Laiane Cruz
Na última segunda-feira (5), oito adolescentes fugiram após pularem o muro da Comunidade de Acolhimento Socioeducativa Zilda Arns, em Feira de Santana. Horas após a fuga, os internos foram recapturados e reencaminhados para a instituição, que abriga menores infratores a partir dos 12 anos de idade.
(Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade)
De acordo com o presidente do Sindicato dos Agentes Disciplinadores, Zito Santos, o episódio envolvendo os internos, que antes de fugirem agrediram um funcionário, é o reflexo de um sistema defasado.
“O estado não entendeu a evolução desses adolescentes e entende como se houvesse crianças lá dentro. Os adolescentes são muito mais inteirados e perigosos do que o entendimento do estado. Esses internos entram a partir dos 12 anos até os 17 anos, mas quando eles pegam medida, eles ficam até mais de 20 anos”, afirmou Zito Santos.
O sindicalista explica que quando um adolescente comete um crime é responsabilizado por ato infracional. Na comunidade, esses jovens são bem tratados e recebem acompanhamento de profissionais especializados. “O tratamento é de excelência. Eles têm seis refeições, psicólogo, assistente social, enfermaria, visitas periódicas, direito a telefonemas, lazer e recreação.”
(Foto: Aldo Matos/ Acorda Cidade)
Crimes graves
Apesar do tratamento diferenciado, muitos dos adolescentes encaminhados para a Case foram responsáveis por crimes graves. Além disso, o presidente do sindicato afirma que há disputas entre facções dentro da unidade, dentre as quais se destacam as facções Katiara e Caveira.
“Lá tem duas formas de medida: a provisória para delitos leves, como porte de arma, roubo de celular, assaltos, que vai de 45 a 90 dias, de acordo com o entendimento do juiz, e para infrações mais graves. Lá há adolescentes que cometeram latrocínios (roubo seguido de morte), homicídios, que para o sistema são atos infracionais e os autores pegam medidas educativas de seis meses a três anos”, revela.
Outro motivo de preocupação com relação à situação dos internos é a quantidade de profissionais que trabalham na Case. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, deve haver um profissional para cada três internos, o que não se aplica à realidade do local.
“A maior preocupação do sindicato é com a integridade física dos adolescentes, mas principalmente dos profissionais que lidam com eles, porque é um contato direto. Eles ficam 24 horas em contato com esses adolescentes, e muitos deles são agressivos, são maiores de idade, muitos têm uma compleição física avantajada. Pra eles perderem o equilíbrio é de um momento para outro e são naturalmente agressivos, e os profissionais precisam estar bem preparados”, ressaltou Zito Santos.
Outra questão, conforme Zito Santos, a alta rotatividade da mão de obra que trabalha na comunidade. “Profissionais treinados e qualificados foram substituídos por profissionais menos capacitados, sem experiência com a lida, e esses adolescentes são sobreviventes de um mundo perverso e percebem a inexperiência dos novatos e provocam para dar condições de fuga. Eles não são anjos”, declara.
O sindicalista destacou que o salário dos agentes disciplinadores da Bahia é o menor do país, menor do que mil reais. Outra dificuldade é a falta de estrutura para esses profissionais, com equipamentos sucateados.
“O profissional fica lá 24 horas e precisa de repouso e descanso, mas a estrutura física está muito defasada e os equipamentos precisam ser trocados, como detectores de metais e rádios HT, que estão sucateados. Essa é uma luta direta com a administração, a Fundac (Fundação da Criança e do Adolescente), estamos sempre cobrando melhoria para um melhor atendimento a esses adolescentes internados”.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.
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