Menino espancado recebe alta, mas não tem para onde ir

O motivo é a indefinição sobre com quem ele ficará morando.

Menino espancado recebe alta, mas não tem para onde ir Menino espancado recebe alta, mas não tem para onde ir Menino espancado recebe alta, mas não tem para onde ir Menino espancado recebe alta, mas não tem para onde ir

O menino de 11 anos espancado pelo pai em São Gonçalo dos Campos e que foi internado no hospital Clériston Andrade em Feira de Santana, recebeu alta nesta terça-feira, mas não pôde sair, por causa da indefinição sobre com quem ele ficará morando. Liberado de manhã, o garoto permanecia no hospital até o início da noite, sem perspectiva de uma resposta.

O caso está sendo acompanhado pelo Conselho Tutelar de São Gonçalo dos Campos, cujo presidente Domingos Santana Filho considera que nem a mãe nem o pai têm condições de cuidar do menino e procura uma alternativa. Mas admite que vem tendo dificuldade, porque a família da mãe mora em Irará e na do pai ninguém quer assumir a guarda do garoto.

Domingos vai apresentar à promotora do município um relatório pedindo a perda do pátrio poder do pai e da mãe. Ele adianta, no entanto, que a promotora a princípio defende que o menino vá para casa com a mãe, que será ouvida em audiência uma semana depois, para somente assim decidir qual encaminhamento será adotado. A palavra final caberá ao juiz da comarca de São Gonçalo.

Se não ficar com os pais nem com qualquer parente, pode ser buscada uma família substituta e em último caso uma instituição para crianças. O menino já viveu anos em um abrigo deste tipo. E confessou ontem à reportagem de A Tarde que não quer morar lá de novo. “Eles ficam ‘brocando’ a cabeça dos pequenos”, explicou, acusando maus-tratos praticados pelas crianças maiores. Em voz muito baixa, demonstrando insegurança, ele revelou que prefere ir para a casa da mãe.

Porém a mãe declarava abertamente no hospital que não gostaria de ficar com ele. Alega que o menino é muito irrequieto, briga com os irmãos e vizinhos e foge de casa. Ela mora com mais cinco filhos em uma casa improvisada, nos fundos de um terreno grande, que abriga uma construção inacabada. A aparência é de que seria um condomínio, mas nenhuma casa foi concluída. Além dos restos de construção, agora só há mato e ratos. Ela criava galinhas e afirma que parou porque os ratos são tão grandes que comiam as galinhas.

O espaço em que a mulher mora com os filhos foi construído pelo vigilante que tomava conta do terreno. Ele foi embora e deixou a mulher ocupar. Mas segundo ela, o dono já pediu várias vezes para que saia.

A casa tem dois quartos e tudo de mais velho, sujo e desgastado que se possa imaginar. Três crianças dormiam numa única cama de solteiro. Por causa de um problema de mau cheiro que vinha da sala que é também cozinha, a mãe colocou os cinco para dormirem com ela no outro quarto.

A mulher, que disse ser analfabeta, não lembra exatamente a idade em que teve o primeiro filho, mas acha que foi aos 13 anos. Nos 16 anos seguintes (hoje ela tem 29) foram mais seis crianças. O mais velho já passou por várias instituições para menores e foi resgatado da rua por uma senhora que lhe dá abrigo até hoje. O de 11 anos, que está no hospital, foi o segundo filho. O mais novo de todos tem menos de dois anos. Os sete filhos tiveram três pais diferentes, um dos quais foi assassinado há seis anos.