Variedades
Brasileiros acreditam que homens que ficam em casa para cuidar dos filhos são 'menos homem'
Apesar de todas as campanhas existentes em busca da igualdade de gênero essa afirmativa mostra que em se tratando de paternidade ativa o assunto ainda é um tabu para parte da sociedade brasileira.
23/05/2019 às 09h44, Por Maylla Nunes
Acorda Cidade
Um estudo desenvolvido pelo Ipsos em parceria com o Instituto Global para a Liderança Feminina do King’s College London aponta que os brasileiros estão entre os que mais acreditam que o homem que fica em casa para cuidar dos filhos é “menos homem”. Apesar de todas as campanhas existentes em busca da igualdade de gênero essa afirmativa mostra que em se tratando de paternidade ativa o assunto ainda é um tabu para parte da sociedade brasileira.
A psicóloga do Hapvida Saúde, Danielle Azevedo, explica que o homem não deve achar que o fato de exercer a paternidade de modo a compartilhar os cuidados com o filho e/ou os afazeres domésticos o torna menos masculino. Para ela, o diálogo é o caminho para essa quebra de tabu. “É possível promover uma nova postura acerca do papel do pai dentro de uma família. Dialogar é sempre fundamental para que haja essa reconstrução da figura paterna no seio familiar”, explica.
O estudo realizado com 1.000 brasileiros, entre os dias 21 de dezembro de 2018 e 4 de janeiro de 2019 identificou que 26% acreditam nessa ideia de “menos homem”, opinião que não difere entre homens e mulheres que participaram da pesquisa. Diante de tal realidade a psicóloga afirma que culturalmente falando – de uma forma bem generalizada –, o Brasil ainda possui uma cultura machista potencializada. “Isso está muito relacionado a própria história, patenteado à família nuclear, em que a mulher é vista como mãe, do lar e submissa. Já o homem, o pai é o provedor, o que garante o sustento da família e responsável por pagar as contas”, destaca.
Apesar de existir esse pilar voltado para cultura do machismo, Danielle Azevedo acredita que tudo na vida é como o indivíduo se disponibiliza e se coloca no lugar do outro. “É preciso entender que há arestas que precisam ser trabalhadas, pois em alguns casos existe sempre a questão do que já foi experienciado por esse pai, há um contexto machista e de referências e traumas que podem estar ligados a essa questão dos cuidados, demonstração de carinho. Aí volto a afirmar que o diálogo é a válvula que ajusta toda e qualquer dificuldade”, defende.
Estímulo a igualdade de gênero
Transpor essa cultura machista é encontrar também um caminho de múltiplos benefícios para criança, tanto do ponto de vista emocional como da formação de um cidadão. Danielle acredita que a criança que tem os cuidados do pai da mesma forma que os recebe da mãe será muito beneficiada. Para a especialista, essa participação faz com que a criança entenda que os direitos são iguais, que as participações podem ser compartilhadas de forma igualitária, que será beneficiada por ambos (pai e mãe), que não vai existir essa diferenciação de gênero dentro de casa com pai ou com a mãe porque um coloca-a de castigo, enquanto o outro a beneficia com presentes.
Entretanto, a psicóloga ressalta que para mudar essa realidade ainda existente de pais distantes da rotina de cuidado dos filhos, o pai precisa querer assumir o espaço que o pertence. “Impor o desejo de querer ocupar o espaço com os cuidados com a criança é uma iniciativa que deve partir do pai, para que a atividade não seja vista como uma obrigação, mas sim, para que ela seja realizada com entrega, amor e leveza. Dessa forma, todos que compõe o ambiente familiar acabam sendo beneficiados”, conclui.
Pesquisa
O estudo citado na matéria foi divulgado no início do mês de maio e realizado em 27 países, com 18.800 entrevistados, sendo 1.000 brasileiros, entre os dias 21 de dezembro de 2018 e 4 de janeiro de 2019. A margem de erro é de 3,1 pontos percentuais.
O Instituto Ipsos é a terceira maior empresa de pesquisa e de inteligência de mercado do mundo. Fundada na França em 1975, a Ipsos conta hoje com 16.000 funcionários e está presente em 87 países, incluindo o Brasil.
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