Feira de Santana e Salvador

PM e comerciante são suspeitos de envolvimento em assaltos a carteiros

Bairros onde foram registradas mais ações dos criminosos foram Brotas, Pirajá, Itapuã, Boca do Rio e Caminho das Árvores

22/10/2011 às 09h52, Por Andrea Trindade

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Passos mais apressados que o normal, olhos atentos e muita, muita tensão. Tanto temor do carteiro Verivaldo Souza Cerqueira, 56 anos, não é causado pelos cães que ficam à espera dele perto das caixas de correspondência.

O que motiva o medo são as quadrilhas especializadas em assaltar carteiros em busca de cartões de crédito usados em compras e fraudes bancárias. Verivaldo, vítima de 12 assaltos, é um dos 500 carteiros que foram alvo desses grupos entre 2010 e 2011, em Salvador e Região Metropolitana.

Ontem, porém, integrantes das três principais quadrilhas do tipo foram presos na Operação Carta na Manga, da Polícia Federal (PF). Até as 18h, 18 pessoas haviam sido presas, sendo três mulheres.

As prisões foram realizadas em Salvador, Feira de Santana e Macaé (RJ). Ao todo, os agentes federais tentaram cumprir 28 mandados de prisão, dos quais 12 eram preventivas e 16 temporárias, além de 33 mandados de busca e apreensão.

A Polícia Federal não divulgou o nome de nenhum dos presos, mas entre eles está um jovem que é estudante de Direito da Faculdade Integrada da Bahia (FIB). Ele foi preso dentro da própria casa, na Boca do Rio. De acordo com a PF, o rapaz é líder de uma das quadrilhas.

Outro chefe do esquema foi preso na região das Sete Portas. Entre os demais levados ao Complexo Penitenciário da Mata Escura, está um funcionário de uma empresa de telemarketing, assaltantes e estelionatários. A PF agora procura o líder do terceiro grupo, além de um policial militar e um comerciante envolvidos.

Os mandados foram expedidos pelaVara da Justiça Federal na Bahia, após parecer favorável da Coordenadoria Criminal da Procuradoria da República na Bahia.

Segundo o superintendente da PF de Salvador, José Maria Fonseca, os bairros onde foram registradas mais ações dos criminosos foram Brotas, Pirajá, Itapuã, Boca do Rio e Caminho das Árvores. Ainda de acordo com Fonseca, as três quadrilhas agiam de forma independente, mas mantinham contato entre elas.

Esquema


Fotos: Correio

Os líderes dos bandos financiavam os assaltantes, fornecendo veículos e armamentos para que esses roubassem os carteiros em busca de cartões de crédito, débito ou de contas enviados pelos Correios. Os ladrões recebiam de R$ 50 a R$ 200 por cartão roubado.

De posse dos cartões, outros integrantes das quadrilhas realizavam o desbloqueio junto às instituições financeiras, se passando pelos verdadeiros titulares.

As quadrilhas possuíam senhas de acessos a bancos de dados públicos e privados, de acesso restrito ou não, além de contar com integrantes que trabalhavam em operadoras de telefonia móvel, que conseguiam identificação dos titulares dos cartões roubados.

Outros participantes do esquema eram estelionatários que falsificavam documentos de identidade e carteiras de habilitação com os nomes dos titulares dos cartões.

Compras


De posse dos cartões desbloqueados e dos documentos falsos, outros integrantes das quadrilhasneste caso mais mulheresiam a estabelecimentos comerciais e realizavam compras de diversos bens, principalmente eletroeletrônicos.

A Polícia Federal identificou ainda empregados de casas comerciais e até mesmo proprietários de algumas lojas que facilitavam as compras do bando. Os bens eram divididos entre os principais integrantes do grupo ou revendidos com preços abaixo do valor de mercado para outros comerciantes, com divisão do dinheiro obtido.

Outra forma da quadrilha lucrar era com a realização de saques fraudulentos em caixas eletrônicos, também utilizando os cartões obtidos nos roubos.

Os mandados de prisão foram executados por 124 agentes federais, com apoio de policiais civis e militares. A maioria das prisões foi realizada em Salvador, após incursões nos bairros das Sete Portas, Engomadeira, Stella Maris, Nazaré e Boca do Rio, onde foi capturado o universitário.

Apreensão


A polícia encontrou na casa dele duas armas, uma pistola .40 e um revólver calibre 38, que eram utilizados pelos assaltantes nas abordagens aos carteiros.

Também foram apreendidos diversos eletrodomésticos e bens de valor comprados com os cartões roubados. Com o estudante também foram apreendidos uma caminhonete de luxo, diversos cartões roubados dos carteiros e equipamentos utilizados para falsificar documentos.

Em Feira de Santana, duas pessoas foram presas. na cidade de Macaé (RJ), um assaltante foi detido. Todos os presos vão responder por formação de quadrilha, roubo qualificado, estelionato, falsificação de documento público e uso de documento falso.

Bandidos fizeram carteiro refém


cerca de seis meses, o carteiro Verivaldo Cerqueira passou uma das piores experiências da vida. Ele, que na ocasião havia sido assaltado 11 vezes, nunca tinha visto a morte de tão perto.

Eram cerca de 16h, Verivaldo tinha entregue a maioria das correspondências e caminhava perto do Centro de Convenções. lhe restavam oito pacotes. Quando se aproximava da Kombi de entregas, o susto: um homem saiu de trás do veículo e encostou o cano do revólver em sua testa.

“Naquele momento, um filme passou pela minha cabeça”, relembra. Ele conta que o bandido de “cara limpa” o encarou nos olhos, exibiu a arma e perguntou: “Você sabe o que é isso?”.  Verivaldo conta que na hora lhe faltaram palavras, mas o assaltante estava muito agitado para compreender que o medo havia lhe paralisado.

“Então ele perguntou se eu estava de brincadeira e mandou olhar para o outro lado”. Ao desviar a vista, o carteiro viu outras duas pessoas armadas dentro de uma Pajero.

“Depois, ele deu um tapa na minha cabeça achando que estava encarando os caras”. Verivaldo foi obrigado a conduzir a Kombi até a localidade de Curralinho, na Boca do Rio. Foi nesse momento que ele pensou que sua vida se encerraria.

“Um deles disse: ‘Vamos levar’. Mais aí, um outro, que parecia o líder, preferiu me trancar na mala da Kombi”, contou. Verivaldo continua trabalhando na região do episódio e só pensa na aposentadoria. “Faltam só dois anos. Quero esquecer tudo e viver no interior”, conclui.

Fonte: Correio

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