Daniela Cardoso e Rachel Pinto
A violência contra a mulher vem crescendo em Feira de Santana. Os dados da Delegacia de Atendimento a Mulher (Deam), repassados a ONG Versos de Mulher, mostram que em 2017 o número de mulheres vítimas de violência já é maior do que no ano passado. A educadora sexual Raquele Carvalho aponta o machismo como a causa principal da violência.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
“A maneira de se relacionar, o machismo, causa toda essa violência. O machismo mata e mata de verdade. Muitas pessoas entendem a mulher como um objeto e acham que podem fazer o que quiser. A divisão dos papéis sexuais reafirma a situação de machismo e o homem se sente com propriedade para bater e fazer outras coisas. É uma situação de saúde pública. O Brasil é considerado pela ONU um dos piores países para se nascer mulher e nosso estado esses números estão crescendo”, destacou.
Segundo Raquele Carvalho, as estatísticas mostram que a cada cinco mulheres que conhecemos, pelo menos uma sofre, já sofreu ou vai sofrer violência. A educadora sexual destaca a importância de ações que possam fortalecer as mulheres que estão sofrendo agressões e não sabem como pedir ajuda.
“É dever de todos buscar por uma situação melhor de sobrevivência dessas mulheres. Todos podem denunciar. Nos dados fornecidos pela Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher mostram que a violência já é superior aos dados do ano passado. Isso é assustador, pois estamos na metade do ano. Por outro lado, tem muita gente que não faz a denúncia, então os dados podem ser maiores. Muitas mulheres têm medo, são ameaçadas, não recebem apoio, não entendem que existem equipamentos que possam dar apoio”, afirmou.
Funcionamento da Ronda Maria da Penha
Funcionando desde o ano passado para assegurar as mulheres feirenses o afastamento de seus companheiros que as ameaçam, a ronda Maria da Penha, realizada pela Polícia Militar (PM), tem assegurado toda a proteção possível. A coordenadora da ronda Maria da Penha, a tenente PM Edilene dos Anjos deu mais detalhes dessa ação e segundo ela, é muito importante que as mulheres vítimas de agressão denunciem seus agressores para que possam entrar no sistema de proteção.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
“Se sofreu agressão deve ir à Delegacia da Mulher e registrar o boletim de ocorrência. A delegada vai expedir, solicitar a medida protetiva e o juiz vai deferir. Nós da ronda Maria da Penha trabalhamos em regime preventivo, não reativo e aí quando o juiz deferir essa medida, manda para a gente fiscalizar e começar a fazer a visita na casa dessas mulheres”, disse.
A tenente ressalta, que a equipe da ronda Maria da Penha não tem o olhar de julgamento para mulheres que retornam para os maridos e o desejo não é que haja separação do casal e sim o respeito. Que a mulher seja tratada como ser humano e como sujeito de direitos.
“O efetivo não tem esse olhar julgador para essa mulher, A gente orienta. Porque a mulher também não é obrigada a ter a visita da ronda. Ela pode optar por terminar essas visitas e aí ela assina uma certidão que não tem mais interesse porque ela retornou para companheiro. Mas, continuamos acompanhando. A mulher tem que ficar à vontade e não pode sentir vergonha. A mulher entra no ciclo da violência por vários motivos e alguns fatores que faz com que ela ceda são os filhos e a dependência financeira.
Ronda Maria da Penha
Sancionada em 07 de agosto de 2006, a Lei Maria da Penha está em vigor há onze anos e incentivou o surgimento de ações que dão fluidez ao combate à violência contra a mulher no país. Na Bahia, a Operação Ronda Maria da Penha faz o acompanhamento das medidas protetivas estabelecidas pela justiça em Salvador, Juazeiro, Vitória da Conquista, Paulo Afonso, Feira de Santana e Itabuna.
Criada há 2 anos e 5 meses, a ação atende a mulheres como a gestora de Recursos Humanos (RH), Edileia Leal, que desde 2010 se defende das agressões do ex-marido. As agressões verbais, psicológicas e físicas começaram quando Edileia descobriu o relacionamento extraconjugal do então companheiro. Foram xingamentos, humilhações e até socos. Após a separação, por não aceitar que a ex-esposa seguisse em frente com sua vida, o agressor cometeu três tentativas de assassinato.
Até o mês de julho de 2017, 1.374 mulheres já foram atendidas, 78 agressores foram conduzidos à delegacia, 20 termos circunstanciais de ocorrência foram emitidos e 413 palestras e eventos foram realizados. Também foram geradas 5.659 fiscalizações de medidas protetivas
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.