O major Florisvaldo dos Santos Ribeiro, ex-comandante da 6ª CIPM (Companhia Independente da Polícia Militar), em Rio Real, deixou o posto ontem (20), sendo transferido para o comando da 67ª CIPM, em Feira de Santana. Ele foi investigado por abusos cometidos por policiais. As denúncias incluíam execuções, torturas e invasões de casas.
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Na época das denúncias, o prefeito, o presidente da Câmara Municipal e até o juiz da cidade assinaram um documento pedindo que o Ministério Público do Estado (MP) e a Polícia Civil investigassem os atos de terror que, segundo eles, eram cometidos pelo major Ribeiro e sua tropa.
Desde o mês passado, a Corregedoria da PM concluiu o relatório de apuração do caso, mas o major Ribeiro segue sem punição enquanto o comando da corporação não dá um desfecho à investigação.
Ontem, com a publicação da transferência de Florisvaldo Ribeiro no Diário Oficial do Estado (DOE), o jornal Correio solicitou mais uma vez um posicionamento sobre a sindicância à assessoria da PM. O primeiro pedido foi às 13h52. Depois de sete ligações ao longo da tarde, a assessoria informou, às 20h20, que aguardava o Comando-Geral e, portanto, não emitiria resposta oficial.
Segunda-feira, o corregedor responsável pelo caso, coronel Manoel Amâncio, admitiu que já havia concluído a sindicância, mas não revelou detalhes. “Não sou eu que vou dar qualquer notícia sobre isso”, disse. Já na quarta, ouvimos o comandante-geral da PM, coronel Alfredo Castro. Confirmando a conclusão da sindicância, ele afirmou que ainda tem um prazo de 45 dias para se manifestar.
Uma vez que o relatório foi concluído dia 14 de janeiro, o coronel ainda tem 10 dias. “Tenho que ter certeza antes de divulgar a decisão”. No mesmo dia, Castro afirmou que o major Ribeiro estava de férias e voltaria a Rio Real. Não foi o que se viu no DOE.
Transferência
Segundo o último comandante da 67ª CIPM, major Leonir Moraes, Florisvaldo Ribeiro agora vai comandar 332 PMs – mais que o triplo do efetivo de 96 policiais de Rio Real. A área de atuação da sua nova unidade engloba 32 bairros de Feira de Santana, além do Conjunto Penal e dos distritos de Humildes e Ipuaçu. “O comandante (Alfredo Castro) não colocaria alguém em Feira que tivesse um padrão de comportamento ruim”, disse Moraes.
O futuro supervisor de Ribeiro, o coronel Adelmário Xavier, comandante do Policiamento Regional Leste, afirmou ao site Acorda Cidade que o major era inocente, dando a entender que sabia do resultado da sindicância.
“Após todas as denúncias, ficou comprovado que o que aconteceu foi antes de ele (Ribeiro) assumir o comando da companhia”, disse ao portal. Mas, ao ser procurado pelo CORREIO, o coronel preferiu não comentar o assunto. Também ontem, o major Florisvaldo Ribeiro disse que não concederia entrevista.
Clima
Apesar da transferência do major, o juiz titular de Rio Real, Josemar Dias, principal responsável pelas denúncias, cobrou a continuidade das investigações. Segundo o cartório da comarca, há mais de 102 inquéritos policiais parados no MP. “Boa parte deles com envolvimento de policiais”. A promotoria de Rio Real está há um ano e oito meses sem titular. O novo promotor substituto, Luiz Alberto Vasconcelos, assumiu ontem e não foi localizado. Já a assessoria do MP negou que existam 102 inquéritos parados.
Desde as denúncias, a cidade vive de incertezas sobre a segurança. Primeiro, porque o major deixou a cidade. Depois, porque boa parte do efetivo foi afastada – pelo menos 12, segundo o comandante interino, capitão Rogério Barbosa.
Nos últimos meses, Rio Real, com mais de 40 mil habitantes e 46 povoados, tem que se virar com apenas dois PMs. “Precisamos de efetivo urgente. O último comando não tinha mais clima. Agora espero que a polícia se reestruture”, afirmou o prefeito Orlando Almeida.
Moradores e autoridades garantem que, nestes 90 dias, os policiais militares cruzaram os braços. “A população liga para o 190 e os policiais mandam ligar para mim, para o prefeito e o presidente da Câmara”, contou o juiz Dias.
Fonte: Correio