“Tadala é vida, tadala é massa…”, embalados por refrões como esse, que vêm se popularizando nos palcos do arrocha, artistas têm dado visibilidade a um medicamento que até pouco tempo atrás era restrito aos consultórios médicos: a tadalafila. O remédio, utilizado no tratamento da disfunção erétil, agora ganhou verso, melodia, palco e até embalagem de presente.
Durante os festejos juninos na Bahia, episódios envolvendo a distribuição do medicamento por artistas chamaram atenção e geraram preocupação. No São João de Cruz das Almas, por exemplo, Wesley Safadão chegou a lançar cartelas de tadalafila para o público.
Já em Feira de Santana, o cantor Thiago Aquino comemorou seus 30 anos em uma festa e presenteou convidados com a medicação. Thiago que inclusive tem uma música em parceria com Gabriel Gava, que repete o verso: “Tadala é vida, tadala é massa, pra corrente não cair na segunda pedalada.”
Outra canção, de Tierry, J. Eskine e Seresta do Rasta, segue a mesma linha: “Eu fui comprar um Tadala de 20…”, transformando o uso do medicamento em tema de humor, romance e “superação” amorosa.
Alerta sobre o uso indiscriminado de tadalafila
Mas enquanto o ritmo contagia, normaliza o uso e influencia o público, médicos e especialistas acendem o alerta vermelho. O urologista dr. João Batista de Serqueira, com mais de quatro décadas de atuação em Feira de Santana, condena a banalização e o incentivo indiscriminado ao uso da tadalafila. Segundo dr. João, esse movimento é “lamentável” e coloca a saúde da população em risco.
“Presenciamos nos shows, além do estímulo ao uso de uma droga vasoativa bastante conhecida, a distribuição de cartelas de tadalafila. Eu considero isso como algo condenável, que não ajuda absolutamente em nada quem realmente precisa usar. A legislação brasileira precisa se tornar mais eficiente para que venhamos a proibir, porque isso é nocivo à saúde. Drogas, remédios, somente com prescrição, porque os efeitos colaterais estão aí e são abundantes e podem, inclusive, comprometer a saúde dos pacientes”, alertou.
O médico lembra que a tadalafila não interfere no desejo sexual, apenas atua na função erétil e que seu uso sem acompanhamento pode acarretar problemas como queda de pressão, dores de cabeça, complicações cardíacas e outros riscos para a saúde.
“Na condição de especialista em urologia, com 45 anos de atividade urológica em Feira de Santana, eu condeno de forma veemente essa forma de divulgação que lamentavelmente se faz também em diferentes veículos de comunicação. Inclusive criando os mitos que não correspondem à verdade”, pontuou.
Riscos do uso em academias
Além disso, Dr. João Batista alertou ao Acorda Cidade sobre o uso indevido da substância em academias, onde também há relatos de consumo com o objetivo (sem comprovação científica) de melhorar desempenho físico.
“Não existe nenhum estudo científico que mostre que a tadalafila melhora a performance muscular daqueles que estão praticando exercício físico. E mesmo assim, vemos jovens utilizando de forma indiscriminada,” pontuou.
O especialista finaliza com um apelo para que haja mais fiscalização e uma legislação eficaz que impeça esse tipo de divulgação e distribuição em ambientes públicos, especialmente durante eventos que reúnem multidões.
“É inaceitável que em um São João tão bonito como o da Bahia e Nordeste, as produções dos shows, aqueles que contratam os artistas, permitam divulgação de substância medicamentosa que não traz absolutamente nenhum benefício àqueles imprudentes que porventura venham a utilizar”, frisou.
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