“Fiz tudo com amor. Sem amor a gente não consegue nada. O amor transforma.” A frase ecoa como um testamento de vida do professor Reginaldo da Silva Santos, que após 33 anos de dedicação à rede municipal de ensino de Feira de Santana, encerra sua carreira na sala de aula da rede. Mas sua história não se despede: ela se multiplica em cada aluno, em cada comunidade e em cada sonho que ajudou a construir.
Desde o início, sua trajetória foi marcada pela coragem e pelo improviso criativo. Em 1991, ao fundar a Escola da Amizade, no Parque de Exposições, não havia estrutura, nem banheiro, nem mimeógrafo.
Havia apenas vontade. “Eu já cheguei a escrever no quadro com gesso porque não tinha giz”, lembra. Ainda assim, a escola floresceu. O cuidado com as crianças ia além do ensino. “Descobrimos que havia um apiário perto e os meninos viviam gripados.
Então resolvemos dar suco de acerola com mel. E assim a gente curava a gripe da garotada”. Essa atenção, que misturava pedagogia com afeto, fez da escola uma referência comunitária.
A comunidade se via dentro dela, ajudava a erguer paredes invisíveis de confiança, tiravam nota zero, porque estudar era um prazer”.
Uma vida de entrega
De Humildes ao Limoeiro, do Campo Limpo ao Novo Horizonte, Reginaldo esteve sempre onde havia desafio. Na Escola João Duarte Guimarães, enfrentou prédios deteriorados e uma comunidade carente de apoio. Com trabalho, fé e perseverança, transformou a escola em ponto de referência para a região. Já a Escola Mãe dos Humildes se tornou, para ele, um dos símbolos maiores de sua caminhada.
Licenciado em História (Uefs), em Pedagogia e Artes; pós-graduação em Métodos e Técnicas de Ensino; Supervisão Escolar, Inclusiva e Especial; Coordenação Pedagógica e Mestrado em Educação, Reginaldo é mais que professor. Ele é um militante da infância e da juventude. Defensor do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), desenvolveu projetos que colocavam os estudantes no centro do processo: protagonistas de seus direitos, autores de suas histórias. Ele começou na Escola da Amizade e terminou sua carreia na rede municipal na Escola Geraldo Dias de Souza, onde ministrou aulas nos últimos 7 anos.
O reconhecimento e a humildade
Foram muitas homenagens ao longo dos anos: Comenda Maria Quitéria, Comenda Áureo de Oliveira Filho, menção honrosa da Academia de Letras de Feira de Santana. Mas, para ele, os prêmios nunca foram pessoais. “Os prêmios não são meus, são da comunidade. Eu apenas representei o trabalho de todos”.
O amor como herança
Casado com a professora Sarah Ribeiro e pai de Vinícius e Melissa, Reginaldo nunca separou a vida pessoal da missão de educar. Tudo estava entrelaçado por uma palavra que sempre repetiu: amor. “Foi o amor que me trouxe até aqui. Se eu pudesse, faria tudo de novo”.
Sua inspiração veio da infância, primeiro nos ensinamentos da mãe, que o alfabetizou, depois nos gestos firmes e carinhosos da professora Maria Santana, a dona Zizi. “Foi ali que eu soube que queria ser professor”, recorda, emocionado.
Eternidade em versos
O legado de Reginaldo já foi transformado em poesia. A poeta feirense Alice Moraes narrou sua história em versos de cordel, eternizando em rima a grandeza de quem fez da sala de aula seu altar de vida.
Ao olhar para trás, ele não fala em fim, mas em continuidade. E é exatamente assim que será lembrado: como o professor que acreditava que o amor transforma e que a educação pode, sim, curar as dores do mundo.
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