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As famílias das 12 crianças assassinadas em abril na tragédia da escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, foram todas indenizadas pela Prefeitura do Rio de Janeiro. O primeiro pagamento foi feito há três meses e o último, no dia 20 de outubro. A prefeitura confirma, mas não divulga os valores negociados com a Procuradoria Geral do Município, a Defensoria Pública e o Ministério Público estadual, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
Alguns familiares confirmam que a quantia foi de R$ 250 mil, mas a maioria de mães e pais não quer falar em números, por questões de segurança. “As famílias pedem para que os valores não sejam divulgados. O que posso dizer é que fizemos o cálculo com base nas decisões do Supremo Tribunal Federal em episódios parecidos, já que não há casos iguais a este no Brasil”, informa a coordenadora do Núcleo de Fazenda Pública da Defensoria Pública do Estado, Fernanda Garcia.
Apesar de julgar correta a reparação material, alguns pais afirmam que estão constrangidos com o pagamento. “É um dinheiro maldito. Precisei perder a minha filha para ganhar essa quantia”, diz a mãe de uma das crianças assassinadas.
A dona de casa reconhece a importância do dinheiro, mas afirma que tem dificuldades para gastá-lo, ainda que seja para garantir um pouco de conforto a sua família. “Tenho outros filhos e claro que vai nos ajudar a criá-los. Mas eu preferiria ter a minha filha aqui, estou sem ânimo, praticamente morri também”. Ela conta que recentemente foi chamada por seus outros filhos para ir a um shopping. “Foi um custo, não me faz bem gastar o dinheiro. Sei que temos esse direito, mas não é fácil. Ainda estou muito mal”, conta.
De acordo com a defensora Fernanda Garcia, após quatro meses de negociação, os familiares das vítimas e a Procuradoria Geral do Município chegaram a um acordo. “Essa indenização não vai reparar a dor dessas famílias. A intenção é amenizar o sofrimento com a reparação material. Com isso essas pessoas vão poder respirar um pouco melhor”, diz Fernanda.
Outra mãe de vítima do massacre prefere não falar em valores, mas admite que recebeu o dinheiro e sente que houve um “pouco de justiça”. “Não traz nenhuma criança morta de volta, meu filho se foi e sofro todos os dias para aceitar isso. Mas a gente sabe que tem direito a receber. Não consigo falar sobre esse assunto”, diz.
A defensora Fernanda Garcia ressalta, no entanto, que ainda falta negociar com a Procuradoria o pagamento a 11 crianças que ficaram feridas durante o massacre e que precisam de tratamento psicológico ou fisioterapêutico. “Aguardamos o resultado da perícia médica que deverá indicar o valor a ser pago para cada criança. Entendo a ansiedade desses pais, mas o processo não é tão rápido quanto gostaríamos. Porém, se algum deles desistir do acordo e quiser recorrer à Justiça, a Defensoria Pública irá representá-los”, afirma. Segundo ela, a perícia será inicialmente realizada por um médico da Prefeitura do Rio.
A Associação de Amigos e Familiares das Vítimas de Realengo, grupo criado após a tragédia, lamenta a demora para a formalização de um acordo. “Não recebemos nada, fica a sensação de que eles esperam que as crianças se recuperem sozinhas”, protesta a vice-presidente do grupo, Carla Vilhena, mãe do estudante Carlos Matheus Vilhena de Souza, sobrevivente baleado com três disparos no braço e no ombro. “Esse é um dinheiro que poderia nos ajudar. No caso do Matheus, por exemplo, ele não tem quarto. Não tem nem cama, dorme num colchão. Acho que seria bom se ele pudesse ter um pouco mais de conforto, de alegria para superar a tragédia. Não me refiro apenas aos tiros que ele levou, que já são algo terrível, mas ele viu amigos morrerem. Isso é muito forte”, diz. As informações são do IG