Intercâmbio em Feira

Chegada de intercambista do Oriente Médio em Feira de Santana confronta estereótipos

Com passagens por 33 países, o bareinita incluiu a Princesinha do Sertão em seu roteiro e viveu experiências únicas.

Abdulla Al-Madfaei árabe
Abdulla Al-Madfaei | Foto: Arquivo pessoal

Abdullah Al-Madfaei, comunicador social de 28 anos, veio do Reino do Bahrein, uma ilha no Golfo Árabe vizinha da Arábia Saudita e do Catar, para participar de um projeto de intercâmbio em Feira de Santana. Com passagens por 33 países, o bareinita incluiu a Princesinha do Sertão em seu roteiro e viveu experiências únicas.

O projeto SWAY, do qual Abdulla participa, tem dois focos: o turismo e o impacto social. Na área turística, apresenta os principais pontos de Feira de Santana e da Bahia, destacando sua importância cultural e histórica. Já no campo social, oferece aulas gratuitas de inglês e espanhol para crianças sem condições de pagar por um curso e, ao mesmo tempo, estimula o desenvolvimento profissional dos intercambistas. Segundo Abdulla, sua experiência inclui marketing digital, fotografia e edição de vídeo.

Abdulla em escola Estadual
Abdulla visita escola estadual | Foto: Arquivo pessoal

No projeto, ele contribuiu ajudando com atividades interativas e experiências práticas para o ensino da língua inglesa às crianças.

NAP
NAP | Foto: Arquivo pessoal

Por que escolheu Feira de Santana?

Durante estadia no Brasil, conheceu São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás e Bahia. Abdulla destaca que o Brasil é um dos países que mais valorizam a comunidade local e têm uma longa história de voluntariado e iniciativas sociais, esse foi um dos motivos que o trouxeram à Feira de Santana, além da hospitalidade dos feirenses.

Bandeiras de estados do Brasil
Foto: Arquivo pessoal

Ele explica que buscava um destino rico em diversidade cultural e social, com uma mistura única de etnias e tradições. Para ele, o fato de estar distante de sua região, com uma língua e costumes diferentes, foi justamente o que mais o atraiu. Ele buscava uma experiência fora do comum, que o tirasse da zona de conforto e o colocasse diante de novos desafios, seja na comunicação ou na adaptação.

cidade feira de santana
Foto: ACM

Religião e fé

A Ilha de Bahrein tem cerca de um milhão e meio de habitantes. A religião oficial é o Islã, e o idioma predominante é o árabe. Como muçulmano, Abdulla dedica cinco momentos do dia à oração, independentemente de onde se encontre e, mesmo no Brasil, manteve fielmente esse hábito.

Embora seja muçulmano, o bareinita visitou igrejas evangélicas na cidade e teve momentos de troca de experiências com os membros da comunidade.

Abdulla visita igreja evangélica
Visita em igreja | Foto: Arquivo pessoal

Xenofobia

A xenofobia é o preconceito ou hostilidade direcionada a pessoas de outros países ou culturas, apenas por serem estrangeiras. Ela pode se manifestar de diferentes formas, da discriminação verbal à formação de estereótipos e atitudes negativas.

Ananilda de Castro é professora e coordenadora do Núcleo de Acompanhamento Pedagógico (NAP), localizado na Serraria Brasil, em Feira de Santana. Ela, juntamente com o filho Davi Emanuel Costa, criador de conteúdo digital (@davizoa), representam uma das famílias que participam do projeto como família anfitriã, recebendo os imigrantes.

Cristopher, Ananilda, Davi, Abdulla e Margarida Foto Arquivo pessoal
Cristopher, Ananilda, Davi, Abdulla e Margarida | Foto: Arquivo pessoal

Ananilda contou ao Acorda Cidade que ouviu alguns comentários maldosos sobre a nacionalidade do bareinita, mesmo antes de sua chegada a Feira de Santana.

Pessoas do Oriente Médio sofrem com estereótipos atrelados ao terrorismo. Tendo isso em vista, um estudo realizado por Erik Bleich e A. Maurits van der Veen, no Media Portrayals of Minorities Project, analisou mais de 800 mil artigos (1996-2016) e mostrou que a cobertura das mídias ocidentais sobre muçulmanos é mais negativa que cerca de 82% das notícias em geral, frequentemente ligando-os ao terrorismo.

Desafios com a comunicação

A língua materna de Abdulla, ou seja, o primeiro idioma que ele aprendeu desde a infância, é o árabe. No Brasil, o viajante costumava se comunicar em inglês, entretanto, encontrou alguns desafios com a língua, pois nem todos os brasileiros falam inglês, por isso, Abdulla acabou recorrendo a aplicativos e sites de tradução para se comunicar.

“Isso tornou a comunicação um pouco complicada para mim. No entanto, algumas pessoas que falam inglês me ajudam com a tradução quando necessário, e, na maioria das vezes, utilizo aplicativos de tradução para facilitar as conversas”, explica Abdulla.

Experiências comunitárias

Durante sua estadia em Feira de Santana, Abdulla conheceu pessoas que tornaram sua experiência ainda mais rica e acolhedora.

Ananilda e o neto Cristopher, host family do intercambista, o acolheu com carinho, apresentando a ele os costumes brasileiros. “Dona Ana me tratou como filho. Estar com ela aliviou muito a saudade de casa”, compartilhou Abdulla.

Além da família que o abrigou, Margarida Fonseca, outra intercambista do projeto, também o ajudou na comunicação e no projeto voluntário de ensino de inglês. O amigo Samuel Sampaio apresentou a cultura local, acompanhando-o em viagens e atividades. Abdulla também fez amizade com Sibéria e Micaela, que o apoiaram em trocas culturais e experiências educativas.

Percepções sobre Feira de Santana

O muçulmano, que já visitou 33 países, pontuou ao Acorda Cidade algumas observações a respeito de Feira de Santana. Segundo ele, a cidade poderia aprimorar a organização de eventos comunitários que reúnam os moradores da região, como campeonatos esportivos, maratonas, competições e festivais ao longo do ano, com temas variados para tornar cada evento diferente e atraente.

“Isso ajuda a ativar a comunidade e incentiva as pessoas a participar e interagir constantemente. Também é importante incentivar a participação ativa da comunidade na melhoria da cidade por meio de iniciativas ambientais, como o plantio de árvores e a sustentabilidade. Além disso, devem ser oferecidas oportunidades de voluntariado para os moradores interessados em aproveitar seu tempo para apoiar a comunidade e contribuir para seu desenvolvimento sustentável”, pontuou Abdulla.

Interesse social no projeto

Segundo o intercambista, o que o motivou a participar do projeto foi a sua paixão pelo marketing, comunicação e pela vontade de ajudar o próximo. “Tenho o desejo de deixar uma marca positiva na sociedade, ajudando a melhorar a vida das pessoas e contribuindo para o sucesso delas através do conhecimento que conquistei com esforço ao longo dos anos. Acredito que compartilhar conhecimento é uma das formas mais nobres de contribuir com o mundo”, compartilhou ao Acorda Cidade.

Leia também: Jovens estrangeiros fazem intercâmbio em Feira de Santana e realizam atividades de turismo e voluntariado

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