Feira de Santana

Suspensão do Censo do IBGE em 2021 traz prejuízos aos dados e à economia feirense

Outro impacto da falta das pesquisas é com relação à quantidade de habitantes de Feira, que em 11 anos também sofreu alteração, sobretudo pelo município ser um grande entroncamento comercial.

03/08/2021 às 08h32, Por Rachel Pinto

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Laiane Cruz

A suspensão do censo demográfico em 2021 trouxe prejuízos também para a cidade de Feira de Santana, que ainda terá que contar com dados de 2010 para basear as pesquisas feitas por amostragens de domicílios. A direção nacional do Instituto confirmou que o IBGE se prepara para a realização do censo demográfico a partir de 1º de junho de 2022. No entanto, a data seria apenas uma previsão e ainda precisará ser confirmada junto ao governo.

De acordo com o chefe da agência do IBGE de Feira de Santana, Thiago Pimentel, o impacto do cancelamento do censo este foi enorme, devido à grande defasagem das informações.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“As pesquisas do IBGE por domicílio precisam dos dados do Censo para servir de base. É como se fosse um grande bolo e pegássemos uma fatia para fazer uma atualização dos dados. Como não temos mais esse bolo, não temos de onde tirar essa fatia. Estamos pegando o bolo de 2010. Os dados estão muito defasados, e no caso de Feira e outros municípios do Brasil, a gente não consegue fazer dados regionalizados a nível de município, distrito e bairro, sem que haja o censo”, afirmou Pimentel.

Ele citou como exemplo a expansão imobiliária que vem ocorrendo em Feira de Santana desde 2012. De lá para cá, bairros como o Papagaio, a região da Avenida Fraga Maia e o Feira V tiveram crescimento, mas em 2010 esses locais eram poucos habitados.

“Por outro lado, no centro, tinha muito mais gente morando e agora já não tem mais. Então essa composição interna de Feira de Santana a gente só vai conseguir atualizar quando fizer o censo”, destacou.

Outro impacto da falta das pesquisas é com relação à quantidade de habitantes de Feira, que em 11 anos também sofreu alteração, sobretudo pelo município ser um grande entroncamento comercial.

“Isso é outro fato grave pra gente não realizar o censo, porque a população tem, de certa forma, se estabilizado. As pessoas não têm mais sete, oito filhos, ou 10 a 15 filhos, como antigamente. Atualmente, a média que um casal tem são dois, no máximo, e o que hoje vai fazer uma população aumentar ou diminuir é a questão da migração. E Feira sofre uma grande migração, principalmente depois desse 'boom' imobiliário, abertura de comércios, empresas, e o município, por ser entroncamento, fortalece para a gente a ideia de que teve um acréscimo bom de população. Mas a gente não terá certeza disso e ficará no campo da especulação, enquanto a gente não puder ir a campo”, ressaltou o chefe do Instituto em Feira.

Fundo de Participação dos Municípios

Segundo Thiago Pimentel, a falta de realização do censo demográfico trará impactos também para a economia dos municípios brasileiros, uma vez que a atualização tem como objetivo principal o recebimento de verbas que são repassadas do Governo Federal, que é o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). E o valor que é recebido atualmente em Feira de Santana é pago com base na última atualização, que foi de aproximadamente 670 mil habitantes.

“O censo demográfico é a pesquisa mais completa que o IBGE faz, a mais abrangente que existe no Brasil. A gente vai a todos os domicílios do país, e além de contar a população, a gente coleta dados sobre trabalho, rendimentos, educação e características dos domicílios. O objetivo é captar as informações básicas do país. O slogan do censo é: ‘Saber quem somos, quantos somos e como vivemos’.

Ele explicou que o censo é realizado a cada 10 anos, porém em anos em que não é feito o censo, o IBGE faz pesquisas por amostras, com fatias dos domicílios pesquisados. “Vamos atualizando os dados do censo por essas pesquisas, que são amostras. Por esse motivo que fazemos o censo de dez em dez anos, porque ele serve de base para essas outras pesquisas, como é o caso da pesquisa nacional por amostra de domicílios que traz os dados do emprego e desemprego, que divulgamos a cada mês, de três em três meses e anualmente.”

Pandemia e cortes no orçamento

De acordo com o chefe do IBGE em Feira, o instituto se planejou para realizar o censo em 2020. Contudo, por conta da pandemia, a pesquisa precisou ser adiada. A expectativa era que fosse realizada agora em 2021, mas com os cortes orçamentários feitos pelo governo federal, não há certeza se haverá nem mesmo em 2022.

“Começamos a nos programar para fazer o censo no início de 2021, contando que a pandemia estivesse mais controlada. Mas a pandemia se alastrou, e o quadro de gravidade e a média móvel de mortes tem sido maior que em 2020. Isso já gerava um nível de preocupação nos funcionários e na diretoria do IBGE. E houve um corte de mais de 90% do orçamento do IBGE, quando foi aprovado o orçamento de 2021. Tínhamos uma orçamento de mais ou menos 2 bilhões de reais e foi reduzido para menos de 80 milhões, o que não dá nem pra planejar o censo de 2022, com essa redução de orçamento.”

Desafios

Thiago Pimentel falou também sobre as dificuldades encontradas pelos recenseadores para realizar as pesquisas amostrais. De acordo com ele, tudo está sendo feito por telefone, como medida de prevenção ao coronavírus. Porém, a população desconfia das ligações feitas pelos pesquisadores.

“A grande dificuldade é a desconfiança das pessoas. Quando a gente faz presencial, a impressão é que a gente tem mais confiança, por conta do crachá e por conhecer a pessoa. Por telefone, devido a golpes e fraudes que são feitos, muitas pessoas ficam temerosas, porque a gente pergunta dados como quanto ganha, emprego, escolaridade, nome, e a depender da pesquisa, pergunta o CPF. Mas, independente disso, quando é presencial e a gente vai fazer o censo, existe também uma certa resistência, por exemplo, para entrar em condomínios, principalmente os mais luxuosos, onde existe uma orientação pra que haja uma dificuldade de acesso, e esse tipo de coisa atrapalha o nosso trabalho, porém não inviabiliza e a gente consegue dar conta”, ressaltou.

Acerca das reclamações de pessoas que alegam que nunca foram entrevistadas pelo IBGE, Thiago Pimentel esclareceu que a unidade de pesquisa do instituto não é o cidadão e sim o domicílio.

“A única pesquisa em que a gente vai em todos os domicílios é o censo, de 10 em 10 anos. Eu nunca fui entrevistado pelo IBGE, pois em 2010 eu não estava trabalhando em Feira, fui destacado para atuar em Alagoinhas, e quem respondeu a pesquisa foi meu pai. Então é muito provável que uma pessoa que more com os pais, com irmão, com alguém que fique mais em casa, essa outra pessoa tenha respondido o questionário.”

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.
 

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