Saúde Mental
Como viver o luto após uma tragédia? Psicólogo explica processo que envolve saudade e dor
Fé, espiritualidade, religião e palavra de conforto, podem servir como uma terapia.
11/01/2024 às 10h49, Por Gabriel Gonçalves
Na noite do último domingo (7), uma colisão envolvendo um micro-ônibus e um caminhão carregado com frutas, deixou 24 pessoas mortas na BR-324, trecho do município de Gavião, interior do estado da Bahia.
Um grupo de moradores do município de Jacobina, retornava para a cidade, após passarem o final de semana na Praia de Guarajuba, litoral norte do estado. A tragédia deixou todos os moradores da região comovidos, que se reuniram na manhã da última terça-feira (9), para darem o último adeus em um velório coletivo que foi realizado no Ginásio de Esportes.
A reportagem do Acorda Cidade conversou com Tony Campos, psicólogo e especialista em terapia cognitiva comportamental para destacar como o processo do luto acontece em tragédias como estas.
“Antes da gente falar sobre o processo do luto, é preciso a gente entender o que é luto especificamente. Geralmente as pessoas associam o luto à morte, mas toda vez que você perde algo, isso gera um luto, você pode perder um emprego, você pode perder um casamento, você pode perder um membro do corpo, você pode perder uma pessoa amada, você pode perder um animal. Toda perda significa um luto, então o processo de luto é um processo de adaptação a uma situação que adversa com relação à morte de pessoas. O luto ele é necessário, o processo do luto ele é natural, e este luto precisa ser vivenciado pelas pessoas para que elas possam dar um novo significado, para que eles possam elaborar este luto de uma maneira mais adaptativa, ou seja, de uma maneira mais funcional de uma maneira, digamos assim, sadia”, explicou.
De acordo com o psicólogo, cada pessoa irá vivenciar o luto de uma maneira.
“O luto é um processo em que a gente sofre pela perda do outro, no caso destas vítimas do acidente, é um luto coletivo, é um luto diferente de você perder apenas uma pessoa, até porque tivemos pessoas que perderam três pessoas da mesma família. Então são várias pessoas vivendo o mesmo momento, só que cada um interpreta isso de uma maneira diferente, cada um vivencia o luto de uma maneira diferente, há pessoas que lidam com o luto e há pessoas que não lidam com o luto. Existem pessoas que demoram para dar conta neste luto, para elaborar este luto, existem pessoas que não demoram muito tempo, mas este luto precisa ser vivenciado, precisa ser elaborado de uma maneira, mas que seja sadia, para que as pessoas possam lidar melhor com essa situação”, declarou.
Por se tratar de um tragédia que vitimou mais de 20 pessoas, o psicólogo Tony Campos sugere que familiares e amigos possam realizar uma terapia em grupo e somente depois, fazer uma terapia individual.
“Existe uma comoção da população da cidade de Jacobina, principalmente quem perdeu a maioria das pessoas, então isso é um processo bastante sério. Nós como psicólogos, nós indicaríamos uma terapia de grupo, primeiro com estas pessoas que perderam seus parentes, porque são pessoas que viveram a mesma situação, então seria interessante se essas pessoas fizessem uma terapia de grupo, para a partir daí, o profissional ir trabalhando individualmente com cada um. Mas é necessário que as pessoas falem sobre esse luto, é necessário que as pessoas conversam sobre ele, porque o conversar ou falar, vai ajudar na elaboração deste luto”, pontuou.
Fé, espiritualidade, religião e palavra de conforto, podem servir como uma terapia.
“A gente tem por exemplo também, a estratégia da espiritualidade, a religião de cada um de acordo com o que cada um encara a fé, encara as perdas, a religião também pode ajudar muito nesse processo e o acolhimento das pessoas com relação a dor que esta pessoa está sentindo. A gente precisa acolher a dor do outro, a dor do outro é uma dor legítima, é uma dor é real que ela está passando, e é preciso acolher. Tem momentos que não há o que dizer, mas a presença, o abraço, às vezes uma palavra de conforto, uma palavra de compreensão e de acolhimento sobre esta dor, sobre este luto, é bastante importante neste processo”, concluiu.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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