz.

“Não foi realizada a exumação de nenhum dos indivíduos, porque não haveria coleta nem deslocamento desses remanescentes osteológicos, porém em meio aos sedimentos, alguns materiais ósseos humanos vieram na peneira e esse material foi coletado, já que não teríamos como devolver ao local exato de origem.  Esse material seguiu para o laboratório para ser melhor analisado. Temos uma coleção de 224 peças, sendo que dessas, 100 eram fragmentos ósseos humanos  pertencentes, pelo menos, a dois indivíduos”, detalha a arqueóloga Jeanne Dias. 

A ocupação densa, observada pelos pesquisadores em um pequeno espaço de, aproximadamente, 1,5 m2, a cerca de 3m de profundidade, foi fator determinante para confirmar a localização do antigo Cemitério Campo da Pólvora. Local onde cerca de cem mil indivíduos foram aterrados ao longo de cento e setenta anos. Entre eles, pessoas que viviam à margem da sociedade, como pobres, indigentes, não-batizados, excomungados, suicidas, prostitutas, criminosos, escravizados e insurgentes, como os líderes da Revolta dos Malês. 

Por se tratar de um campo santo e uma área de relevância histórica, com aspectos sensíveis envolvidos, os pesquisadores recomendam a continuidade do processo de escuta da sociedade, a continuidade da pesquisa arqueológica na área e a criação de um espaço reservado memória das pessoas ali enterradas, no local, aberto ao acesso público. O parecer do IPHAN também recomenda o isolamento e desocupação da área onde hoje funciona o estacionamento frontal do Complexo da Pupileira. Decisão que será endossada pelo  MP.

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