Mais uma edição do Afro Conecta acontece nos dias 7 e 8 de novembro em Feira de Santana. O evento é uma iniciativa que partiu do Frei Cal em parceria com a radialista Lourdes Rocha e com apoio da Rádio Sociedade News e Princesa FM. O propósito é dialogar sobre o racismo e seus efeitos sociais.
Na sexta-feira (7), o evento acontece das 18h às 22h, no sábado (8) as atividades vão das 8h Às 14h. O acesso é gratuito, mas os participantes podem também contribuir doando 2 kg de alimentos não perecíveis.
Com o tema: Diálogo Cultural, esta edição chega fortalecendo o movimento de letramento antirracista. Em entrevista ao vivo no Programa Acorda Cidade, Frei Cal explicou como surgiu e a importância do evento para a comunidade.
“Nós começamos ano passado, é um evento que a gente idealizou para que acontecesse no mês de novembro, que é o mês voltado para o mês da Consciência Negra. Então o Afro Conecta é um projeto voltado justamente para a questão da cultura racial, mas lógico que é aberto e com a participação de toda a sociedade”, explicou.
Frei Cal comenta que dialogar sobre o tema é uma das formas de disseminar a atuação ativa contra o racismo, e o Afro Conecta nasce com essa proposta. Ele explica que ao mesmo tempo, o evento aproveita para comemorar as vitórias e tudo aquilo que vem sendo construído ao longo do tempo pelos movimentos negros que existem no Brasil.
“O desafio maior continua sendo, quer queira, quer não, a prática ainda do racismo, institucionalizado, aberto, escancarado, como sempre foi. E o país foi formado à base do racismo. A nossa sociedade brasileira foi forjada em cima do racismo, de considerar um povo inferior por conta da cor da pele. Consequentemente vieram outras situações que a gente chama hoje de desigualdade social”, destacou.
“Depois de 1888 que oficialmente estavam livres, mas livre para ir para onde? Livre para morar onde? Livre para estudar onde? Livre para trabalhar onde? Não, não teve acesso a nada. Isso se deu por conta da cor da pele”, disse.
As vitórias conquistadas, ainda são enfrentadas com luta de modo geral. Durante a entrevista, Frei Cal exemplificou situações que aos olhos desatentos parecem mínimas, mas que têm um peso maior para a população negra.
“As cotas foi resultado justamente dessa luta do movimento negro, não para que ela fique e permaneça a vida toda. Porque nas faculdades públicas os negros não tinham acesso. Quem é que estudava nas faculdades federais? As pessoas de condição financeira, consequentemente a elite, e essa elite é branca. Não que a gente tá falando aqui da pessoa branca, tá falando de uma estrutura”.
No mercado de trabalho, fatores estruturais contribuíram para a manutenção de vantagens historicamente associadas à população branca. Ao longo do tempo vem acontecendo a conquista desses espaços, mas a educação antirracista ainda se faz completamente necessária para eliminar o caráter racista de todos os âmbitos.
“Outras conquistas dentro do âmbito também do trabalho, as pessoas exigiam na nas empresas e ainda deve exigir, a ‘boa aparência’. E essa boa aparência sobrava para quem?! Então isso vai desaparecendo de acordo com a sociedade discutindo”, comentou.
O Afro Conecta vem para lembrar a sociedade que a luta antirracista é um papel que todos precisam assumir para construir uma sociedade igualitária e justa.
“Todos nós somos chamados a estarmos juntos. E o movimento negro faz esse convite, as pessoas todas têm que entrar nesse processo de luta. Não pode dizer: “Ah, aquilo ali é o movimento dos negros, eu não vou lá colaborar”. Não. Porque se a sociedade brasileira supera isso, o país melhora. Pode ter certeza disso que é uma questão de de inteligência e nós somos ainda, infelizmente, é uma sociedade que não tá tão inteligente suficientemente para poder superar justamente isso”, declarou.
Uma das importantes participações no evento será a promotora de justiça, Dra. Lívia Sant’ana Vaz (MPBA), referência nacional na defesa dos direitos humanos e da equidade racial que levará a palestra “Racismo: mostra a tua cara”.
21 personalidades da luta negra serão homenageadas, entre elas Chica do Pandeiro, Maria Parteira e Nilton Rasta (in memoriam), nomes que integram a história de Feira de Santana. Além de palestras e homenagens, mais de 20 expositores de produtos diversos estarão no local.
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