Polícia

Crimes contra a mulher crescem em Feira de Santana, mas registros de ocorrências apresentam redução

Pandemia fez com que muitas mulheres se omitissem em prestar queixa contra companheiros.

04/09/2021 às 12h58, Por Rachel Pinto

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Gabriel Gonçalves

Entre janeiro e agosto deste ano, a Delegacia de Homicídios (DH) de Feira de Santana, registrou que 19 mulheres foram mortas de forma violenta, sendo que dois crimes, apontados como feminicídios.

No último sábado (28), Feira de Santana entrou mais uma vez nas estatísticas de violências cometidas contra as mulheres, quando o corpo de Gabriela Jardim Peixoto, 35 anos, foi encontrado próximo à entrada do distrito da Matinha. Ontem (3), o ex-companheiro de Gabriela, o médico Antônio Carlos Rêgo Costa, acusado de matá-la se apresentou a polícia e teve a prisão preventiva decretada pela justiça. Ele foi a última pessoa a se encontrar com Gabriela, deu detalhes do encontro, mas disse que não se lembra do que aconteceu. Após mais de seis horas de depoimento, foi encaminhado para o Conjunto Penal de Feira de Santana.

O delegado titular da DH, Rodolfo Faro, destaca que o número de mulheres mortas no município, é alto. Porém, segundo a polícia, há uma redução no registro de ocorrências.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

"Com relação ao ano passado, nós tivemos três feminicídios durante todo o ano de 2020 e agora em 2021, já temos dois registrados. O último crime contra a vítima Gabriela, ainda encontra-se em trâmite.  Mas, o que importa é que realmente é um número alto, 20 mulheres assassinadas em seu total, sendo que 17, foram com fatos relacionados principalmente as atividades do mundo do crime, como o tráfico de drogas", explicou.

De acordo com o delegado, é explícito a participação das mulheres no mundo do crime e salientou a violência que é praticada dentro dos grupos criminosos.

"Infelizmente a mulher tem se envolvido cada vez mais em atividades criminosas e em razão desse envolvimento, acaba às vezes perdendo a vida. Hoje o feminicídio é cometido em razão do gênero, pelo fato da mulher, ser uma mulher e a motivação desses crimes, está relacionada em razão de ciúmes de companheiros ou não aceitando o término de relacionamentos e acabam ceifando a vida das companheiras", afirmou.

Com relação aos feminicídios praticados no município, o delegado Rodolfo Faro informou a reportagem do Acorda Cidade que todas as investigações já foram elucidadas e os acusados permanecem custodiados.

"Todos os crimes de feminicídio ocorridos neste ano e também no ano passado, tiveram as investigações encerradas, e os indivíduos encontram-se presos atualmente. Esse tipo de crime, tem umas circustâncias que em si, é um crime de fácil elucidação, pois via de regra, a família colabora, os vizinhos colaboram, existe uma vida pregressa dessa relação conjugal que muitas vezes é levada à delegacia, e em registros de ocorrências, nas apurações realizadas pela Delegacia Especial da Mulher, é identificado", ressalto.

Até o dia 31 de julho deste ano, a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Feira de Santana, registrou 1.631 ocorrências de crimes praticados contra a integridade física da mulher.

Em entrevista ao Acorda Cidade, a delegada Ludmila Vilas-Boas informou que existe uma série de fatores que geram os desentendimentos dentro da residência, provocando o ato da violência.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

"Nós observamos que em primeio lugar, está o desacordo familiar, uma família desestruturada, muitas vezes um relacionamento no qual as pessoas passam por dificuldades financeiras, o alcoolismo, uso de entorpecentes, então tudo isso pode ser considerado dentro dos fatores presentes", explicou.

Ainda de acordo com a delegada, as vítimas evitam comparecer às delegacias por uma série de razões, uma delas, por não querer  a exposição da vida íntima do casal em sociedade.

"Muitas mulheres evitam vir até a delegacia por uma série de razões, seja ela por medo, vergonha, não querer expor a vida íntima em sociedade. É necessário que as pessoas compareçam para registrar as ocorrências, principalmente quando se tratam de ameaças, porque ninguém pode ter certeza se estas ameaças serão concretizadas ou não. Infelizmente vemos muitos casos também de mulheres que vem até aqui na Delegacia Especializada para dar um basta na situação, porque mostram-se aterrorizadas pelas dificuldades financeiras que estão passando a partir daquele momento. Mas a nossa sociedade está aí, inclusive com o apoio do Centro de Referência Maria Quitéria, com movimentos sociais de mulhres que nos auxiliam bastante nestas situações", disse.

Para a delegada, quanto mais órgãos forem criados com o objetivo de proteger a mulher no meio da sociedade, será melhor.

"Todo e qualquer órgão criado com a essa finalidade como as políticas públicas para as mulheres, será bem-vindo. É um tema palpitante, um tema extenso e muito denso, mas que é necessário que isso seja discutido em sociedade", afirmou.

Comparado aos anos anteriores, 2020 e 2021 já apresenta uma grande redução do número de ocorrências registradas de violências contra as mulheres. Segundo Ludmila Vilas Boas, existe uma subnotificação, por conta das mulheres estarem dentro das residências, não podendo sair para realizar as denúncias.

"Nós tivemos uma diminuição dos registros nos anos de 2020 em relação a 2019 e do ano de 2021, em relação a 2020. Durante a pandemia, nós identificamos uma redução de registros que pode ser muito preocupante, porque se tratam também de subnotificações, mulheres que estão em suas residências e muitas delas, sofrendo sem necessariamente registrar nenhuma ocorrência na delegacia. É bom ressaltar que não existe um momento para que as denúncias sejam feitas, porqe a partir do momento em que o indivíduo se sentiu no direito de ameaçar a vida da mulher ou de seus familiares, imediatamente, ela tem que procurar uma delegacia pra registrar o fato", declarou.

Com relação às denúncias feitas, a delegada informou que familiares ou vizinhos podem fazer em formato anonimato pelo 180, mas afirmou que se tratando da própria vítima, é necessário que haja a identificação para que o processo seja iniciado contra o agressor.

"Nós trabalhamos também através do disque 180, onde familiares e vizinhos podem estar realizando a denúncia de forma anônima, mas quando se trata da própria vítima, é necessário que esta pessoa seja identificada para que possomos ouvi-la e informar se deseja ou não representar contra o agressor", concluiu.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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