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A máscara N95 vem sendo mais conhecida durante a pandemia de coronavírus. Esse equipamento, de tecido mais rígido, é destinado especialmente aos profissionais de saúde, já que possui altíssima capacidade de filtragem contra vírus e bactérias. Apesar de tão necessário para o momento atual, o item não é novidade. Foi criado na década de 50, aperfeiçoado em 90 e, o mais surpreendente, inspirado em um sutiã!
A responsável por essa inovação que hoje salva vidas foi a estadunidense Sara Little Turnbull, consultora de design industrial que teve como um de seus primeiros clientes, em 1958, a 3M. A empresa descobriu uma forma de criar tecidos mais rígidos e sem entrelaçamento de linhas, a partir de jatos de ar em uma camada de polímero derretido. Sara utilizou esse material recém-descoberto para criar laços de enfeite na cessão de embalagens de presentes. Depois, essa tecnologia têxtil foi usada por ela para moldar lingerie e sutiãs – que seria, involuntariamente, a inspiração para a N95.
Ainda na mesma década, Sara acompanhou visitas ao médico de parentes próximos que estavam enfermos. Esse contato com profissionais da saúde a motivou a buscar um design de máscara para ser usada em hospitais. Os esboços de sutiã e os projetos do equipamento de segurança que estava desenvolvendo tinham semelhanças inegáveis: o bojo se tornou a parte frontal da máscara, que, assim como a roupa íntima, passou a levar alças de elástico para sustentar e ajustar a N95 à face, assim como um ferro moldável na área do nariz.
Apesar de inovadora, a invenção não entrou imediatamente nos hospitais. Primeiramente, foi utilizada em 1972 no meio industrial, para proteger os pulmões dos trabalhadores da construção civil, mineração e de outras indústrias, cujos ambientes continham substâncias nocivas ao sistema respiratório, como amianto e carvão, já que o tecido tinha a capacidade de barrar uma grande quantidade de micropartículas, mas ainda não era eficaz contra vírus e bactérias. A máscara recebeu o nome de N95 porque é eficiente na captura de 95% das partículas não presentes do ar (N de “não oleosa” e 95 referente à porcentagem).
É só em 1992, 20 anos depois, que o taiwanês Peter Tsai, pesquisador exemplar da Universidade do Tennessee, destaque nas áreas de matemática, física, engenharia elétrica e mecânica. Em meio a tantos talentos, dedicou-se à engenharia de materiais e deu à N95 a tecnologia de filtragem que estava faltando.
Submetido a um processo elétrico chamado descarga de corona – nome que lembra, mas não tem ligação ao vírus –, o material da máscara ficava ionizado. Esse efeito aumentou a capacidade de filtragem em dez vezes. Logo, além da eficiência da barreira física, dado que o tecido não possui tramas, Tsai acrescentou um tipo de revestimento elétrico, que finalmente deixou de fora os vírus e bactérias, ajudando no árduo trabalho de salvar a vida de médicos e, consequentemente, pacientes até hoje.