Laiane Cruz
Entrevista
Diretora do Hospital da Mulher explica falta de leitos para gestantes na unidade
Segundo Gilberte, o hospital não tem condições de atender a demanda, uma vez que, atualmente, a unidade dá suporte no atendimento a pacientes de Feira de Santana e diversos municÃpios baianos
Diretora do Hospital da Mulher explica falta de leitos para gestantes na unidade
Diretora do Hospital da Mulher explica falta de leitos para gestantes na unidade
Diretora do Hospital da Mulher explica falta de leitos para gestantes na unidade
Diretora do Hospital da Mulher explica falta de leitos para gestantes na unidade
A presidente da Fundação Hospitalar Inácia Pinta dos Santos, Gilberte Lucas, que administra o Hospital da Mulher e o Hospital Municipal da Criança, esteve no Acorda Cidade na manhã desta quarta-feira (26) para explicar as razões que levam uma gestante a enfrentar dificuldades para encontrar vagas seja para uma avaliação médica, seja para realizar o trabalho de parto. Segundo Gilberte, o hospital não tem condições de atender a demanda, uma vez que, atualmente, a unidade dá suporte no atendimento a pacientes de Feira de Santana e diversos municípios baianos, pactuados e não pactuados.
Acorda Cidade– O que está acontecendo com o atendimento às gestantes em Feira de Santana?
Gilberte Lucas- É importante a gente salientar que o Hospital da Mulher é uma unidade de referência para alguns municípios que são pactuados e Feira de Santana, mas que acabou nos últimos anos se transformando em uma unidade que está atendendo praticamente a Bahia inteira. A gente fez um levantamento, e em 2012 foram 3.099 gestantes que pariram no Hospital da Mulher. Já em 2013, esse número subiu para 5.672 gestantes que deram entrada e tiveram neném, porque também existem aquelas avaliações na emergência, que é quando a mulher sente uma dor, mas não está no momento de parir, ela só é medicada e retorna para casa. Nesse comparativo, em 2012, foram 12. 169 avaliações na emergência. Já em 2013, esse dado aumentou para 18.486 atendimentos. Na média são 80 a 90 gestantes avaliadas por dia, e dessas, de 20 a 30 são internadas para ter neném. E quando se trata da questão de obstetrícia o hospital não só tem que ter leito para a mãe, também tem que ter para a criança, principalmente quando é um caso prematuro. Isso é um problema grande não só de Feira de Santana ou da Bahia, eu acho que é do Brasil inteiro, os leitos de UTI neonatal. Em 2012, nasceram 264 crianças prematuras. Em 2013, foram 458 recém-nascidos. Em 2014, em janeiro e fevereiro, o hospital 3. 016 avaliações na emergência, dessas 1.107 foram partos, desses últimos 30% foram de outros municípios.
AC- Quais são os investimentos que a Fundação tem feito no Hospital da Mulher?
Gilberte- A questão da demanda acaba aumentando a o problema interno da unidade, e isso acaba criando um atrito pra gente. O hospital da Mulher tem hoje 64 leitos de obstetrícia, sendo 8 leitos de UTI neonatal e sete leitos de berçário de médio risco. E às vezes, a mulher tem alta mais a criança não. Tem crianças que ficam de 30 até 60 dias internada na UTI e no berçário, e a gente tem os leitos de mãe-canguru, todo um procedimento dentro da instituição. Obstetrícia não é simplesmente o Centro Cirúrgico (CO) para operar e o leito da mãe. Existe toda uma estrutura que a gente tem que trabalhar e tem que ser adequada para este tipo de segmento. Quando a gente assumiu logo a gestão do Hospital da Mulher, vimos que no centro obstétrico só estava funcionando o C.O, e existiam duas salas de cirurgia sem funcionar. E hoje essas duas salas a gente já equipou. A gente comprou carrinho de anestesia, mesa cirúrgica, e outros materiais e isso foi um investimento de quase 300 mil reais.
AC– São quantos municípios pactuados? Só os pactuados estão mandando pacientes para Feira?
Gilberte – A gente 28 municípios pactuados. Mas como o Hospital da Mulher, a sua estrutura é porta aberta, a gente não um sistema ainda de regulação, acaba que municípios como Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus, alguns municípios pequenos da Chapada Diamantina, que não são pactuados e mandam pacientes. E municípios pactuados firmam um número de pacientes, mas acabam enviando o dobro. E eu não tenho como botar uma pessoa na frente do hospital encaminhando as ambulâncias de volta de municípios que não são pactuados. Mas a partir da regulação de leitos, os municípios só vão poder mandar os pacientes regulados e que tiverem o leito disponível. Isso é uma estrutura para ser montada, porque os municípios precisam se adequar a essa regulação.
AC– Quais são os hospitais hoje em Feira de Santana que atendem esses pacientes?
Gilberte- Hoje, em Feira de Santana, além do Hospital da Mulher, tem a Mater Day e o Hospital Geral Clériston, que é especializado em alto risco. Já os hospitais particulares não têm interesse em vender leitos para o Sistema Único de Saúde por causa do valor. Essa é a dificuldade hoje de credenciar essas unidades em relação a leitos do SUS para obstetrícia. Por exemplo, no Hospital da Mulher, 70% dos recursos é a prefeitura municipal de Feira que banca mensalmente, 30% é do SUS, e pelos recursos do SUS eu não conseguiria de hipótese alguma manter o Hospital da Mulher. A maioria dos municípios menores não tem recursos para manter um hospital.
AC- Fale um pouco do Hospital Municipal da Criança. Ele funciona?
Gilberte- O Hospital Municipal da Criança, na época em foi implantado tinha uma realidade. E após a instalação do Hospital Estadual da Criança, ao longo do tempo os atendimentos no local foram se reduzindo. O Hospital da Criança foi feito para internamento de criança e algumas especialidades de pacientes que já estão no Hospital da Mulher e encaminhados de policlínicas, mas não casos mais graves. Na época em que foi montada aquela estrutura estávamos pactuados com 48 leitos, hoje a gente atende o mínimo de 11 a 15 pacientes. Reduziu por causa da própria demanda. Mas hoje o ambulatório do hospital funciona muito bem com 11 especialidades, como hematologia pediátrica, cardiologia, neurologia pediátrica, e outras especialidades, que só no ano de 2013 teve uma estimativa de 4 mil atendimentos. Eu tenho criança que nasceu há dois anos e até hoje é acompanhada pelo Hospital da Criança, é um serviço que é inviável acabar.
AC- O Jorge Solla, que era o secretário de Saúde do estado, defendia que o município assumisse toda a área de obstetrícia, e que tirasse do Clériston Andrade. É isso mesmo?
Gilberte- Em princípio sim, era essa a ideia dele, mas eu não concordo, pois hoje o Hospital da Mulher não tem estrutura para receber alta complexidade. O custo é muito alto com UTI adulto e com outras especialidades. O que a gente vem buscando e quer credenciar é a Rede Cegonha, é a gente aumentar leitos de parto humanizado. A gente quer assumir a baixa e média complexidade. O parto humanizado é aquele em que a gente tem o apoio do obstetra e enfermeiras obstetras, e tem a equipe médica onde aquela paciente é aconselhada ao parto normal. A obstetrícia toda do estado não é responsabilidade do município. Eu acho que tem que ter forças aí de todas as partes.
AC- De que forma essa problemática da obstetrícia em Feira pode ser resolvida?
Gilberte– A gente está fazendo um estudo para ver como os leitos de parto humanizados podem ser aumentados, a viabilização da central de regulação, por que nisso aí a gente estará forçando que os municípios se adequem. Foi aprovada uma emenda parlamentar do senador João Durval no valor de 1 milhão e 700 mil reais em equipamentos para melhorar a nossa estrutura de atendimento.
Assuntos