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Jovens estrangeiros fazem intercâmbio em Feira de Santana e realizam atividades de turismo e voluntariado

Em Feira, o projeto já recebeu visitantes de países como Argentina, Portugal, Colômbia, Peru e Ilha de Bahrein, no Oriente Médio.

Veja o resumo da noticia

  • O projeto SWAY tem um segmento turístico e outro social, que promove aulas gratuitas de idiomas, como inglês e espanhol, para crianças sem condições de custear um curso.
  • Os intercambistas enfrentaram algumas dificuldades para se comunicar em Feira de Santana por conta do idioma.
  • O programa promove a integração dos intercambistas com a comunidade local, incluindo famílias anfitriãs e empreendedores.
  • A escolha do destino tem caráter cultural e social.
Intercambistas do projeto
Intercambistas do projeto | Foto: Arquivo pessoal

Engana-se quem acredita que, em Feira de Santana, não há nada para fazer. Provando o contrário, o projeto voluntário SWAY, sem fins lucrativos, vem recebendo imigrantes de diferentes lugares do mundo na famosa Princesinha do Sertão. O programa tem um segmento turístico e outro social, que promove aulas gratuitas de idiomas, como inglês e espanhol, para crianças sem condições de custear um curso. Além disso, incentiva as habilidades profissionais dos intercambistas e proporciona contato direto com empreendedores da cidade.

A iniciativa surgiu através de uma associação de intercâmbio voluntário, que conecta as pessoas inscritas por meio de plataformas digitais, orientando cada uma a se direcionar ao local que mais se alinhe às suas expectativas. Em Feira, o projeto SWAY já recebeu visitantes de países como Argentina, Portugal, Colômbia, Peru e Ilha de Bahrein, no Oriente Médio. O objetivo dos fundadores é ampliar o projeto, criar uma sede fixa para as aulas e continuar recebendo mais voluntários.

Ananilda de Castro, professora e coordenadora, com o filho Davi Emanuel Costa, criador de conteúdo digital (@davizoa), representam uma das famílias que participam do projeto como host family, ou seja, família anfitriã.

Cristopher, Ananilda, Davi, Abdulla e Margarida Foto Arquivo pessoal
Cristopher, Ananilda, Davi, Abdulla e Margarida | Foto: Arquivo pessoal

“A ideia veio da minha experiência em 2021, quando fui host family e hospedei dois intercambistas, um da Tunísia e outro da Polônia, que fazia intercâmbio em Salvador. Por 40 dias me mudei para lá para hospedá-los, e então aquela experiência mudou minha vida. A partir disso, tive a ideia de criar o projeto para outras pessoas terem a mesma experiência que eu, mas em Feira de Santana”, contou Davi ao Acorda Cidade.

Receber pessoas desconhecidas nem sempre é fácil. Ananilda conta que, no começo, sentiu certa resistência à ideia do filho, mas com o tempo acabou se acostumando e ficou tranquila.

“Minha família, a princípio, foi um pouco resistente, e eu, particularmente, também. Mas com o tempo, entendemos que esse projeto intercambista era uma oportunidade de conhecer pessoas, línguas e culturas. Hoje, recebemos muito bem, criamos amizade e, quando eles vão embora, a gente chora. Continuamos com amizade e em contato. Então, hoje minha família entende que o projeto do Davi, que no começo achei meio louco e difícil, foi importante. Graças a Deus, hoje temos uma boa relação”, compartilhou.

O Núcleo de Acompanhamento Pedagógico (NAP), localizado na Serraria Brasil, em Feira de Santana, e coordenado por Ananilda, funciona como um espaço de reforço escolar. O núcleo passou a integrar o projeto SWAY ao acolher crianças em situação de vulnerabilidade, onde elas têm acesso gratuito a aulas de idiomas com os intercambistas.

NAP
NAP | Foto: Arquivo pessoal
NAP
NAP: Foto| Arquivo pessoal
NAP: Foto | Arquivo pessoal
NAP
NAP | Foto: Arquivo pessoal

Por que escolheram Feira de Santana?

Os intercambistas mais recentes do projeto vieram de Portugal e da Ilha de Bahrein, no Oriente Médio. Ambos chegaram em julho e permaneceram até agosto. Eles disseram ao Acorda Cidade, que escolheram Feira pelo acolhimento do povo feirense e pela marcante cultura nordestina.

cidade feira de santana
Feira de Santana| Foto: ACM

Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Feira de Santana é o maior entroncamento rodoviário do Nordeste e um dos maiores do Brasil, por onde passam as rodovias BR-116 e BR-324. Essa localização estratégica facilita o acesso a diversas cidades, atraindo e chamando a atenção de quem se hospeda no município pela facilidade de seguir para outros destinos.

Conheça os intercambistas

Direto de Portugal

Margarida Fonseca, de 19 anos, mora em Portugal e decidiu ser voluntária no projeto, dando aula de inglês para crianças carentes. Segundo ela, seu objetivo é contribuir positivamente na vida das pessoas. “Quando fazemos algo com amor e o objetivo é acrescentar algo de bom na vida do próximo, é sempre digno e vale a pena. Transmitir amor sem esperar nada em troca. Esse é meu ponto de vista”, afirma.

Margarida Fonseca
Margarida Fonseca | Foto: Arquivo pessoal
Margarida dando aula
Foto: Arquivo pessoal

Em entrevista ao Acorda Cidade, Margarida relatou que foi recebida com muito amor e acolhimento desde o primeiro dia dando aula para as crianças. Um dos desafios enfrentados por ela foi lidar com a base estudantil dos alunos. “Temos que ensinar tudo do início, e muitas vezes até ensinar o português, que é muito raso!”, explanou.

Lecionar proporciona uma significativa troca de experiências. Margarida conta que, com as crianças, aprendeu sobre respeito e que é nas diferenças que as pessoas se encontram. “É importante sermos todos diferentes para crescermos como pessoas e aprendemos”, compartilha.

aulas para crianças
Foto: Arquivo pessoal

Da Ásia à América do Sul

Abdulla Al-Madfaei, de 28 anos anos, nasceu na Reino de Bahrein, uma ilha localizada no Golfo Árabe, próxima da Arábia Saudita e do Catar. O local tem cerca de um milhão e meio de habitantes. A religião oficial é o Islã, e o idioma oficial é o árabe.

Abdulla Al-Madfaei  árabe
Abdulla Al-Madfaei | Foto: Arquivo pessoal

Abdulla é um viajante nato e, durante sua passagem pelo Brasil, já conheceu São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Traçando seu próprio mapa, o árabe, que já visitou 33 países ao redor do mundo, incluiu Feira de Santana no roteiro e viveu experiências únicas.

“Com esta experiência, posso dizer que a realidade superou as minhas expectativas. Eu não imaginava receber tanto carinho, amor e apoio das pessoas aqui, especialmente da família com quem morei, da equipe do projeto e dos outros voluntários. Aprendi muito sobre mim mesmo e sobre os outros, e realmente me senti parte deste lugar”, declarou Abdulla ao Acorda Cidade.

Bandeira de Bahrein
Foto: Arquivo pessoal

O bareinita é formado em Comunicação Social e, segundo ele, tem mais de cinco anos de experiência em marketing e relações públicas. “Gosto de interagir com as pessoas, participar de eventos que unem a comunidade e promovem o bem-estar social”, afirmou.

Na Princesinha do Sertão, Abdulla deu sequência ao seu projeto de registrar em vídeo as cidades por onde passa, mostrando seus encantos e particularidades através de um conteúdo dinâmico e didático, além disso, promoveu uma expressiva troca de cultural entre o Brasil e a cultura árabe.

Dificuldades enfrentadas

Margarida teve facilidade para se comunicar no Brasil, já que o idioma falado em Portugal também é o português. Entretanto, Abdulla enfrentou alguns desafios: sua língua materna é o árabe e a segunda língua, o inglês. Apesar de esse idioma ser o mais falado do mundo – segundo um artigo da Santander Academy – Abdulla não encontrou muitos feirenses fluentes em inglês e, por isso, muitas vezes acabou recorrendo a tradutores online para se comunicar.

Pontos altos do roteiro

Sãmuel Sampaio, de 28 anos, ficou responsável por ajudar a apresentar a cidade aos intercambistas. Em entrevista ao Acorda Cidade, o feirense contou que planejar os roteiros foi um processo que exigiu atenção para atender aos interesses dos visitantes, sem deixar de mostrar a essência da Bahia.

Margarida, Samuel e Abdulla
Margarida, Samuel e Abdulla | Foto: Arquivo pessoal

“Embora o ponto inicial fosse apresentar os principais atrativos de Feira de Santana, percebi que seria enriquecedor ampliar o olhar para além da cidade, trazendo experiências que representassem de forma mais completa a cultura, a história e a diversidade do nosso estado”, explica Samuel.

No roteiro, os voluntários do projeto visitaram alguns dos pontos turísticos de Feira de Santana, como o Parque da Cidade Frei José Monteiro Sobrinho, o Museu Parque do Saber e o comércio da cidade. “Comecei pelos pontos turísticos locais, valorizando o que Feira tem de mais marcante: Seu comércio vibrante e sua importância econômica para a região”, diz Samuel.

Parque do Saber
Parque do Saber | Foto: Arquivo pessoal
Trilha em Oliveira dos Campinhos
Trilha em Oliveira dos Campinhos | Foto: Arquivo pessoal

Durante o intercâmbio, Abdulla fez amizades até mesmo com os comerciantes da cidade.

Árabe no comércio
Foto: Arquivo pessoal

Os imigrantes também conheceram lugares turísticos da Bahia como a Chapada Diamantina, explorando o Vale do Capão, e Salvador, a capital baiana. “Essa combinação permitiu que eles conhecessem não apenas a cidade onde vivo, mas também o que torna a Bahia única, desde paisagens naturais impressionantes até a força do nosso patrimônio histórico”, compartilhou Samuel com o Acorda Cidade.

Abudulla em uma roda de Capoeira em Salvador
Salvador| Foto: Arquivo pessoal
Abdulla
Foto: Arquivo pessoal

Cidade calorosa

Uma pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo traz dados de que, no 11º Traveller Review Awards da Booking.com, premiação que homenageia os parceiros da plataforma que se destacam pela qualidade da hospitalidade, divulgada em 2023, o Brasil está entre os 10 países mais acolhedores do mundo, ocupando a 9ª colocação.

Os dados tornam-se ainda mais claros quando vêm seguidos de relatos:

“Quem visita o Brasil uma vez, volta sempre, porque é um país encantador e a cultura do seu povo faz você se sentir em casa”, afirma Abdulla.

“Calhei numa família incrível que me acolheu como se eu fizesse parte de verdade, o que tornou a minha experiência mais incrível e inesquecível, acho que esse foi um dos fatores principais para me sentir tão bem aqui!”, conta Margarida.

Como ajudar?

O projeto SWAY enfrenta alguns obstáculos, principalmente financeiros, já que não conta com investidores ou apoiadores. “Apenas amigos próximos ajudam como podem. Quando você aceita ser uma host family, assume a responsabilidade pela hospedagem e alimentação do intercambista”, explica Davi Costa. Além disso, ainda há custos com a alimentação e materiais escolares das crianças atendidas pelo projeto.

A iniciativa visa criar uma sede para o projeto, que contará com esportes, aulas de música, de matérias escolares e outras atividades.

A comunidade de Feira de Santana pode apoiar ou participar dessa iniciativa se inscrevendo para ser um host family, hospedando os intercambistas, realizando doações de alimentos, materiais estudantis, como lápis, borrachas, cadernos, ou ajudando com algum valor no projeto.

Reportagem escrita pela estagiária de jornalismo Beatriz rosado sob supervisão do jornalista Gabriel Gonçalves

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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