Polícia

Presa amamenta filho de 6 meses dentro de delegacia no bairro Sobradinho

De acordo com o advogado de Silvana, Márcio Gonçalves, ele já solicitou a prisão domiciliar da acusada, mas até o momento a Justiça ainda não concedeu o benefício.

Laiane Cruz

Há dois meses presa por tráfico de drogas em uma cela do Complexo de Delegacias do bairro Sobradinho, em Feira de Santana, Silvana de Jesus, de 29 anos, amamenta o filho de apenas seis meses no local. A amamentação é de três em três horas, e familiares da jovem se revezam para levar o bebê até a mãe e garantir que ele seja alimentado com o leite materno.

De acordo com o advogado de Silvana, Márcio Gonçalves, ele já solicitou a prisão domiciliar da acusada, mas até o momento a Justiça ainda não concedeu o benefício.

“A situação de Silvana é desumana. Já foi pedida a prisão domiciliar em relação ao direito que ela tem. A criança não é culpada do que está acontecendo. Estamos solicitando a prisão domiciliar por ser um direito que o STF já concedeu inúmeras vezes a outras pessoas, e eu não entendo por que o juiz insiste em não conceder, pelo fato de ela já ter uma passagem, mas isso é algo que será apurado em outra oportunidade”, informou o advogado.

Ainda de acordo com Márcio Gonçalves, as drogas foram encontradas em uma casa vizinha á de Silvana, mas por ela já ter passagem por tráfico foi presa em flagrante. Ele disse ainda que a família está enfrentando dificuldades para levar o bebê até o Complexo todos os dias.

“Isso gera custo tanto para a família quanto para o estado, com policiais que estão em desvio de função. E o delegado Roberto Leal já emitiu um ofício junto à Vara de Saúde de Feira de Santana, pois está sendo improvisado um local no refeitório para esta criança amamentar. E a criança está numa situação que ela pode pegar uma infecção a qualquer momento, porque como todos sabem o Complexo Policial não tem estrutura nenhuma”, declarou.

Improviso

O coordenador regional de Polícia, delegado Roberto Leal, afirmou, em entrevista ao Acorda Cidade, que sempre é feita a custódia de mulheres no Complexo do Sobradinho, porém em celas separadas das dos homens. Segundo ele, foi permitido à custodiada amamentar todos os dias a criança, porém em um local improvisado para isso. 

“O que a gente faz é retirar a acusada para uma sala destinada a esse fim, ela amamenta e posteriormente retorna para custódia. A custódia aqui é temporária, para depois encaminhar ao presídio. Mas temos outros presos aqui também com outras necessidades e estamos dando todo o atendimento médico. Não existe aqui uma sala para amamentação, mas a gente destina um pequeno espaço para isso”, informou o delegado.

Superlotação

O coordenador de polícia, Roberto Leal, ressaltou ainda que o local enfrenta uma série de dificuldades desde que o Conjunto Penal de Feira de Santana foi interditado, há cerca de 90 dias.

“É do conhecimento de todos, inclusive do judiciário e do Ministério Público, as condições da custódia, e da situação que a gente vem passando, mas a gente tenta ao máximo reduzir os prejuízos. Por isso foi feita a tratativa, juntamente com o Ministério Público, para levar os presos pra Salvador, justamente na tentativa de diminuir os prejuízos e tentar manter a população carcerária aqui num nível aceitável”.

Ele destacou, entre os principais problemas, a questão da superlotação do setor da carceragem, o que fez com que toda a rotina do local fosse alterada para atender a demanda de presos.

“Tivemos que mudar a escala, inclusive restringir a ação do ‘Visão Noturna’ nos finais de semana, pois precisamos deslocar os investigadores de polícia para dar um reforço no plantão, devido ao quantitativo de presos que se encontram custodiados aqui. Fora isso, temos outros problemas com equipes para levar os presos a Salvador, e além do mais, temos as atividades corriqueiras. É necessário que uma equipe se dirija para pegar a alimentação dos presos três vezes por dia. Temos que levar os presos, caso necessário, para atendimento médico, e há outras necessidades, como vistorias nas celas”, relatou o delegado.

Roberto Leal disse também que ainda não tem uma previsão de quando o Conjunto Penal vai voltar a receber presos e teme que os problemas na carceragem do Complexo de Delegacias piorem com o passar do tempo.

“A gente percebe que esse problema vem se arrastando há alguns meses, e a gente sabe que no segundo semestre, quando se aproximam novembro e dezembro, há um incremento na quantidade de presos custodiados. A gente espera uma solução o mais rápido possível. A Polícia Civil que acabou arcando com esse ônus da interdição”, salientou.

 Com informações do repórter Aldo Matos do Acorda Cidade.