A qualidade do ar é hoje um dos maiores desafios de saúde pública do planeta. Estima-se que nove em cada dez pessoas no mundo respirem ar contaminado por poluentes, segundo a Organização Mundial da Saúde. Em Feira de Santana, o cenário não é diferente: o avanço da urbanização, o aumento do tráfego de veículos com alta emissão de micropartículas e as mudanças climáticas têm comprometido a pureza do ar e, com ela, a saúde respiratória da população. Foi para discutir esse tema urgente que a PneumoFeira – 20ª Jornada Feirense de Pneumologia, realizada neste sábado (4), no Hotel NH, reuniu profissionais e estudantes da área da saúde em torno do tema “O ar que eu respiro”.
Mais do que um evento científico, a PneumoFeira deste ano foi uma experiência de integração com o meio ambiente. A decoração viva, repleta de plantas, retornou aos jardins e ao horto após o encerramento. Os crachás eram biodegradáveis, com sementes que podem ser plantadas, e houve incentivo à adoção dos copos, também biodegradáveis, para uso de um por pessoa ao longo do dia. Esses foram alguns dos detalhes simbólicos que reforçaram o propósito da Jornada: pensar saúde respiratória de forma ampliada, incluindo o planeta como paciente.
Em sua fala de abertura, o presidente da Sociedade Feirense de Pneumologia, José Neto, destacou que “para além de um pulmão saudável, é preciso também garantir um ar saudável”. Ele lembrou que a degradação ambiental é consequência da ganância e do egoísmo humanos, e que a missão dos profissionais de saúde deve ir além dos consultórios, alcançando o cuidado com o planeta. “Cabe a nós compreender que nosso papel precisa abarcar o nosso maior paciente: a Terra”, afirmou.
Entre os destaques da programação, o professor e pesquisador Eddy Oliveira, doutor em genética e docente da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), abordou o tema “Qualidade do ar e mudanças climáticas na região de Feira de Santana”. Ele ressaltou a importância do monitoramento constante da qualidade do ar tanto em ambientes externos quanto internos, que, segundo pesquisas mostram, têm sido ainda mais prejudiciais à saúde da população.
“A qualidade do ar não é apenas uma exigência legal, é uma questão de saúde pública. Precisamos garantir conforto térmico, limpeza e monitoramento; não se trata só de higienizar o ar-condicionado, mas de compreender o impacto disso na qualidade de vida”, afirmou o pesquisador.
Debate ampliado
Outros temas também ampliaram o debate sobre a saúde pulmonar, entre eles nódulo pulmonar solitário, imunobiológicos em asma grave, câncer de pulmão e doenças pulmonares intersticiais. A programação contou ainda com palestras de referências como: Maria Enedina (Afya Paraíba), Antônio Wanderley, pioneiro em cirurgia torácica e endoscopia respiratória em Feira de Santana, Rúbia Campos (Colégio Brasileiro de Radiologia), Joana Pacheco, doutora em imunobiologia e Anna Paloma, doutora em saúde coletiva, que fez uma análise sobre as relações entre poluição, mudanças climáticas e o câncer de pulmão.
O evento também atraiu jovens estudantes da área da saúde, como Mariana Almeida, aluna de medicina, que destacou o impacto das discussões para a formação acadêmica: “As palestras foram muito atualizadas e mostraram novas tecnologias e formas de atuação. Para quem está começando, como eu, é inspirador ver como o conhecimento teórico se conecta com a prática e com o cuidado humano”, afirmou.
Celebrando duas décadas de existência, a PneumoFeira reafirma seu papel como espaço de aprendizado, troca e inspiração. “Este ano, mais do que nunca, o evento deixou uma mensagem clara: cuidar dos pulmões é também cuidar do planeta, porque o ar que respiramos é o mesmo que une e sustenta todas as formas de vida”, pontua José Neto.
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