Ney Silva
Ruas esburacadas por causa do nível alto do lençol freático, bombas de sucção dos reservatórios com defeito, moradores sem serviços sociais importantes como creches, escolas, posto de saúde e segurança pública. Esses são apenas alguns dos problemas constatados pela reportagem do Acorda Cidade na manhã deste sábado (22)
A situação do condomínio vai muito além do possível comércio de apartamentos denunciado esta semana por repórteres do Jornal Estado de São Paulo e que teve repercussão nacional.
Segundo levantamento feito pela associação de moradores do condomínio, das 440 unidades cerca de 50 por cento estão com problemas de inadimplência. O valor da prestação é de apenas R$ 50,00.
Essa inadimplência pode ser até justificada. A nossa reportagem verificou que alguns moradores não tem nem colchão para dormir. Outros tem dificuldades de pagar contas de água e luz cujos recibos juntos giram em torno de R$ 100,00.
“Estou muito feliz em morar aqui. Meu marido morreu, fiquei com três filhos e não esperava tão cedo ter minha casa própria”. O depoimento da dona-de-casa Marizete Araujo Santos não deixa dúvidas que apesar dos problemas a maioria dos moradores mostra-se satisfeitos em ter conseguido um apartamento.
Foto: Ney silva/Acorda Cidade
Acompanhada de um filho e uma filha, ela conta que há problemas que precisam ser resolvidos. Um desses problemas é a venda indevida de imóveis. Segundo Marizete, há boatos de que alguns apartamentos teriam sido comercializados por até R$ 15 mil.” Acho essa atitude um absurdo. Não pretendo vender o meu. Ou melhor.Não alugo, não vendo e não empresto.Comprei para morar”, afirma.
Mércia de Jesus Silva, que também adquiriu um apartamento diz que a situação do condomínio é crítica. Ela informa que os problemas vão desde a estrutura de saneamento básico até paredes rachadas. As bombas das caixas de água subterrâneas também estão apresentando defeito. A solução nesse caso, explica a moradora, é pegar água diretamente nas caixas o que pode provocar uma contaminação, além do risco de uma criança ou adulto cair dentro do reservatório.
Foto: Ney silva/Acorda Cidade
Secretária da associação de moradores do condomínio, Fabiana Ferreira foi escolhida ano passado para ser entrevistada pela então candidata á presidência da república, Dilma Roussef. Ela apareceu no programa política da atual presidente.
Fabiana, explica que quando o conjunto foi entregue era tudo lindo. “Estava tudo bem organizado e acredito que as coisas vão melhorar”, afirma. Ela diz que a associação está averiguando a possível venda indevida de apartamentos. Mas entende que esse problema é de responsabilidade da Caixa Econômica.“No que a gente puder ajudar a Caixa vamos fazer. Mas é o banco que tem que resolver”, ressalta.
Outro problema já identificado pela associação é que tem muitos moradores com um poder aquisitivo acima da média salarial exigida pela Caixa Econômica. Essa situação foi constatada pela reportagem do Acorda Cidade. De fato, existe muita desigualdade social e talvez seja a razão dos problemas de convivência entre os moradores. Enquanto alguns tem carros outros cozinham até á lenha porque não tem dinheiro nem para comprar carvão.
Quando foi entregue ano passado, o Nova Conceição tinha como destinação beneficiar pessoas com renda entre zero a três salários mínimos. Mas, ao percorrer os vários blocos do condomínio observa-se outra realidade.
Foto: Ney silva/Acorda Cidade
O presidente da associação de moradores, Edson Santos explica que os problemas verificados no Nova Conceição também existem nos conjuntos residenciais Conceição Ville e Rio São Francisco, financiados pelo programa Minha Casa, Minha Vida do Governo Federal.
Ele acredita que os problemas verificados até agora, principalmente a possível comercialização irregular de apartamentos se dá pelo fato de ter sido o primeiro conjunto a ser entregue no Brasil.
Foi Edson quem concedeu uma entrevista esta semana aos repórteres do jornal Estado de São Paulo e que teve muita repercussão em todo o Brasil. Em Novembro do ano passado haviam rumores de que essa comercialização de apartamentos estava ocorrendo. A superintendência da CEF em Feira de Santana não deu tanta importância á situação. Na época, o gerente de construção civil, Gilberto Reis, informou que só adotaria alguma medida se recebesse denúncia formal.
Segundo Edson Santos, a CEF já sabia desde o ano passado que havia esse comércio irregular de imóveis. “A Caixa já tinha conhecimento desse fato dois meses depois que os apartamentos foram entregues”, afirmou.
Equipe da CEF em ação
Uma equipe da Caixa Econômica Federal iniciou hoje um levantamento para diagnosticar todos os problemas existentes no condomínio. O trabalho é coordenado pela psicóloga Ana Elisa Santos Correia.
Foto: Ney silva/Acorda Cidade
De prancheta nas mãos ela demonstra otimismo em resolver os problemas no condomínio. Explicou que atua como assistente de projetos sociais da CEF em Feira de Santana. A função dela e dos demais integrantes é iniciar o Plano de Intervenção Técnico Social.
Segundo Ana, o objetivo é garantir a permanência das famílias beneficiadas com os imóveis através de ações informativas e integrativas. Outra finalidade do trabalho, diz a psicóloga é levantar dados referentes ás denuncias de comercialização dos imóveis.
Ela disse também que não é interesse da Caixa Econômica agir de forma coercitiva nem punir ninguém. “Estamos buscando conhecer essas famílias e apontar realmente que tipo de situação existe aqui nesse condomínio”, afirma Ana.
A psicóloga Ana Correia fez questão de ressaltar que a comercialização irregularde imóveis acontece em todas as camadas sociais e não é um privilégio do Nova Conceição. “Quando esse fato ocorre em um condomínio com faixa de renda de zero a três salários tem um aspecto social relevante que é o sentido da justiça social”, explica.
Pelas explicações ela não concorda com o comércio ilegal mas destaca que mesmo que isso ocorra o objetivo da CEF foi cumprido: Atender famílias carentes que não tinham onde morar.
O trabalho de diagnóstico do Nova Conceição através da Caixa Econômica deve ser concluído em uma semana.
Foto: Ney silva/Acorda Cidade
Uma equipe formada por estudantes de engenharia da R. Carvalho empresa que construiu o empreendimento também está trabalhando no condomínio. Um dos estudantes informou que todos os problemas de ordem estrutural serão resolvidos. Ele conversou com moradores e ouviu muitas reclamações.
Quanto a situação das ruas que ficaram esburacadas esse estudante disse que o asfalto foi danificado por causa da elevação do lençol freático. Ele garante que a construtora vai colocar um novo asfalto no condomínio. Informou também que as bombas de sucção dos reservatórios alvo de reclamações de moradores já foram substituídas.