Acorda Cidade
Dois homens, um destino: voltar para casa depois de uma noite no Carnaval de Salvador. Os turistas cariocas João Donato, 28 anos, e Diogo Negri, 26, se perderam em meio à multidão do bloco Nana Banana e tiveram que voltar pra casa sozinhos.
João optou por um mototáxi e depois de 20 minutos e R$ 15 a menos no bolso estava em casa. “Foi tranquilo”, diz. Diogo achou melhor voltar de táxi e acabou por fazer o mesmo percurso, entre o bairro de Ondina e Graça, em uma hora. Para isso, teve que caminhar bastante até encontrar um carro e gastou R$ 35. “O trânsito aqui é absurdo. Além disso, já tive que andar até o Rio Vermelho para conseguir um táxi”, reclama.
Oportunidade
No Carnaval do congestionamento, os quase 4 mil mototaxistas de Salvador estão em festa. Cansados de percorrer quase um novo circuito em busca de um táxi livre e ainda ter de ficar preso no trânsito do entorno da festa, os foliões estão buscando alternativas mais práticas e econômicas.
O mototáxi é mais rápido, mais barato, topa qualquer corrida (o valor mínimo é R$ 2) e chega em qualquer lugar, levando o folião literalmente até o trio elétrico. Pela praticidade, quem anda de ônibus também tem optado pelo mototáxi. “Eu prefiro porque é mais rápido. Uso até em dias normais”, conta Mariana Almeida, moradora do Uruguai, depois de pagar R$ 10 por uma corrida de casa até o Canela.
Até os concorrentes reconhecem a vantagem dos passageiros. “Eu mesmo iria de moto”, revela o taxista Carlos Nunes, 57 anos, que tem levado cerca de uma hora para percorrer trechos que habitualmente faz em 10 minutos. Mas a alternativa não é só de vantagens.
Disputa
Bom para o passageiro, melhor para o motociclista, mas, para o taxista, nem tanto. “Eles atrapalham a gente. Quem pega mototáxi arrisca a vida. Eles não têm nenhum cadastro, não pagam nada para a prefeitura. São desconhecidos”, diz Nicanor Idelfonso, 72 anos, taxista desde os 21.
Ele confessa que tem voltado cedo pra casa nos dias de Carnaval, já que, com o engarrafamento, o trabalho não está valendo a pena. “De noite fica tudo travado. Assim é melhor ir pra casa cedo”, explica o taxista, que tem lucrado uma média de R$ 150 por dia. Enquanto isso, Isaías Almaço, mototaxista há 3 meses, tem trabalhado cerca de 15 horas por dia no Carnaval e vem ganhando R$ 300 em média.
A oferta tem até “fabricado” mototaxistas para o Carnaval. Renan Guerreiro é motoboy e está aproveitando o mercado para pagar a diversão. “Uno o útil ao agradável. Ganho uma graninha e depois tomo minha cerveja”, comemorou ele, depois de fazer 7 corridas em três horas e faturar R$ 45.
Mototáxi é irregular em Salvador
A Lei nº 12/009, que regulamenta o serviço de mototaxista no Brasil, passou a valer em julho de 2009, mas cada município deve estabelecer suas condições. Em Salvador, a proposta de regulamentação está sob análise da Procuradoria do Município. No dia 25 de fevereiro deste ano, a promotora de Justiça do Consumidor, Railda Suzart, ajuizou ação contra o município de Salvador e a Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador (Transalvador) alegando que a profissão vem sendo “livremente exercida, num verdadeiro atentado à segurança e à vida dos passageiros”.
No Carnaval, os mototaxistas têm atuado com liberdade, inclusive passando junto a agentes da Transalvador e em certos momentos de forma imprudente entre os foliões. Segundo o diretor da Transalvador, Renato Araújo, um relatório foi enviado para a promotora com dados de notificações e o órgão mantém a prática. Araújo disse também que blitze estão sendo realizadas com o apoio do Esquadrão Águia da Polícia Militar. Um motociclista flagrado fazendo corridas deve pagar multa de R$ 127. As informações são do Correio