Após quase dois séculos de emancipação política, é natural querer saber os rumos que Feira de Santana pretende tomar, mas, antes de falar de futuro, é preciso compreender bem o presente. Sabendo disso, o Acorda Cidade resolveu convidar o urbanista e paisagista Tiago Nunes para descrever qual é a atual realidade da aniversariante deste dia 18 de setembro.
Durante a conversa, o profissional destacou pontos importantes que caracterizam bem uma das cidades mais importantes do país. Tiago lembrou que a posição geográfica deu a Feira de Santana, que também é conhecida como Princesa do Sertão, uma grande vantagem: a vocação para relações comerciais, o que traz uma grande relevância econômica.
“Feira de Santana é uma cidade que tem tudo para crescer cada vez mais. Ela tem as suas qualidades e possui um potencial econômico muito grande. Tem o Parque da Cidade, o Parque da Lagoa Grande, que foi um feito muito grande, apesar de ter um problema com a questão política, mas ele poderia ser bem mais aproveitado; esses são marcos importantes para a cidade”, disse.
A pequena gigante
O urbanista lembrou que a cidade se destaca também pela presença de grandes avenidas, configurações marcantes como o canteiro central da Getúlio Vargas, além de possuir o maior entroncamento rodoviário das regiões Norte e Nordeste. Tiago ressaltou que a Princesa do Sertão possui uma população estimada em cerca de 600 mil habitantes e tem uma extensão territorial maior do que a própria capital, Salvador, além de ser a 3ª maior economia do estado.
Apesar de todos os indicadores que fazem a cidade facilmente se destacar como uma metrópole, o urbanista lembrou que, em contraste com todos esses atributos, há o perigo do crescimento desordenado, algo que pode ser facilmente considerado um fator que pode prejudicar a cidade no futuro. Para Tiago, não há benefícios em ser forte economicamente e desprezar o planejamento urbano.
“Feira de Santana é uma cidade vibrante, localizada no coração da Bahia. Tem passado por transformações urbanas significativas; ela tem um crescimento bastante pujante, só que a gente vem observando a desorganização nesse processo de urbanização. Feira vem crescendo, se espalhando cada vez mais ao longo dos condomínios e vias públicas, mas ainda assim pecando um pouco nesse processo.”
“Infelizmente, isso é reflexo do monopólio das grandes construtoras. Eu acho que está faltando unir as questões do plano diretor de Feira de Santana. Não sou contra o crescimento, para deixar bem claro; eu sou a favor do crescimento, mas que seja um crescimento com planejamento. Então, planejamento de ruas, de vias, de calçadas, planejamento para onde os carros possam passar, pedestres possam passar”, complementou.
Paisagismo urbano
Tiago lembrou que um ponto muito importante que deve ser levado em consideração para o modelo atual da cidade é a baixa dedicação em investir no chamado paisagismo urbano; para o profissional, não há como a cidade crescer de forma sustentável sem que haja uma consciência ambiental envolvida no processo.
“Crescer sem planejamento cria zonas de ilhas de calor, desconforto térmico para os ambientes, e as pessoas acabam utilizando menos os espaços públicos. O que é o contrário do que uma cidade inteligente deve fazer. As pessoas devem utilizar os espaços públicos. Mas para isso, o poder público precisa criar estratégias, criar essa padronização dos meios públicos urbanos para que a gente possa utilizar esses espaços, trazendo mais segurança”, disse.
“Quando você tem pessoas, isso incentiva cada vez mais o comércio local, porque as pessoas que fazem a economia, as pessoas que compram, as pessoas que vão para as ruas. Então, se você abre só espaço para os carros e esquece das pessoas que utilizam, isso acaba trazendo transtornos como engarrafamento. A cidade está crescendo de forma desordenada e é necessário um olhar mais atento para essa questão”, complementou.
Pé no presente, olho no futuro
Fazendo uma análise do presente, mas sempre com o olhar no futuro, o urbanista classificou que algumas ações devem ser tomadas no ‘agora’ para que a cidade possa aproveitar de algumas vantagens no ‘amanhã’. Tiago finalizou a entrevista afirmando que apostar em modelos de desenvolvimento urbano privilegiando a verticalização, áreas verdes e espaços compartilhados pode ser muito vantajoso para esta jovem senhora de 192 anos.
“Quanto mais você verticaliza a cidade, você traz mais uma densidade demográfica para o espaço e você evita o desmatamento da sua região e do entorno. Fazendo isso, a gente cria o que a gente chama de fachadas ativas. Outro ponto são os modelos de ocupação mista, como vemos no Rio de Janeiro, Curitiba e São Paulo. Prédios comerciais e na parte de cima residenciais”, disse.
“Feira de Santana tem tudo para crescer de uma forma adequada, de uma forma correta. E se ela seguir esse padrão de verticalização, eu creio que ela vai bater até em grandes cidades maiores também porque, se a gente for observar, Feira, em questão de território geográfico, ela é maior do que a própria capital, que é Salvador”, concluiu o urbanista.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
Reportagem escrita pelo estagiário de jornalismo Jefferson Araújo sob supervisão do jornalista Gabriel Gonçalves
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos canais no WhatsApp e Youtube e grupo de Telegram