Ao contrário dos demais mamíferos, o ser humano é o único que continua consumindo leite após a fase de amamentação. Esse hábito, que as vezes questionado por alguns, está diretamente ligado à nossa capacidade de adaptação alimentar. Segundo consenso técnico da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), o leite de vaca permanece como um dos alimentos mais relevantes do ponto de vista nutricional, e não há motivo para que seja retirado da dieta sem orientação profissional.
O nutricionista Ney Felipe explica que, ao longo da evolução, o organismo humano desenvolveu a capacidade de digerir a lactose, açúcar natural do leite, graças a alterações genéticas e adaptações da microbiota intestinal.
“Nosso corpo tende a se adaptar ao que comemos. A adaptação humana à digestão da lactose é um exemplo disso. Como acontece com outros animais, aprendemos a tirar proveito dos alimentos disponíveis para viver bem — e até a nossa microbiota intestinal muda conforme a dieta disponível. Foi assim com o leite: em populações que passaram a consumi-lo com frequência, algumas pessoas apresentavam uma alteração natural que mantinha ativa, mesmo na vida adulta, a lactase — a enzima que “quebra” a lactose, o açúcar do leite. Essas pessoas tiveram vantagem adaptativa, pois conseguiam aproveitar esse alimento como fonte de energia e proteínas.”, afirma.
Rico em cálcio, proteínas de alto valor biológico, vitaminas do complexo B e D, além de minerais essenciais, o leite é considerado seguro para a maioria dos adultos. “É o principal alimento fonte de cálcio da dieta dos brasileiros, fundamental para ossos e dentes, e ainda contribui para a manutenção da massa muscular. Estudos também apontam relação entre o consumo regular e a redução do risco de doenças crônicas, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, e até Alzheimer”, explica o nutricionista.
Uma dúvida recorrente está relacionada à sensação de desconforto ou distensão abdominal após o consumo. O especialista alerta que não é correto associar esses sintomas diretamente e exclusivamente ao leite.
“A distensão pode estar ligada a vários fatores, desde hábitos alimentares inadequados até ao consumo de outros alimentos fermentáveis, como feijões e outras leguminosas. O sintoma de distensão precisa ser investigado para que o diagnóstico adequado seja feito por um profissional capacitado. Mesmo nos casos de intolerância à lactose, muitas pessoas com esse diagnóstico conseguem tolerar pequenas quantidades de lactose, como o que há em um copo de leite (200 mL), que contém de 8 a 10 g de lactose. Em geral, até 12 g de lactose podem ser consumidos sem provocar sintomas. Além disso, hoje existem alternativas seguras, como os leites sem lactose, que mantêm o perfil nutricional. Excluir o leite da dieta sem diagnóstico pode causar deficiências importantes”, reforça.
Dados do National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos, mostram que o autodiagnóstico de intolerância à lactose e a exclusão desnecessária de lácteos já são considerados problemas de saúde pública. No Brasil, o consumo médio de cálcio entre adultos atinge apenas metade da recomendação diária, e dois terços dessa ingestão vêm justamente dos lácteos.
Versátil, o leite pode ser consumido puro, em bebidas como o café com leite e vitaminas, ou incorporado a receitas doces e salgadas. Para praticantes de atividade física, ainda oferece benefícios adicionais: contribui para hidratação e recuperação muscular após os exercícios, graças ao equilíbrio de água, eletrólitos e proteínas de alta qualidade.
“O leite continua sendo um grande aliado da saúde. O importante é buscar sempre orientação profissional e não se guiar apenas por modismos ou informações equivocadas”, conclui o nutricionista.
Sobre a ABLV – Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida é uma entidade sem fins lucrativos, de atuação nacional, que tem por objetivo desenvolver, preservar e valorizar o leite e seus derivados longa vida, bem como adotar normas e procedimentos positivos para o mercado.
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