Laiane Cruz
Atualizada às 15h23
A taxa de desemprego no Brasil no primeiro trimestre deste ano foi de 14,7%, atingindo um recorde da série histórica, iniciada em 2012. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que calculou um número de mais de 14 milhões de desempregados no período. Entre aqueles que não possuem um trabalho formal estão também os que desejam trabalhar de carteira assinada, mas desistiram de procurar por uma vaga, correspondendo a 5,970 milhões de pessoas nos primeiros três meses de 2021.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
Demitido da empresa na qual trabalhava, o técnico em automação industrial Mário Sérgio da Costa não conseguia se reinserir no mercado de trabalho, e em 2018 resolveu atuar como um microempreendedor individual, comercializando empadas no centro de Feira de Santana. Sem recursos financeiros para sustentar a família, ele e a esposa iniciaram o negócio com apenas R$ 50, e aos poucos foram ganhando a clientela, que têm opções de empadas doces e salgadas, com preços que variam entre R$ 1,50 até R$ 5.
“Tudo começou no ano de 2018. Já estava há quase dois anos desempregado. Trabalhava em uma empresa multinacional aqui de Feira de Santana e, após uma reunião familiar, eu e minha esposa levamos umas empadas para essa reunião e todos lá gostaram. A partir daí as pessoas sugeriram que se a gente vendesse elas poderiam comprar. Com 50 reais na época que a gente tinha, compramos a matéria-prima, fizemos 25 empadas e eu trouxemos para o trânsito, no comércio de Feira de Santana e foi assim que começou a história das empadinhas do Mário”, relatou em entrevista ao Acorda Cidade.
Segundo o empreendedor, foi preciso superar a timidez e criar estratégias para abordar os clientes e assim conseguir vender o produto. “Surgiu como uma necessidade, após esse período de desemprego. Eu sempre tive vontade de ter meu próprio negócio, então caíram como uma luva essas empadas que começaram lá na reunião em família. Minha rotina começa às 5 horas da manhã. Algumas pessoas me abordam e outra parte é essa clientela que fica nas lojas. Eu levo as empadas até eles para os pedidos feitos com antecedência ou ali no momento em que as pessoas me abordam na rua.”
Uniforme
Entre as estratégias adotadas por Mário, para alcançar a clientela, está o uniforme adotado por ele, semelhante ao do personagem dos games infantis Mário Bros. O objetivo, segundo ele, foi se destacar em relação aos demais vendedores de lanche e se permitir uma experiência diferente no trabalho.
Foto: Reprodução/Instagram
“Eu sempre quis trazer algo diferente, inovador, no que diz respeito às vendas em Feira de Santana. Sempre procurei me destacar trazendo uma forma diferente e quis associar o meu nome que é Mário com o famoso jogo do Super Mário. Foi aí que nasceu a camisa no início, e com a proximidade também do Dia das Crianças, eu quis trazer a forma padronizada do personagem.”
Redes sociais
Além de comercializar no centro da cidade, o Super Mário das Empadas também mantem uma página no Instagram, onde busca divulgar mensagens motivacionais e dá oportunidade aos clientes para realizarem suas encomendas. Através da sua conta @supermariodasempadas, ele consegue conciliar tanto as vendas quanto a parte do entretenimento.
Foto: Reprodução/Instagram
“Sou bastante procurado por crianças e adultos, aquela geração dos 80, as pessoas que se identificam quando vêem o Super Mário e têm aquela lembrança doce da infância do momento dos jogos. Tenho projetos, realizo ações sociais aqui, faço rifas para ajudar nesse conteúdo e essas mensagens motivacionais vêm para colocar em prática o sentimento de empatia, que é um sentimento de grande valor e que eu gosto de levar para as pessoas. Eu trabalho também com encomendas, as pessoas fazem pedidos tanto na rede social como no meu contato pessoal (98809-7868).”
Empreendedores individuais
De acordo com a consultora de negócios do Sebrae em Feira de Santana, Elizangela Nunez, em 2020, houve um crescimento no país no número de Microempreendedores Individuais (MEI) de 8,4% em relação a 2019. Do total de 3.359.750 empresas abertas no período, 2.663.309 eram MEIs. E hoje, o setor responde por 56,7% do total de negócios em funcionamento no País. “Em feira de Santana são mais de 30 mil microempreendedores individuais formalizados. Mas, sabemos que muitos ainda atuam na informalidade”, informou.
Ela explicou que na cidade, entre os microempreendedores, predominam as atividades de serviços, como cabeleireiros, manicure e pedicure, e o comércio de artigos do vestuário e acessórios, que têm o maior número de formalizados.
“As vantagens de ser MEI é que a pessoa que trabalha por conta própria, se legaliza como pequeno empresário. Para ser um microempreendedor individual, é necessário faturar no máximo até R$ 81 mil por ano e não ter participação em outra empresa como sócio ou titular. O MEI também pode ter um empregado contratado que receba o salário mínimo ou o piso da categoria, entre outros benefícios, cobertura previdenciária, não ter taxas de registro, acesso a serviços bancários, menos tributos e controles muito simplificados, além de emissão de Alvará pela Internet, possibilidade de vender para o governo e segurança jurídica”, informou.
Reinserção no mercado de trabalho
Questionado pela reportagem se retornaria a trabalhar em uma empresa de carteira assinada, Mário Sérgio disse que não descarta a possibilidade, dada sua vasta experiência. Por outro lado, diante das incertezas da economia, não pensa em abandonar o seu lado empreendedor.
“Vou continuar com meu empreendedorismo, mas também estou aberto a oportunidades no emprego formal. Até porque eu tenho uma vasta experiência na indústria e qualificação. Eu sou formado em técnico em automação industrial, tenho o curso de assistente administrativo, informática empresarial e ensino superior incompleto em ciências políticas”, disse.
Mercado em transformação
Assim como Mário Sérgio, muitas pessoas enfrentam enormes dificuldades para retornar ao mercado de trabalho formal, e por esse motivo desistem de procurar vagas ou vêem no mercado informal a saída para driblar as dificuldades econômicas.
De acordo com Suzana Silva de Souza, Analista de Desenvolvimento de Carreiras Sênior, do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), as empresas estão mais exigentes e com altas expectativas em relação aos perfis dos candidatos. E a pandemia veio para acelerar esse processo.
“As empresas buscam alinhar as Soft Skills (competências comportamentais) com as Hard Skills (competências Técnicas) dos candidatos, daí vem a importância do desenvolvimento das características comportamentais e da formação, sejam cursos específicos ou no nível da escolaridade. O currículo deve ser visto como a comprovação documental das habilidades/experiências, não deve ser produzido em larga escala, sem definição de objetivos.”
Segundo ela, alguns passos precisam ser seguidos por aqueles que desejam conseguir um emprego ou um estágio remunerado em sua área de atuação, mesmo após muito tempo fora do mercado.
O currículo, por exemplo, precisa conter dados pessoais com contatos de telefone e e-mail sempre atualizados, assim como mês e ano de entrada e saída de experiências, formação acadêmica, referências profissionais.
“Os candidatos devem ser resilientes, persistentes e cada vez mais buscar se capacitar. Fazer cadastro em diversas plataformas de estágio/emprego, como o IEL, acompanhar a chegada de novas empresas na cidade, deixar o currículo sempre atualizado e aproveitar para se capacitar com os diversos cursos que estão sendo oferecidos, hoje no mercado, de forma gratuita. É fundamental, que o candidato, independente de que área atue, esteja sempre bem informado, que tenha habilidade com informática e no uso de novas tecnologias”, orientou.
Quanto à entrevista, a pontualidade é fundamental. Demonstrar comprometimento, responsabilidade, força de vontade, disposição para o novo, como participar de processos seletivos em formato online, também são diferenciais. Além de evidenciar conhecimento sobre a empresa que está ofertando a vaga, ser objetivo e claro nas respostas e jamais mentir ou aumentar informações.
“Com as transformações rápidas do mercado, está cada vez mais exigente e competitivo, quanto mais qualificado for o profissional, mais oportunidades poderão surgir para o mesmo. Além disso, vivemos no momento do ‘lifelong learning’, da formação contínua, do aprendizado constante. A qualificação é a palavra de ordem para o mercado de trabalho na pandemia e no pós-pandemia”, frisou.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade