Dia do Radialista

Radialistas feirenses relembram histórias e falam sobre as transformações do rádio do longo dos anos

O rádio em Feira de Santana, assim como em todo o mundo, vem passando por grandes transformações com a incorporação de novas tecnologias e mudanças na forma de comunicar os fatos do cotidiano.

Laiane Cruz

Neste domingo (7) é comemorado o Dia do Radialista. A data foi instituída por lei em julho de 2006, para homenagear esses profissionais da comunicação que entretém e informam seus ouvintes com muita dedicação e vozes marcantes.

Ao longo dos anos, o rádio em Feira de Santana, assim como em todo o mundo, vem passando por grandes transformações com a incorporação de novas tecnologias e mudanças na forma de comunicar os fatos do cotidiano.

Em entrevista ao Acorda Cidade, alguns radialistas famosos, conhecidos por sua larga experiência e história na profissão, relembraram algumas dessas transformações.

A exemplo do radialista Silvério Silva, que aos 80 anos de idade, mantém vivas em sua memória as lembranças de quando falou pela primeira em um microfone e partir de então não abriu mais mão de comunicar ao público.

“Eu comecei no rádio exatamente em 1961 em Feira de Santana. Hoje tenho de rádio 60 anos e de idade 80. Existia aqui na cidade um cidadão que tinha um carro de som por nome Ligosa, e eu tinha muita vontade de falar em microfone. Ele ia passando e eu disse que gostaria de tentar falar e queria fazer um teste. Então ele disse pra eu entrar no carro e já me deu o microfone com um texto pra eu falar. E eu comecei a falar tremendo e sem jeito ali, nunca tinha pego em um microfone. Em seguida, ele me colocou em porta de lojas para fazer anúncios de promoção e depois me entregou um estúdio de alto falante fixo no centro da cidade. Na sequência eu fiquei sonhando com o rádio”, recordou Silvério Silva.

O sonho se tornou realidade quando ele estreou na Rádio Cultura, em 1961, com o programa Eco dos Carnavais. E nos anos posteriores, passou a trabalhar para a Rádio Sociedade de Feira, quando viu sua carreira no rádio deslanchar.

“Comecei, na Rádio Cultura, a frequentar os programas, e conheci Humberto da Costa Filho, que me deu a primeira oportunidade no rádio e de repente virei coapresentador de um programa por nome Eco dos Carnavais, em 1961 para 1962. Depois eu lancei o meu programa, isso já em 1962. Entre 63 e 64 pulei para a Rádio Sociedade de Feira de Santana, onde fiquei por 33 anos. Lá as portas se abriram, passei a fazer televisão, jornal, a ir para Rio e São Paulo, fazia paródias, e comecei a vida musical, fiquei muito famoso e todo artista que passava nessa região já vinha agendado para o meu programa. Fiquei conhecido no Rio de Janeiro e São Paulo e me convidaram para gravar um disco, fiz DVD, gravei cinema, fiz tudo na área”, relembrou o radialista.

Silvério Silva pontuou que desde quando iniciou no rádio feirense até os dias atuais, a profissão passou por muitas mudanças e os programas passaram a se dedicar mais às notícias.

“Havia alguns boletins de hora em hora e tinha um jornal falado. Também a situação do rádio era outra, ninguém tinha recursos. Quando eu comecei a falar, não existia gravador, tudo era ao vivo, não tinha como gravar nada. Eu criei muitos eventos também em Feira de Santana, como a Corrida de São Silvério, Grito de Micareta, Palco Livre, Corrida de Jegues, Festival da Mentira, mas o que se destacou mais foi a Corrida de Jegues. Mas a minha avaliação é positiva. Pra o que eu vivi no início da minha carreira, o rádio hoje é um sucesso. O rádio cresceu, reviveu, hoje é rádio e televisão ao mesmo tempo”.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Para ele, o segredo para se tornar um bom radialista é pesquisar tudo e ter consciência do que faz, principalmente a ética, acima de tudo.

O radialista e atual presidente do sindicato da categoria, Valter Vieira, começou a atuar na profissão na década de 70, através da Rádio Cultura.

“Eu trabalhava na Embasa e de uma hora para outra me apareceu Edvaldo Maia, que era um colega nosso que vendia comerciais, trabalhava na Revista Panorama, e ele me viu falando em alto-falante em Serra Preta, sem nunca ter tido treinamento, e ele me convidou para ir trabalhar na Rádio Cultura de Feira de Santana. Nesse tempo eu ganhava um salário e a rádio me oferecia dois salários, para substituir o famoso Walter Sobral. Foi aí que iniciei na Rádio Cultura, no programa Noturno Especial.”

Na opinião dele, o rádio sempre teve compromisso com a ética e a responsabilidade. E os profissionais mais antigos sempre orientavam os mais novos e era uma exigência muito grande para trabalhar na área.

“Eu comecei na Rádio Sociedade no esporte e passei quase seis meses esperando uma oportunidade porque tinha que ter alguém que desistisse, e pra sair não era fácil. Então comecei e fiz duas copas do mundo, campeonato brasileiro e baiano, e paralelo ao esporte eu apresentava o programa Show da Manhã, eram quatro horas eu apresentando praticamente sozinho. E um dos quadros de maior sucesso era o ‘Me conte a sua história’, que naquele tempo não tínhamos muitas emissoras. Fui para a Rádio Subaé, que estava iniciando suas atividades. Depois de dois meses, retornei para a Rádio Sociedade, onde fiquei mais 10 anos”, relatou Valter Vieira.

Segundo ele, sua história no rádio foi de muita perseverança. “Já carreguei mala para transmissão, fazíamos transmissões de micareta, de futebol, que era a forma de sobreviver no rádio. O salário era pequeno, e a gente partia para as transmissões para melhorar a situação financeira. O rádio você tem que estar se qualificando todo dia, independente da idade, tem que procurar melhorar a qualidade do trabalho, pois dentro do mercado atual a disputa é grande.”

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Nos últimos 10 anos, Valter Vieira tem se dedicado à apresentação do programa Ronda Policial, na Rádio Subaé. O presidente do sindicato destacou que a notícia é mais importante que qualquer um dia de nós. “A estrela é a notícia e não nós. Que os mais novos compreendam isso e realizem o seu trabalho sem ser de forma tendenciosa.”

Outro radialista experiente e antigo de Feira de Santana, o apresentador Dilson Barbosa, 76 anos, estreou no rádio na década de 60, ao transmitir os jogos do Campeonato de Amadores de Feira de Santana, no campo das Baraúnas.

“Minha estreia no rádio foi no dia 1º de maio de 1966, já se vão 55 anos, em Feira de Santana. Curiosamente, no campo das Baraúnas, no início do Campeonato de Amadores de Feira, o Edmundo Carvalho, pai de Edmundo Filho, era o chefe de esportes e me mandou fazer uma reportagem e me entregou naquele dia um microfone sem fio. Foi para a Rádio Sociedade de Feira. Eu já tinha trabalhado antes em outras atividades, e aquela época era uma coisa muito difícil e quando a Rádio Sociedade de Feira abriu um concurso, 52 jovens participaram e foram escolhidos três: eu, Marivaldo Bastos e João Leão. E no rádio só eu continuei”, contou.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Ele recordou que em anos anteriores os radialistas brilhavam como se fossem artistas da música e até dava autógrafos. “Naquela época fazer rádio era uma fantasia, o rádio tinha uma fama muito grande, e eu vivi essa fase áurea. Eu gostava de esportes, era ouvinte de rádio, fanático pelos grandes locutores e por ironia do destino fiquei amigo deles, me vi colegas deles, viajava. Foi uma época em que eu aprendi também com eles.”

O radialista, que também formou-se em Direito, salientou que sempre enxergou o rádio feirense como algo que poderia ir mais além daquilo que já existia na época. Como exemplo, ele citou o início das transmissões de longa distância na Rádio Sociedade de Feira, que era algo que não se fazia naquele período.

“Quando eu entrei no rádio não se falava em transmissões de longas distâncias, a mais longa que se fazia era uma transmissão em Salvador, com um sistema de telefonia ainda incipiente. Mas eu via um horizonte maior. Em 1981, por exemplo, eu disse que a gente precisava sair para fazer uma transmissão internacional, e mandamos Itajaí Pedra Branca para a Europa cobrir a seleção brasileira e foi algo surreal para o rádio na Bahia. Eu comecei no esporte e fui estudar Direito. Eu via que o rádio era uma alavanca para tudo e não era na área profissional como é hoje. Hoje o rádio é cheio de empreendedores. Quando eu me formei, dei uma parada, mas fui logo seduzido a voltar para o rádio”, afirmou.

Empresário do ramo de comunicação, Dilson Barbosa crê que para atuar no rádio é preciso gostar do que faz. “Se a pessoa precisa e não gosta não vai para a frente. Eu gostava e precisava e juntei as duas coisas. A partir daí eu levei isso a sério. Somos trabalhadores que precisam usar o microfone para se comunicar. Acordo todos os dias às 5h e venho para a rádio às 5h30”, disse.

Atuando há 16 anos em Feira de Santana, o radialista Luiz Santos, apresentador do Programa Levante a Voz, da Rádio Sociedade News 102.1 FM, destacou que trabalhar na área da comunicação atualmente, é como resultado de um fruto plantado ainda na infância.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

"Eu posso dizer que hoje o rádio significa tudo para mim, porque eu cresci ouvindo rádio, a minha família tinha o hábito de ouvir, então posso dizer, que graças a Deus, tudo que eu conquistei, minha família, meus filhos, e devo ao rádio que me proporcionou tudo. E o rádio feirense, é um dos melhore do Brasil, não há comparação com este jornalismo frenético que atualmente fazemos aqui em Feira de Santana. Acredito que temos em torno de 30 ou mais programas jornalísticos, sem falar dos programas musicais", disse.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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