Bahia

Mais de 10 hectares de mangues são recuperados em reserva do Recôncavo Baiano

Estudo da UFRB mostra a importância do manguezal para a estocagem de carbono.

Mais de 10 hectares de mangues são recuperados em reserva do Recôncavo Baiano Mais de 10 hectares de mangues são recuperados em reserva do Recôncavo Baiano Mais de 10 hectares de mangues são recuperados em reserva do Recôncavo Baiano Mais de 10 hectares de mangues são recuperados em reserva do Recôncavo Baiano

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O aquecimento global é um assunto discutido em todo o mundo. A Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 25, reuniu representantes de quase 200 países durante o evento em Madri, na Espanha, no início de dezembro, para pensar em ações que reduzam este problema. Enquanto líderes mundiais se reuniam na Europa, o projeto CO2 Manguezal vem trabalhando com foco em reflorestamento e conservação de manguezais do Recôncavo Baiano, uma ação em que muito contribui para essa questão do clima.

Com o patrocínio da Petrobras, o projeto CO2 Manguezal recuperou, entre 2018 e 2019, mais de 10 hectares (ha) de manguezais nos municípios de Maragogipe, São Francisco do Conde e Cachoeira, além de 2,5 ha de áreas de Mata Atlântica, que tem a função de formar um cinturão para proteger os bosques de mangue.

As ações de reflorestamento e conservação contaram com ações paralelas como ações de limpeza das áreas de mangue, a produção de mais de 50 mil mudas de manguezal e outras 10 mil de Mata Atlântica e educação ambiental, com grande envolvimento da comunidade. “Além da equipe técnica, tivemos o apoio de mais de 20 colaboradores, que atuaram desde a coleta de sementes, organização do viveiro, até o plantio das mudas. Todos eles são pescadores e marisqueiras com muita experiência em manguezal”, explica Sarah Nascimento, bióloga do projeto.

Estocagem de carbono

A recuperação destas áreas de manguezal representa a garantia de renda para mais de 5 mil famílias que dependem da preservação da Reserva Extrativista Marinha Baía do Iguape, área em que o projeto atua. Porém, os benefícios ultrapassam as fronteiras e continentes. O manguezal é um ecossistema úmido que tem chamado a atenção de órgãos internacionais por conta da capacidade de captura de carbono (blue carbon) em relação a outros ecossistemas, como a Mata Atlântica e Caatinga.

O papel do mangue de armazenador de carbono é apresentado no livro CO2 Manguezal – Estudos Científicos. Estudos coordenados pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, parceira do projeto, evidenciam a importância do ecossistema para a estocagem de carbono. Em uma avaliação não destrutiva com medição da biomassa da vegetação das áreas de manguezal do Quilombo Salamina Putumuju e de Ponta do Souza, ambas em Maragogipe, os pesquisadores perceberam que a localidade degradada por conta de situações como a urbanização, esgotamento sanitário, extração de árvores e a pressão de pesca estoca 16% de carbono a menos que o território preservado.

“Percebe-se que a degradação empobrece o mangue, tanto na abundância e quanto no porte das espécies. Isso tem reflexo na biomassa e, consequentemente, na quantidade de carbono que esta árvore pode estocar. Então, o lixo, aterros, retirada de madeira dificultam que o manguezal preste este importante serviço de sequestrar e estocar o carbono. Caso contrário, este carbono fica livre na natureza poluindo, aquecendo a terra, modificando a maré e tudo mais que estamos experienciando atualmente na terra”, explica a doutora Alessandra Nasser Caiafa, professora de biologia vegetal da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

O CO2 Manguezal – Estudos Científicos reúne estudos realizados por seis pesquisadores ligados ao Laboratório de Ecologia Vegetal e Restauração Ecológica (LEVRE). Além da pesquisa sobre a capacidade de captura e estocagem de carbono da atmosfera em manguezais de Maragogipe e São Francisco do Conde, o livro traz também estudos sobre a contribuição de áreas de Mata Atlântica e seu componente ciliar para a conservação dos manguezais.

“O objetivo do livro é mostrar o quanto as coisas são correlacionadas. É importante a gente fazer um diagnóstico macro da paisagem, depois entender a companheira do manguezal, que é a Mata Atlântica, e, aí sim, entender a estocagem de carbono. Essas coisas são indissociáveis”, completa Alessandra Caiafa.

Educação Ambiental – conhecer para cuidar

Nos últimos dois anos, o projeto CO2 Manguezal realizou também atividades de educação ambiental, especialmente com crianças, pescadores e marisqueiras. Entre 2018 e 2019, foram atendidos mais de 4.500 estudantes do ensino fundamental I, com visitas a espaços interativos e atividades musicais. Além disso, 51 pessoas foram capacitadas em técnicas de produção de mudas, 228 agentes multiplicadores ambientais aprenderam a disseminar conhecimentos sobre a conservação do meio ambiente e 668 pescadores e marisqueiras conheceram alternativas sustentáveis para a atividade pesqueira e cuidados com a saúde.

“Nossa intenção é deixar um legado de uma educação ambiental para as próximas gerações, de gerar conhecimento para se preservar o ambiente. Com os pescadores tratamos especialmente sobre as artes de pesca, explicando sobre erros e acertos nas atividades deles. Para as crianças e professores buscamos levar mais consciência sobre do ambiente em que vivem, de forma lúdica e sem deixar de lado a cultura local,” ressalta o gerente de Meio Ambiente, Carlos Oliveira, mais conhecido em Maragogipe como Carlinhos de Tote.

Projeto CO2 Manguezal

Patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, o projeto CO2 Manguezal é executado pela Fundação Vovó do Mangue e tem foco no reflorestamento e conservação de manguezais e educação ambiental. A iniciativa produziu mais de 50.000 mudas de três espécies de mangue já recuperou mais de 10 hectares de áreas degradadas de manguezal em Maragogipe, São Francisco do Conde e Cachoeira. O CO2 Manguezal tem ainda o apoio da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), através do Laboratório LEVRE, e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Fundação Vovó do Mangue

Com 22 anos de experiência na realização de projetos socioambientais, a Fundação Vovó do Mangue é uma organização não-governamental, com sede em Maragogipe, na Bahia, no Recôncavo Baiano. Além de atuar no reflorestamento e conservação de manguezais, já desenvolveu projetos nas áreas de educação, cultura, esporte e inclusão socioprodutiva.