
Nesta sexta-feira (24), foi realizada, em Feira de Santana, a 28ª Reunião Extraordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu, com o objetivo de debater o Projeto Canal do Sertão Baiano e discutir questões relacionadas à escassez e à gestão hídrica da sub-bacia do Rio Jacuípe. O evento, promovido pelo grupo Canal do Sertão em parceria com os comitês do Paraguaçu e do Jacuípe, reuniu prefeitos, secretários municipais, técnicos ambientais e representantes dos governos estadual e federal.

A pauta incluiu atualizações sobre o andamento das obras do Canal do Sertão, que foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pelo governo federal. O projeto prevê a transposição das águas do Rio São Francisco, captadas no Lago de Sobradinho, na bacia do Salitre, até a barragem João Durval Carneiro, de onde a água seguirá por gravidade até Feira de Santana, utilizando o Rio Jacuípe como via natural. Embora recursos já tenham sido destinados, a obra ainda se encontra em fase inicial de estudos. O encontro buscou mobilizar o apoio da sociedade, das prefeituras e da imprensa para garantir a continuidade do projeto e enfrentar a crise hídrica que atinge o semiárido baiano, marcada pelos baixos níveis das barragens do França (17%) e de São José do Jacuípe (8,59%).
A expectativa é que, com a conclusão dos estudos e a inclusão no PAC, o projeto avance para as fases de licitação e execução, garantindo segurança hídrica, desenvolvimento rural e sustentabilidade para dezenas de cidades do semiárido baiano.

O prefeito José Ronaldo de Carvalho, anfitrião do evento, destacou a importância da mobilização política que reuniu várias lideranças. “Eu espero que desse encontro saiam frutos. O objetivo dos prefeitos aqui é alertar, solicitar e cobrar a realização de uma obra de grande importância. É uma obra que exige muitos recursos, mas pode ser executada aos poucos: faz-se 20%, depois mais 20%, e assim sucessivamente. Porque, se ficar parado, não vai acontecer nunca”, afirmou.

A prefeita de Mundo Novo, Ana Paula Costa, reforçou a urgência da construção do canal diante da escassez de água no município. Segundo ela, a barragem do França opera com capacidade mínima e grande parte da população depende de carros-pipa, água de chuva e poços artesianos, muitos deles com água salobra.

“Esse canal é importante porque a gente já está sofrendo com a barragem do França operando no limite mínimo. A maioria do município depende de carro-pipa, água da chuva e poços artesianos, e boa parte desses poços fornece água salgada. O povo de Mundo Novo precisa muito que esse Canal do Sertão chegue à população, porque é uma saída para essa crise hídrica, além de contribuir para o desenvolvimento rural e a sustentabilidade. Vai ajudar a pecuária e a agricultura”, afirmou.

A prefeita explicou ainda que o abastecimento de água no município é feito majoritariamente pela administração local. “A zona rural é totalmente desprovida de água, em sua maior parte”, completou.
O diretor de Monitoramento Ambiental e Recursos Hídricos do Inema, Antônio Martins, reforçou que, antes de ser desenvolvimento, a água é vida, essencial à sobrevivência humana e destacou a relevância do encontro para o semiárido baiano.

“É importantíssimo não só para o Paraguaçu e a sub-bacia do Jacuípe, mas também para o Salitre e parte do Itapicuru. É algo fundamental para o semiárido baiano. Os agricultores, pequenos assentamentos e até os produtores de médio e grande porte precisam ter acesso a essas informações. Este é o momento ideal: uma plenária do Parlamento das Águas, onde os representantes do comitê participam de forma inclusiva e compreendem melhor o andamento do projeto, as próximas etapas e o impacto que ele trará para toda a região”, afirmou.

Para a secretária municipal do Meio Ambiente de Feira de Santana, Jaciara Costa, o projeto representa um marco para o estado. “Imagine Feira de Santana recepcionando essas águas, para nós é muito bem-vinda. Quanto mais água limpa, de um rio como o São Francisco, melhor. É muito importante para que possamos fazer essa distribuição de forma equânime e atender a nossa comunidade”, afirmou.
Já o ambientalista João Dias explicou que, embora o canal não chegue diretamente a Feira de Santana, seus efeitos serão sentidos na região, principalmente no desenvolvimento local. “Essa será uma das maiores obras da história da Bahia porque, além de levar água para grande parte do semiárido baiano, vai perenizar mais de 100 quilômetros do Rio Jacuípe. Isso vai favorecer a agricultura, a pecuária, os esportes aquáticos, inclusive a pesca esportiva e artesanal, e o turismo”, disse.

O ambientalista informou ainda que haverá uma divisão de responsabilidades entre o Estado e os municípios no custeio da manutenção do canal, com o pagamento de taxas e contribuições que garantam o funcionamento do sistema e o acesso à água pelas comunidades. Segundo ele, a Bahia é o estado que mais contribui para a formação das águas do Rio São Francisco, cerca de 30% do volume total provém de rios baianos, como o Rio Preto, o Rio Grande e o Rio Corrente. Dessa forma, a retirada de uma pequena vazão para o canal não causará prejuízos ao São Francisco. João Dias também destacou a necessidade de recuperar as nascentes do Rio Jacuípe, reduzir a poluição por esgoto e fortalecer a preservação ambiental com a participação dos governos e da sociedade civil.
O engenheiro civil e ex-prefeito de Várzea da Roça, Wilson Mascarenhas, integrante do Comitê Gestor da Bacia do Rio Paraguaçu, detalhou o estágio atual do projeto.

“Existem hoje 22 quilômetros de canais já construídos, que atendem ao projeto de irrigação do Salitre, com três estações elevatórias. No momento em que estamos aqui conversando, o governo federal acaba de licitar 10 quilômetros na direção de um reservatório chamado RC-800. Deste reservatório, teremos 307 quilômetros de canal por gravidade, sem gastar um centavo de energia, atingindo a barragem de São José do Jacuípe, um reservatório de 357 milhões de metros cúbicos, localizado no centro do estado, e que atualmente se encontra com apenas 8% de sua capacidade. É um projeto de grandiosidade infinita, que atende à independência hídrica de 45 municípios”, explicou.
Mascarenhas destacou que o maior desafio é garantir os recursos financeiros para a continuidade do projeto e conclamou a união da classe política baiana, independentemente de ideologias, em defesa dessa obra essencial para o semiárido.
O prefeito de Capim Grosso, Sivaldo Rios, representou os consórcios públicos do Estado da Bahia. Ele falou sobre a importância das irrigações em longos períodos de seca.

“Eu represento também o consórcio público da Bacia do Jacuípe, e fomos tratar exatamente dessa pauta. A transposição do Canal do Sertão é uma das prioridades do nosso território. A água transforma vidas, tanto para o consumo humano quanto para a irrigação e o consumo animal. É a maior indústria que se pode proporcionar às nossas regiões: a irrigação. Basta ver o que aconteceu em Juazeiro, na região de Irecê, em Pernambuco, a transformação veio através da irrigação”, afirmou.
O membro titular do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu, Evilásio Fraga, destacou a importância técnica e econômica do empreendimento. “É uma obra de extrema relevância para o semiárido baiano, com atenção especial para a região do Rio Jacuípe, onde a oferta hídrica é negativa ou seja, há mais demanda de água do que disponibilidade para a população”, afirmou.

Ele lembrou que o projeto vem sendo discutido há anos e, em 2022, os estudos foram retomados. A estimativa é que a obra ultrapasse R$ 5 bilhões.
Evilásio também detalhou o percurso do canal: “A captação da água para a transposição começa no final do canal de irrigação da região do Salitre, em Juazeiro. Já existe um canal, e o governo está concluindo a segunda etapa. A partir desse ponto, onde termina o canal do perímetro irrigado, será instalada a estação de bombeamento. A água será elevada a 150 metros e depois descerá em direção à região do Jacuípe e a outras duas bacias hidrográficas da Bahia.”
“O canal vai sair da bacia do Salitre e, quando chegar a São José do Jacuípe, vai encher a barragem local. A partir daí, a água descerá por São José do Jacuípe, Gavião, Nova Fátima, Riachão, passando pelos territórios de Candeal, Anguera e Serra Preta, até chegar aos distritos de Feira de Santana, como Jaguara, o maior deles, além de beneficiar parte de João Durval Carneiro e Maria Quitéria”, acrescentou João Dias.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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