Em meio às comemorações pelos 192 anos de emancipação política de Feira de Santana, a cantora lírica, escritora e símbolo das celebrações da cidade, Célia Zain, lançou nesta segunda-feira (15), no histórico Casarão dos Olhos D’Água, seu novo livro: “Pelos Caminhos da Independência”. A obra mistura poesia, memória e história, e marca mais um capítulo da trajetória da artista, que há mais de uma década se apresenta caracterizada como Maria Quitéria, heroína da Independência do Brasil na Bahia.
O evento contou com a presença de crianças da rede municipal de ensino, professores, gestores, políticos e personalidades culturais. Célia também não esteve sozinha na representação histórica. Ao lado dela estiveram Maria Elieide Carneiro Rios, atriz conhecida como Nega da Bahia, no papel de Joana Angélica, e Maria Júlia, interpretando Maria Felipa.
Uma homenagem à heroína Maria Quitéria
Célia Zain é presença constante nos eventos cívicos da cidade, especialmente nas datas ligadas à independência da Bahia. Sempre trajando o fardamento de Maria Quitéria, ela relembra a bravura feminina nos marcos históricos do país. O lançamento do livro, realizado a apenas três dias do aniversário da cidade, foi um momento para ressaltar a arte, a literatura e a história no berço de Feira de Santana, o Casarão dos Olhos D’Água.
Ao Acorda Cidade, Célia contou que a ideia do livro surgiu como uma homenagem ao então diretor do Museu do Ipiranga de São Paulo, Afonso Taunay, que levou para as paredes do museu a imagem de Maria Quitéria para celebrar os 100 anos da Independência. Hoje, já no bicentenário, ela reconhece a importância daquele gesto para a valorização da luta dos baianos.
“Quando eu vi somente duas mulheres no meio de tantos cavalheiros, eu disse assim: é um milagre. E ele deixou registrado que, para justificar ao Governo do Estado por que ia pagar o quadro da heroína Maria Quitéria, ele disse que era para não ofuscar a luta dos baianos pela independência do Brasil. Então só isso, para mim, foi uma palavra que mudou minha vida.”
Além de contar a história de Quitéria em versos, o livro traz reflexões sobre guerra, paz, honra e gratidão, dialogando com a atualidade e com os desafios da sociedade contemporânea. Neta do repentista Zé de Jovita, Célia contou que essa herança familiar foi fundamental para escrever o livro com bastante tranquilidade.
O maior desafio foi transformar a vida da heroína em versos; alguém que lutou em três frentes de batalha e sobreviveu para entrar na história brasileira. O livro traz, a partir da primeira fase da vida de Maria Quitéria, ainda na fazenda, com os problemas familiares, uma série de momentos históricos até sua brava atuação na Guerra da Independência.
“Ela foi atrás, ela venceu, foi a única que voltou, entrou no navio no dia 27 de agosto de 1823 e foi ver o Dom Pedro e dizer: ‘Eu venci’. Tirou a comenda da Ordem do Cruzeiro do Sul, tipo um passaporte que podia circular por toda a América do Sul. Então foi uma bênção de Deus ele fazer essa honraria a Maria Quitéria, honrar o povo brasileiro através dela naquele momento”, disse Célia Zain ao Acorda Cidade.
Célia Zhai
Juscélia Figueiredo da Silva, a Célia Zain, nasceu no antigo Hospital Casa de Saúde Santana, filha de dois professores e ex-aluna de música da Universidade Federal da Bahia (Ufba), é reconhecida por sua atuação em prol da educação e da valorização cultural. Sua mãe, inclusive, fundou o Educandário 2 de Julho, nome que ecoa uma das datas mais emblemáticas da luta baiana pela independência.
“Meus pais já eram apaixonados pela história da Bahia. Mais tarde, vim aflorar a vontade de cantar vestida de Maria Quitéria. Nós somos a Bahia, o povo da Bahia é assim mesmo.”
Desde 2013, Célia Zain se apresenta em eventos cívicos e culturais vestida como Maria Quitéria. O traje, que começou simples, evoluiu após uma visita ao Rio de Janeiro.
“Lá no Rio, na Unidos da Tijuca, me disseram: ‘A heroína é muito grande, e a sua roupa tem que brilhar quanto ela’. Então me deram de presente minha primeira roupa de Maria Quitéria brilhosa, porque o brilho da mulher brasileira é alegre em todo o planeta. Essa roupa brilhosa significa isso.”
No início, ela contou que sofreu bullying, preconceito e até chacotas por conta da desvalorização da cultura feirense. Mas, com o tempo, a história passou a reconhecer as mulheres que também pegaram em armas e construíram a história do Brasil.
“A gente tem que melhorar, porque eu não posso andar só em Salvador. O povo de lá é louco por Maria Quitéria, porque eles conhecem a história. Feira de Santana, a gente precisa falar mais da importância dessa história. E falando da importância dessa história, a gente coloca Feira de Santana no eixo da história, o que é mais importante ainda.”
Ao longo da carreira, coordenou projetos musicais, oficinas de canto coral e apresentações dedicadas à cultura. Em 2018, foi homenageada com a Comenda Maria Quitéria pela Câmara Municipal, consolidando seu papel como símbolo da identidade cultural de Feira de Santana.
Casarão dos Olhos D’Água
O Secretário de Cultura, Esporte e Lazer de Feira de Santana, Cristiano Lobo, também marcou presença no evento e destacou a importância do Casarão dos Olhos D’Água como espaço cultural ativo da cidade.
“Nós temos percebido a visita frequente de estudantes e de toda a população, e é importante que a sociedade conheça não somente as instalações físicas, mas toda a história que tem exposições aqui. E hoje, nossa querida Célia Zain está lançando um livro, um presente para Feira de Santana.”
Além do lançamento, o espaço cultural, que abriga exposições permanentes sobre a origem da cidade, está em plena revitalização, junto com a praça histórica em frente, que será entregue à população na próxima quinta-feira, 18 de setembro.
Onde comprar?
O livro, que custa R$ 30,00, estará à venda no Mercado de Arte Popular, na barraca espírita. O objetivo também é distribuir gratuitamente em escolas da rede pública:
“É claro que vai ser um livro vendido para várias prefeituras da Bahia para ser distribuído para as escolas públicas. E, daqui em diante, a gente leva aos pouquinhos para o Brasil.”
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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