Polícia

Condenado por fraude na campanha do desarmamento, coronel assume erro de ceder senha

A pena do coronel Martinho será revertida em serviços prestados à comunidade.

02/04/2019 às 09h56, Por Rachel Pinto

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Rachel Pinto

Atualizada em: 16h15

O coronel Martinho Nunes, condenado no último dia 27 de março a 2 anos e um mês de prisão pelo Tribunal Regional Federal (TRF), por fraude na campanha do desarmamento do Ministério da Justiça em 2013, em entrevista ao Acorda Cidade na manhã desta terça-feira (2), declarou que não teve nenhuma participação na fraude, mas admitiu que errou ao ceder a senha de acesso ao sistema que homologava o processo de entrega das armas ao ativista Clóvis Nunes.

Clóvis Nunes e o irmão dele, Carlos Alberto, também foram condenados pela justiça por participar da fraude. Clóvis recebeu a pena de 9 anos e sete meses de reclusão e Carlos Alberto foi condenado a 12 anos e 6 meses. No dia 28 de março, Clóvis também deu entrevista ao Acorda Cidade e informou que seus advogados entraram com embargo de declaração na justiça e também vão entrar com um apelo e recorrer na primeira instância.

A pena do coronel Martinho será revertida em serviços prestados à comunidade e ele frisou que não questionou a sua condenação porque na opinião dele, a pena fez jus a um comportamento irregular cometido por ele. O comportamento foi o fato dele ter cedido a senha para a homologação da digitalização dos processos de doação e entrega das armas.

“Eu já confessei isso durante as investigações. Os autos do processo estão lá, consignadas as minhas afirmativas de que para agilizar os processos que eram muitos e para evitar muitas queixas que estavam acontecendo por parte dos que faziam a entrega das armas, segundo Clóvis Nunes. Essas pessoas já desconfiavam que estaria havendo irregularidade com relação ao pagamento, eu terminei por ceder aos pedidos constantes de Clóvis e passei a senha. Então a condenação não é por envolvimento em fraude de retirada de dinheiro público, nem falcatrua. A minha condenação foi por ter cedido a senha o que é proibido por lei. Eu fiz justamente com o propósito de acelerar os processos que lá estavam encalhados para que pudessem receber o pagamento que o governo passava”, afirmou.

O coronel declarou que está em paz e com a consciência tranquila. Não está em conflito nem com ele mesmo nem com a justiça. Ele reconhece que errou e aproveitou a oportunidade da entrevista para reiterar que nunca teve em sua trajetória envolvimento com qualquer tipo de crime. O ato de passar a senha, na opinião dele, foi um erro e inclusive duas testemunhas presenciaram o momento que ele cedeu a senha para Clóvis. De acordo com ele, foi no dia que aconteceu a comemoração dos Dia das Crianças, uma festa tradicional que era promovida pelo Batalhão da Polícia Militar, reunia muitas pessoas, e no momento que Clóvis lhe solicitou a senha, ele estava envolvido em uma das atividades da festa.

“Eu fui o gestor do programa e recebi uma senha para homologar os processos. As etapas de recebimento, análise, destruição e encaminhamento das armas eram feitas pela Casa da Paz e o Batalhão era apenas o recolhedor, era onde as armas eram depositadas. Eu não fui instruído para fazer análise de armas, para fazer os julgamentos se a arma era ou não para ser paga. Houve uma pressão e eu fui convencido. Foram inúmeras vezes que ele insistiu para eu passar a senha e inclusive esse pedido que eu não cedi antes ele reclamava com dois polícias militares que eu tinha colocado a disposição para ajudar a digitalizar os processos. Os policias me falavam que ele constantemente falava porque eu não cedia a senha. A senha foi cedida em um dia que eu estava envolvido com muita coisa, comemorávamos no Batalhão o Dia das Crianças e era um evento grandioso que fazíamos no batalhão. Naquele dia eu envolvido com as pessoas presentes e uma série de atividades, ele me pediu a senha. Depois que ele saiu, uma das testemunhas chegou até a comentar com a outra: ‘Mas, o coronel cedeu a senha a fulano de tal?’. Mas, eu já tinha cedido a senha e não me dei por conta. Só fui me dar por conta no dia que a Polícia Federal (PF) chegou em minha casa”, relatou.

Quando o coronel já estava na reserva, um ano e oito meses após ele sair do comando do Batalhão, ele ressalta que foi surpreendido com a formalização da denúncia. O coronel compareceu a Polícia Federal, prestou depoimento à época e colaborou com todas as etapas do processo. Quando ele saiu do comando, a senha de acesso aos processos das armas foi cancelada e foi gerada uma nova senha para o novo comandante.

O coronel Martinho frisou que procurou a imprensa para se posicionar sobre a sua condenação para esclarecer as pessoas e aos amigos o que aconteceu. Ele salientou que não se preocupa com as pessoas que fazem julgamentos, mas preza para que as pessoas que não têm acesso a informação completa do fato possam saber que ele não cometeu deslize de conduta nem de moral.

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