Saúde
Síndrome relacionada ao trabalho é classificada como doença pela OMS
A professora de psicologia da Unifacs, Roberta Machado, que é especialista em saúde mental, destacou que a Síndrome de Burnout está relacionada com a exaustão.
13/08/2019 às 16h24, Por Maylla Nunes
Daniela Cardoso e Ney Silva
O esgotamento profissional, conhecido como Síndrome de Burnout, foi incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID) pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A lista é baseada nas conclusões de especialistas de todo o mundo e utilizada para estabelecer tendências e estatísticas de saúde.
A professora de psicologia da Unifacs, Roberta Machado, que é especialista em saúde mental, destacou que a Síndrome de Burnout está relacionada com a exaustão. Ela explica que antes as pessoas tinham uma noção de sobrecarga no trabalho, que poderia levar os trabalhadores ao sofrimento metal. Mas que agora criou-se a Síndrome de Burnout para entender que há sinais a mais para o trabalhador, que envolvem um adoecimento crônico, um adoecimento mental de gravidade.
“Não é só mais a sensação de cansaço. A Síndrome de Burnout acontece quando a pessoa não sabe mais quem é, não sabe o significado do trabalho, a pessoa apresenta alterações psíquicas, se perdem no tempo, no espaço, uma série de complicações até comportamentais, como agressividade e humor deprimido, tremores. É um conjunto de sinais e sintomas que caracterizam que o trabalhador está em exaustão física e emocional”, explicou.
Síndrome de Burnout e a depressão
A psicóloga falou ainda sobre as semelhanças e diferenças da Síndrome de Burnout e a depressão. Segundo ela, a síndrome não pode ser considerada como depressão, apesar de apresentar sintomas parecidos, pois a Síndrome de Burnout apresenta ainda outros sinais.
“A gente vai ver sinais de ansiedade e de episódios depressivos, mas a gente não pode considerar depressão, pois a essência pra dizer que tem Síndrome de Burnout, é aquele trabalhador, que tem vários sinais e sintomas, mas que estão relacionados com o trabalho, com a exaustão. Hoje é muito frequente a gente ter uma sobrecarga, para além da carga horária que foi contratado e isso causa exaustão física e emocional”, destacou.
Causas
De acordo com a psicóloga Roberta Machado, tem várias condições de trabalho que levam o sujeito a exaustão emocional. Ela exemplificou os profissionais de saúde, que trabalham em regime de plantão.
“Quem trabalha de plantão tem 24 horas de tensão e quando sai já vai trabalhar em outro local, então existe a extensão da carga horária. Hoje as pessoas são contratadas para trabalhar numa carga horária de 40 horas, mas devido a necessidade financeira que faz as pessoas terem que trabalhar em outro lugar, ou o próprio trabalho exige demais, chegando ao ponto do trabalhador ter a Síndrome de Burnout, por conta da estafa”.
A psicóloga Roberta Machado destaca a importância da Organização Mundial de Saúde colocar a Síndrome de Burnout como uma doença. Segundo ela, isso é um avanço, pois quando se considera como uma doença fica mais fácil provar a causa do acometimento do adoecimento pelo trabalhador.
“Quando a gente pensa em saúde mental do trabalhador, a área da psicologia, a gente entende que precisa associar sinais e sintomas com o trabalho. Às vezes o trabalhador pode apresentar determinados sintomas e que não necessariamente é por conta do trabalho. Com o adoecimento crônico, sendo considerado doença, a gente vai poder fazer um nexo causal realmente efetivo. O nosso problema é que quando a gente tinha um trabalhador acometido por acidente de trabalhado, era uma coisa visível. Mas quando o sujeito vem inteiro dizendo que está adoecido porque o chefe humilha, como vamos provar isso? Agora a gente tem como provar que o chefe passa trabalho demais e por isso que ele está em estafa, então isso é um avanço”, explicou.
Prevenção
Para a especialista, conciliar produtividade e saúde metal tem sido um grande desafio para a maioria dos trabalhadores. Ela destacou que é preciso relacionar os adoecimentos do momento com o cenário político e econômico que a gente vive e lembrou que vivemos em um momento neoliberal e capitalista, onde o capitalismo influencia as pessoas a trabalharem em excesso.
“É considerada uma pessoa produtiva aquela que faz a obrigação dela e ainda faz mais. Não há limites para trabalho e pra hora de trabalho. A pessoa está no celular resolvendo coisas de trabalho, nas horas em que deveria estar descansando, ou seja, o capitalismo faz você pensar que deve produzir e produzir e que você só vai ser bom e ficar no emprego se ir além, o que não é verdade, pois a gente precisa de lazer, precisa de um momento de ócio”, disse.
Maléficos da tecnologia e redes sociais
A especialista em saúde mental, Roberta Machado destaca que quando não se tinha tecnologia, as pessoas tinham tempo de reflexão. Hoje as pessoas não reservam mais esse tempo e a Síndrome de Burnout tem tomado um espaço grande. Ela frisa que é um desafio ter uma vida tranquila em meio a tantas demandas pessoais e profissionais e orienta que as pessoas devem refletir sobre suas prioridades na vida.
“O que é necessidade para mim? consigo controlar determinados comportamentos? Se eu saí do trabalho agora, porque tenho que ficar conversando no whatsapp no grupo de trabalho? A gente tem que desenvolver inteligência emocional e outras características que podem nos ajudar. É um desafio, pois o próprio mercado de trabalho, o próprio contexto nos obriga a entender que a gente só é bom quando produz em excesso. O uso ilimitado de redes sociais pode agravar e potencializar os sintomas da Síndrome de Burnout. A pessoa fica mais ansiosa, fica com o humor mais rebaixado quando não consegue atingir as metas estabelecidas pela empresa. Quando eu chego a exaustão emocional e física é quando já não tenho mais forças, pois cheguei no meu limite”, afirmou.
Tratamento
A psicóloga considera que a Síndrome de Burnout é algo bem sério e que mostra um panorama de como a sociedade está hoje, por isso tem o impacto de virar doença de acordo com a OMS. Segundo ela, isso mostra o perigo que o trabalhador está vivendo atualmente. Roberta considera que o tratamento deve ir além do acompanhamento com profissionais de saúde.
“As pessoas estão adoecidas por conta do trabalho, a maneira como o trabalho é conduzido. O tratamento não deve ser apenas com um profissional, pois trata de um conjunto. Além disso, o ambiente familiar é uma contribuição importante, os momentos de lazer. Tem pessoas que não sabem o que vai satisfazer, trazer um alivio para si. O autoconhecimento é importante. O psicólogo ajuda a lidar com as emoções, o psiquiatra em alguns momentos é importante, pois algumas pessoas tem insônia, perda de apetite ou compulsão alimentar, por conta da estafa. A pessoa vai precisar de remédios para tratar a questão do humor, o controle da ansiedade. Tem pessoas que podem ter comprometimento neurológico, tem gente que tem uma exaustão tão extensa, que tem comprometimento motor, então cada caso é avaliado em sua necessidade”, afirmou.
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