Caixinha de Música
Vanessa da Mata apresenta novo trabalho em Feira e fala em renascimento musical
O público feirense poderá conferir o novo show da artista neste sábado (26), no Armazém Privilege.
26/05/2018 às 14h26, Por Rachel Pinto
Acorda Cidade
Após três anos com as turnês de "Segue o Som" e o projeto intimista "Delicadeza", Vanessa da Mata volta com novidades trazidas no mais novo CD e DVD "Caixinha de Música". O público feirense poderá conferir o novo show da artista neste sábado (26), no Armazém Privilege. Vanessa conversou com o Acorda Cidade, onde contou as novidades do seu novo trabalho e o que o público feirense pode esperar do show na cidade.
Acorda Cidade – O que caracteriza seu novo trabalho Caixinha de Música?
Vanessa da Mata – Caixinha para mim é um momento muito forte, um renascimento musical, renascimento da minha concepção de arte. Os arranjos eletrônicos, as novas músicas, até uma fase nova da minha vida, junto com letras que marcam o Brasil, como “Gente Feliz”, que fala de um Brasil saindo da adolescência, no sentido de responsabilidade, de estar cansado de perceber vários defeitos paternais que não podem existir, até na concepção de que é preciso perceber todos esses erros e não perder a felicidade – que é uma característica nossa muito forte, positiva no mundo inteiro. Continuar tendo positividade dentro de uma grande decepção, tanta sujeira sendo mostrada nos partidos políticos, etc, isso requer revigoramento/nascimento. E esse DVD é um registro meu de um momento que eu gosto, dentre tantos outros que estão no MultiShow, no Youtube, mas não registrei oficialmente para mim. Muitas pessoas têm esses registros e, oficialmente, eu não. Então “Caixinha de Música” tem essa diversidade, momentos mais artísticos, introspectivos, cujas letras são fortes e, em outros momentos são mais pops, mais abertos, extrovertidos – que é quando a caixinha se abre completamente numa fase de música mais solta. E tem a fase que conta dos amores, das desilusões e do cotidiano brasileiro que eu gosto muito de contar.
AC – O single ‘Caixinha de Música’, parece querer mostrar uma mensagem de liberdade da mulher. Foi escrita com esse propósito?
Vanessa da Mata – É uma libertação, na verdade a libertação de uma desilusão amorosa. Eu percebo muitas mulheres machucadas pelo Brasil, pelo exterior, mulheres que estão sozinhas e não querem mais namorar, enquanto os homens da mesma idade estão superabertos. Caixinha de Música tem um propósito de chamar pessoas em geral que estão machucadas, que se sentem magoadas no amor e que não querem mais ter a possibilidade de sofrer tamanha dor novamente. Foi inclusive uma proposta pra mim, que estava me sentindo muito ensimesmada, num autocontrole racional muito grande, e essa música veio num momento em que eu me senti um pouco mais atenta por coisas miúdas, coisas delicadas, que eu já não estava muito aberta a ver.
Sobre a liberdade feminina, eu tenho um amigo chamado José Eduardo que sempre me diz: “Você não é feminista, você é pós-feminista” (risos). Realmente é verdade. Eu sempre fui de conquistar, desde muito cedo. Eu nasci num lugar extremamente machista e a sensação que eu tinha era que era um lugar que se passava nos anos 50. Então eu tive que ser extremamente forte, tanto quanto, ou eu não sairia do lugar. Pra mim, eu nunca entendi o machismo – é totalmente diferente do feminismo. O machismo ele quer além, o feminismo simplesmente quer igual. Eu sempre fui “pós”. Eu não admiti, em nenhum momento, qualquer situação que me levasse a não ter porque simplesmente eu era feminina demais, ou usava saião. Eu adoro coisas femininas – e gosto de homem. A ideia não é o que as pessoas muitas vezes entendem sobre feminismo, que é o contrário de misógino – que é o ódio. O feminismo não tem nada a ver com isso, é simplesmente querer que as coisas não sejam injustas.
AC – Seu novo trabalho traz uma parceria com a banda Baiana System. Como surgiu essa aproximação com os músicos baianos?
Vanessa da Mata – Bom, era um DVD que precisava registrar musicas ainda não registradas em imagem. Essa era uma prioridade! Muitos artistas tem para cada disco, um DVD. Esse era apenas o meu segundo e já com cinco discos de carreira autoral! Felguk fez a parceria nos arranjos eletrônicos de uma música minha. Gosto muito do que eles fizeram. Danço com eles. Baiana veio depois e é uma explosão. Gosto da força musical deles, do eletrônico junto ao folclórico, com as letras necessárias, a doçura dos meninos nada injetados na capacidade que o mercado tem de tentar nos colocar etc. Felguk foi apresentado por meu empresário. Baiana foi enquanto eu me maquiava em um festival onde eles estavam tocando, me preparando para entrar logo depois, prestei atenção e ficando impressionada com a força musical deles! Feliz pela aparição de artistas assim.
AC – Qual a sua relação com a Bahia e musicalidade do nosso estado?
Vanessa da Mata – A minha família materna é baiana, vieram do interior da BA para povoar o estado do Mato Grosso. Naquela época, o governo mato-grossense doava terras para quem quisesse se mudar para lá, e eles foram. Minha mãe conheceu meu pai mineiro e se casaram. A minha influência materna é gigantesca, dado que eu morava com a minha avó e a noite ia pra casa da minha mãe porque ela trabalhava o dia inteiro. Minha avó contava histórias da Bahia o tempo todo. A gente, como tinha pouca influência mato-grossense – era um estado novo e a minha cidade tinha 50 anos, portanto muita gente veio de fora, tínhamos, às vezes, a impressão de estarmos na Bahia. Meu avô negro e baiano tocava na fanfarra da Bahia, passou a não tocar mais no MT porque lá não existia. E a musicalidade também veio da minha avó, que dançava e cantava todo tempo, e rodava sempre – eu herdei isso vendo ela fazer – tinha uma voz maravilhosa também, assim como minha mãe, que tem um agudo soprano expressivo e aveludado. Acho que herdei a musicalidade deles. O dom da palavra também, porque minha mãe tem uma facilidade imensa pra escrever, na oralidade – ela é diretora de escola e minhas tias são educadoras. Então essa necessidade de escrever, de explicar melhor e trazer novas reflexões, eu acho que herdei deles, que têm uma eloquência e diálogos intensos.
AC – O que o público pode esperar do seu show?
Vanessa da Mata – Geralmente digo que podem esperar a melhor coisa possível dos meus shows. A sensação que eu tenho é que estou sendo generosa para com o publico, porque por mais que eu tenha que chamar tal música que eu já cantei muito, eu me sinto generosa e não me sinto cansada por cantá-la no palco. Depois eu não escuto de jeito nenhum (risos). “Ainda bem”, “Ai ai ai”, “Amado”, os sucessos estão aí. A canção do Luiz Ayrão voltou nesses últimos tempos e algumas surpresas, também. E as musicas mais novas, que passam outros recados, estão também dentro do show em lugares de destaque. A gente procurou trazer arranjos um pouco diferentes, mesmo sendo musicas que tocam – “Ai ai ai”, por exemplo, que agora está tocando bastante na versão de djs como Felguk. Estamos trazendo de uma maneira diferente até para nós, com um pouco de eletrônico.
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