Em Serra Preta, a música encontra um novo significado pelas mãos e pelo sonho de Nildo Neri, um apaixonado pelas sanfonas que não apenas trabalha com o conserto desses instrumentos, mas também transforma a vida de sua comunidade por meio de um projeto social que ensina música a crianças, jovens e adultos.
Nildo começou em sua profissão de forma curiosa. Aprendeu os segredos da afinação, reparo e conservação de sanfonas observando seu Téo, discípulo de Ioiô, considerado um grande mestre em Feira de Santana. “Os dois já partiram, mas fui vendo com meu tio, aprendendo, e daí comecei a trabalhar. São dois anos que atuo profissionalmente nessa área que gosto muito e com a qual hoje sobrevivo”, conta ele.
Nildo atua com a manutenção de sanfonas. Ele realiza o conserto, limpeza, fabricação de peças e afinação, atendendo à carência de profissionais desse ramo na região. Contudo, seu entusiasmo com os instrumentos musicais ultrapassou os limites de sua oficina quando decidiu colocar em prática um sonho antigo: um projeto social gratuito de ensino de música.
Um projeto que une gerações pela música
O projeto social de Nildo nasceu com o propósito de levar conhecimento musical e alegria às pessoas. A iniciativa funciona na sede da Associação Comunitária dos Moradores do Bravo, em Serra Preta. Tudo começou com uma conversa com a direção da associação, que cedeu o espaço para as atividades. Assim, a ideia saiu do papel, dando vida ao projeto, que atualmente, atende cerca de 25 alunos, de 6 a 56 anos.
“A música tem o poder de nos alegrar, e o mais gratificante é ver o impacto disso na vida dos alunos. Atendemos crianças, jovens, adultos e até crianças especiais, como autistas e pessoas com deficiência física, que estão aprendendo a tocar instrumentos como bateria”, relata Nildo com orgulho.
O projeto inclui aulas de sanfona, zabumba, triângulo, agogô, teclado, violão e bateria, todas gratuitas e conduzidas por um time de voluntários dedicados. Além de Nildo, que ensina sanfona, o projeto conta com Silas (teclado), Gabriel (bateria), Robério e Silas (violão). “A gente não está ganhando nada, somos todos voluntários, mas ver a alegria dos alunos vale tudo. Isso nos dá forças para continuar.”
Desafios e sonhos à frente
Por enquanto, o projeto se mantém com a ajuda da população e dos voluntários. “Não contamos com apoio de nenhum órgão público ou empresário. É tudo baseado na força de vontade”, explica Nildo. Para cobrir gastos essenciais, como a conta de energia do espaço, algumas famílias fazem pequenas doações de R$ 10, mas nem todos conseguem contribuir.
Outro desafio é a falta de instrumentos. Com apenas uma sanfona disponível, cedida por Nildo, o projeto não consegue atender mais alunos interessados neste instrumento. Da mesma forma, as aulas de teclado são limitadas devido à alta demanda. Ainda assim, quem tem o próprio instrumento é acolhido e pode participar.
“Nosso sonho é fortalecer esse projeto e comprar novos instrumentos para atender mais pessoas. Acredito que daqui sairão muitos talentos, verdadeiras revelações da música”, diz ele ao Acorda Cidade.
Momentos marcantes na trajetória
Ao longo de seu caminho, Nildo coleciona lembranças que emocionam e inspiram. Ele relembra com carinho a primeira vez que afinou uma sanfona: “Foi uma sensação muito boa, entender como funciona, como é o mecanismo dela. Outro momento especial foi o dia em que abri minha oficina. Aquilo foi uma bênção de Deus”, afirma.
No projeto social, uma das maiores emoções de Nildo foi a exibição de um documento sobre o trabalho desenvolvido por ele com a associação. “Foi muito emocionante ver que isso está dando certo. É um sentimento de que o que estamos fazendo não é em vão. É algo que me enche de felicidade.”
A força transformadora da música
Mais do que notas e acordes, a iniciativa conduzida por Nildo Neri expressa a força da arte como agente de transformação. O projeto oferece não apenas habilidades musicais, mas também oportunidade, inclusão e alegria. Com paixão e persistência, Nildo sonha em expandir seu impacto e tornar o projeto ainda maior. Suas ações, tanto na oficina de sanfonas quanto no projeto social, mostram que a música é mais do que um ofício: é um instrumento de esperança e um caminho para mudar realidades.
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