Economia

Setor odontológico é ponto fora da curva na economia brasileira

Apesar de expansão, segmento ainda tem muitos desafios.

Acorda Cidade

Os dados são positivos para o segmento de odontologia no país. A crescente preocupação com a saúde bucal e com a estética impulsiona o setor, mesmo em épocas de crise financeira, como aconteceu nos dois últimos anos no Brasil, com recessão econômica. Hoje, o país está na quarta colocação no mercado de higiene bucal mundial. Nos últimos anos, o segmento odontológico faturou mais de 38 milhões de reais, de acordo com o Conselho Federal de Odontologia, sendo o único a obter superávit na balança comercial durante aproximadamente 10 anos.

Os dentistas estão em peso no Brasil – cerca de 15% dos profissionais estão no país. Eles possuem uma demanda cada vez maior de clientes. De acordo com uma pesquisa feita pela CFO, nove em cada 10 brasileiros afirmaram ser importante ir regularmente ao dentista e 72% costumam ir pelo menos uma vez por ano. A Abimo (Associação Brasileira da Indústria Médica, Odontológica e Hospitalar) relata que cerca de 800 mil implantes e 2,4 milhões de próteses dentárias são colocados em pacientes de todas as localidades do Brasil.

Para quem faz faculdade de odontologia, é uma ótima oportunidade para abrir um próprio consultório, já que 12 milhões de pessoas se consultam com dentistas com o objetivo de fazer reparações estéticas ou para melhorar a qualidade de vida. Os empreendedores e investidores aproveitam essa expansão do segmento no país para abrir franquias odontológicas. Hoje já são mais de mil unidades, distribuídas em mais de 20 redes, produzindo um faturamento na ordem de R$ 50 milhões.

Outra modalidade explorada no segmento são os planos odontológicos. De acordo com o departamento de economia do Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de Grupo (Sinog), de junho de 2016 a junho de 2018, 2,6 milhões de pessoas contrataram um plano odontológico, correspondendo a um crescimento de 12,60% em relação ao biênio anterior, que já havia obtido um acréscimo de 5,78%. Hoje, o segmento possui 23,45 milhões de beneficiários.

O plano coletivo por adesão foi o que mais cresceu (17,78%), seguido do individual/familiar (12,27%) e coletivo empresarial (12,15%). O movimento é contrário ao observado nos planos de saúde, com perda de 3 milhões de clientes nos últimos três anos, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). As fusões e aquisições também estão a pleno vapor. Só em 2018, foram cerca de quatro operações desse tipo no país, com valores milionários. Em agosto do ano passado, por exemplo, o grupo OdontoPrev adquiriu a empresa Odonto System, no Ceará, por R$ 201,6 milhões.

Apesar de toda essa expansão, o setor odontológico ainda tem muitos desafios pela frente, provocados pelas transformações tecnológicas e pelo modelo de trabalho. “A qualidade da assistência será o parâmetro de evolução do segmento odontológico. Quatro pilares irão balizar esse processo: incorporação tecnológica; novos modelos de remuneração; mudanças de hábitos e exigências do consumidor; e aspectos regulatórios”, disse o presidente do Sinog, Geraldo Almeida Lima, em entrevista para o Portal Investimentos em Notícias.

Lima, em artigo na Revista Cobertura, também expõe outro desafio enfrentado pelos planos odontológicos no Brasil – esse, de ordem cultural. Os brasileiros estão acostumados a um comportamento imediatista e contratam planos para cuidar da saúde bucal apenas quando possuem um problema específico. Assim que terminam o tratamento, os beneficiários cancelam esses contratos, por acreditarem que não precisarão mais desse tipo de serviço odontológico, como uma cirurgia.

Apesar de existirem pouco mais de 23 milhões de pessoas com planos odontológicos, a taxa de cancelamento – também conhecida por economistas como churn rate – dos planos individuais vem apresentando elevado índice. De acordo com os últimos dados disponíveis, 2,9% desses planos são cancelados por mês. Entre as outras modalidades, destacam-se, com um índice de cancelamento de 2,4% em planos coletivos empresariais e 2,0% para os coletivos por adesão.

Com um ticket médio acessível à população, o plano odontológico é um benefício que deve ser mantido por toda a vida, desde a infância, de acordo com Lima. “Além disso, o cancelamento poderá implicar, posteriormente, no aumento da sinistralidade, prejudicando beneficiários e operadoras”, escreve. Cabe aos profissionais e operadoras de planos odontológico conscientizarem a população sobre a importância de se manter a saúde bucal, independentemente da fase da vida em que se encontram.