Polícia

Tortura e ameaças: saiba como agiam os homens que morreram em confronto com a 67ª CIPM em São Gonçalo dos Campos

O grupo torturava inclusive idosos e pessoas com câncer. Chegou a fraturar o braço de uma das vítimas e usava motosserra e máquinas de choque.

armas apreendidas após confronto com a PM
Foto: 67[ CIPM

Envolvimento com tráfico de drogas, receptação, roubos, assaltos, extorsão, violência e porte ilegal de armas de fogo estão entre os crimes atribuídos aos quatro homens que entraram em confronto com policiais da 67ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), na noite de segunda-feira (4), no povoado de Boa Vista, zona rural de São Gonçalo dos Campos. Três deles morreram durante a troca de tiros e um, apontado como líder da quadrilha, conseguiu fugir.

Conforme divulgado pelo Acorda Cidade, a polícia conseguiu impedir mais uma ação do grupo criminoso no momento em que eles se preparavam para praticar um assalto a uma fazenda. O caseiro foi encontrado amarrado. Durante a ação policial, um PM foi lesionado. Ele passa bem.

Ao Acorda Cidade, o comandante da 67ª CIPM, Major Reis, deu detalhes sobre os suspeitos e a forma como atuavam.

“Um deles tem antecedentes criminais de receptação, tráfico de drogas e violência doméstica. O segundo resistente tem antecedente de roubo e porte ilegal de arma de fogo, além de um mandado de prisão em seu desfavor, por furto e extorsão. O terceiro resistente, não conseguimos identificá-lo. O quarto, que conseguiu fugir, já temos o nome dele. Ele é o líder da quadrilha, mas a gente também não sabe dizer se ele foi ou não foi alvejado. As diligências continuam na tentativa de localizá-lo”, informou.

Segundo o major, o grupo já havia praticado outros assaltos no povoado com requintes de crueldade.

“Em cerca de três ou quatro vezes os assaltos ocorreram de formas bastante cruéis. Eles causavam muito terror psicológico nas pessoas, inclusive violência física, na tentativa de subtrair dinheiro ou coisas valiosas. Nesta ocorrência que resultou na morte de três deles, encontramos balaclava (capuz para cobrir o rosto) e máquina de choque, possivelmente utilizadas na tortura das vítimas. Eles também tinham uma maquineta, porque a maquineta seria uma das formas de obter lucros”, disse o major.

Major PM Reis
Major PM Reis | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

O comandante explicou que a quadrilha vinha desestabilizando a região.

“É uma região que estava em paz, uma região tranquila. Hoje, graças a Deus, a área da 67ª CIPM está tranquila. Não tem nenhum ponto que está destoando, nem distritos, nem a cidade de Conceição da Feira, tampouco a cidade de São Gonçalo, mas nesse ponto específico do povoado de Boa Vista, vinha tendo essas situações indesejáveis”, afirmou.

Ainda segundo o major, os criminosos não eram da região.

“Provavelmente alguma pessoa ali, algum morador local, é quem estava alimentando esses indivíduos que vinham de fora, vinham de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, só para cometer o delito e depois retornavam. Eles faziam suas atrocidades, roubavam algum veículo e retornavam com o veículo da vítima”, disse o comandante a Acorda Cidade.

De acordo com Major Reis, as vítimas eram ameaçadas para entregar mais dinheiro. O grupo torturava inclusive idosos e pessoas com câncer.

“É cultural as pessoas da zona rural guardarem dinheiro em casa. Então, às vezes eles conseguiam uma quantia das vítimas e faziam terror psicológico porque eles entendiam que havia mais a ser conseguido. E aí eles começavam a torturar. Em uma das oportunidades, eles chegaram a fraturar o braço da vítima. Eles optavam por pessoas mais idosas, pessoas mais vulneráveis, então eles tinham uma informação privilegiada. Num segundo caso, que tomamos conhecimento, eles chegaram a ligar uma motosserra, ameaçando uma senhora. Imagine o terror psicológico disso. E em um terceiro fato, eles não tiveram piedade nem com uma vítima oncológica, um paciente com câncer”, contou.

O comandante também falou sobre o motivo pelo qual os suspeitos ainda não haviam sido presos, mesmo já sendo conhecidos.

“Nós, inclusive, abordamos esses suspeitos anteriormente, mas na oportunidade nada foi encontrado, nem arma, droga ou algum mandado de prisão em desfavor, e, portanto, nada poderia ser feito. Isso causa na população a sensação de que a polícia não está fazendo seu trabalho. Mas nós temos que cumprir os rigores da lei. Todo mundo sabe quem são, mas a gente não tem como provar. Então, com a presunção de inocência, a gente não tem nada para fazer”, explicou.

“Nós os acompanhamos com muita serenidade para realizarmos uma operação policial cirúrgica. Nenhum efeito colateral, nenhum inocente perdeu a vida, nenhum inocente se machucou. A gente precisa aplaudir os nossos guerreiros que tiveram a coragem de enfrentar a criminalidade. Inclusive, um dos nossos policiais foi lesionado e poderia perder a vida. Felizmente ele está bem. Muitos pensam que realmente não existe esse confronto. A prova está aí que um policial foi baleado. Infelizmente as pessoas hoje só acreditam no confronto quando um policial ou ele perde a vida ou ele é lesionado. Infelizmente essa é a visão da Polícia Militar. Nós trabalhamos de maneira técnica e a resposta foi dada no momento certo”, declarou.

Como a PM identificou os suspeitos

Ao Acorda Cidade, o major informou que um trabalho de inteligência realizado de forma conjunta foi essencial para prever os próximos passos da quadrilha.

“Como a gente já sabia que eles não estavam na nossa área de responsabilidade — você sabe que nós só podemos atuar naqueles limites ali, cada um com sua competência — nós mantivemos contato com a região metropolitana, por meio da Rondesp RMS e o Batalhão Apolo. Nós já estávamos tratando com a inteligência, a inteligência da 67ª CIPM e a inteligência deles, então nós já sabíamos a movimentação, sabíamos que naquele dia eles iriam atuar. Só não sabíamos o local exato, a residência, a chácara ou a fazenda que eles iam atacar. Depois nós detectamos e confrontamos justamente com eles.”

Durante a ação policial em São Gonçalo dos Campos, foram apreendidos:

confronto em São Gonçalo dos Campos
Foto: 67ªCIPM/PMBA

01 espingarda cal 12

01 pistola marca Taurus (numeração suprimida)

01 revólver, marca Taurus

01 carregador de pistola modelo PT838

05 munições Cal. 38 (3 intactas e 2 deflagradas)

08 munições cal 380 intactas

06 munições cal 12 (05 intactas e 01 deflagrada)

01 simulacro de arma de fogo

01 máquina de choque 12000 volt

02 balaclavas

01 maquineta de cartão

01 faca.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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