Bahia
Coordenador de DPT explica trabalho de identificação das vítimas do acidente: "Maior tragédia da região”
O método utilizado na identificação das vítimas do acidente foi a análise das impressões digitais.
09/01/2024 às 09h50, Por Maylla Nunes
Com o trabalho de remoção das vítimas em um local de acidente, o Departamento de Polícia Técnica (DPT) dá início aos exames de evidência para identificar as pessoas que perderam a vida em colisões.
Esse foi um pouco do trabalho desenvolvido pela equipe do DPT de Jacobina na segunda-feira (8), após a tragédia que vitimou 24 pessoas em uma batida entre um caminhão e um micro-ônibus de turismo. (veja mais aqui)
O Acorda Cidade conversou com o Coordenador Regional do Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Jacobina, o perito criminal e farmacêutico bioquímico, Jedivaldo Batista, que contou detalhes sobre a atuação dos peritos durante o acidente de grande proporção.
Inicialmente, Jedivaldo Batista contou como soube do acidente, ainda durante a madrugada de segunda-feira. Segundo ele, foi a maior tragédia já registrada na região.
“Atuo desde 2007 em Jacobina, cidade da qual estou aqui há 26 anos, e coordeno o DPT de Jacobina. Foi a maior tragédia da região, estava tudo tranquilo na nossa região, começamos o ano e foi uma notícia triste. Foi por volta de 1h da manhã, o DPT foi acionado pela Polícia Rodoviária Federal que havia uma colisão com muitas vítimas. Geralmente, somos acionados pelo telefone. Foi dito que era um acidente de grandes proporções, um desastre nunca visto antes na nossa região e que precisava de ações imediatas entre as forças de segurança e a gente precisava se mobilizar para dar um pronto atendimento a este evento de natureza tão desastrosa. Como coordenador, fiquei sabendo por volta das 1h30, mas foi deslocada a nossa equipe de plantão até o local, um perito criminal e um perito técnico, os colegas Valmir e André”, disse.
Como ocorreu
Com a chegada ao local do acidente, o DPT teve outro desafio, o transporte das vítimas. Jedivaldo contou que o processo ocorreu de forma conjunta a outros DPTs da região e que, através de uma parceira, a perícia foi concluída em um período oportuno para que as vítimas pudessem ser veladas.
“Para o transporte, como nós temos um DPT em Jacobina, abrigamos cerca de 19 cidades, atendemos todas as cidades que compõe no entorno, mas temos umas macrorregionais. Como foi um acidente desastroso e em massa, o colega teve a expertise de entender que o DPT de Jacobina sozinho não iria dar conta, então, acionamos a diretoria que é geral e desencadeamos ações de cooperação entre as regionais próximas como Serrinha, Juazeiro, então houve uma cooperação e enviamos 11 corpos para Jacobina, Euclides da Cunha recebeu 4 e Juazeiro 8. Nosso carro funerário, o rabecão tem uma capacidade específica e o nosso tinha a capacidade de transportar 4 pessoas. Coordenamos as equipes e dividimos o quantitativo para que fossem realizadas as necropsias. Por volta das 16h já tínhamos liberado todos os corpos, necropsiados e entregues as famílias. Os de Euclides da Cunha e Juazeiro também, de forma sincronizada começaram a chegar no mesmo horário. A prefeitura também colaborou com o translado”.
Processo de identificação
Os meios de identificação primários e mais confiáveis são a análise de impressões digitais, a análise odontológica e estudo do perfil de DNA. O método utilizado na identificação das vítimas do acidente de segunda-feira foi a análise das impressões digitais. O coordenador ainda explicou que este método costuma ser o mais eficaz para que haja segurança e transparência na conclusão e identificação das vítimas.
“As vítimas, após um evento como esse, elas ficam mutiladas. A Polícia faz sempre uma identificação científica e a maneira mais usual é coletar as digitais e confrontar com um documento que ela porta, geralmente, um RG. Caso ela não esteja portando um documento, vamos solicitar ao Instituto Pedro Melo as fichas datiloscópicas, que é quando a pessoa tira o documento e as informações ficam armazenadas, eles nos enviam via e-mail e fazemos o confronto necropapiloscópico. Identificamos pela digital primariamente. Nesse caso, todos foram identificados dessa forma. Existe a possibilidade do reconhecimento facial com os familiares, mas isso é uma coisa que não importa muito para nós, precisamos identificar da forma segura e correta que é por meio da digital. Em alguns outros eventos, às vezes não é possível, como um corpo carbonizado, assim, vamos ter que empregar dentro do estudo antropológico da pessoa, o DNA, a arcada dentária, por isso que na equipe de perícia temos peritos criminais com diversas formações. Temos peritos criminais, peritos médico-legais que são os legistas, e temos também os peritos odontolegais que são os dentistas, que possibilitam a identificação pela arcada dentária”.
Perícia
Dentre o processo da perícia, seja em acidentes ou mortes de outras naturezas ,o DPT precisa ser acionado através de uma ação coordenada pelas equipes de segurança oficiais.
“Quando há um evento que vai deixar vestígio, esse evento precisa ser passado por perícia para esclarecer os fatos, então, como é uma rodovia, na BR-324, geralmente quem vai chegar primeiro é a Polícia Militar ou a Polícia Rodoviária Federal. Eles averiguam se houve vítimas, dá conhecimento a delegacia próxima e em uma ação coordenada as autoridades entram em contato com a Polícia Técnica, o DPT”, disse Jedivaldo.
O coordenador do DPT explicou também como o laudo pericial é formado, já que após o acidente, as investigações são iniciadas a fim de buscar a causa e os detalhes do desastre.
“Identificar de quem foi a culpa, a gente não entra nessa seara. O perito colhe os vestígios, as circunstâncias, principalmente nos materiais, deformações no veículo, tipo de via, se o tempo estava bom, como estava a pavimentação asfáltica, isso é elaborado para que possamos oferecer a justiça o laudo pericial. Esse laudo tem um prazo, podendo ser estendido para que a gente possa oferecer a justiça a prova material e daí ter as demandas que a justiça possa desencadear”.
Jedivaldo finalizou ainda reforçando a tristeza da tragédia que deixou toda a população de Jacobina e da Bahia, de luto.
“No primeiro momento, como a cidade é pequena, e muitas das pessoas nós conhecemos e fazemos o vínculo familiares existentes. Nós vimos que tinha pessoas que estavam em casais, irmãos, cunhados, mãe e filho, foi complicado. É desastroso perder um familiar e nessa ocorrência foi perdido uma linhagem inteira”, concluiu.
Ouça a entrevista na íntegra:
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