Feira de Santana
Baianos já podem respirar em paz após teoria de tsunami? Especialista explica chances da grande onda acontecer
Entre os feirenses, o assunto também ocupou a maior parte das conversas do fim de semana.
20/09/2021 às 13h37, Por Laiane Cruz
Laiane Cruz
Desde a última quinta-feira (16), quando especialistas emitiram um alerta sobre a possibilidade de erupção do vulcão Cumbre Vieja, na costa oeste da África, teorias sobre a possibilidade de um tsunami atingir o litoral da Bahia voltaram a assombrar os pensamentos dos baianos.
Entre os feirenses, o assunto também ocupou a maior parte das conversas de whatsapp, com o compartilhamento de links de forma disparada pelos grupos, espalhando ainda mais o burburinho e o clima de ansiedade. De fato, nas redes sociais não se falou de outra coisa, e teve gente que ficou em dúvida se deveria ou não curtir o fim de semana na praia, porque vai que, né?
O vulcão em questão está situado na ilha La Palma, uma das oito ilhas do arquipélago das Ilhas Canárias, na costa oeste africana. E o alerta emitido pelos especialistas se concretizou em um processo de erupção vulcânica neste domingo (19). Mas, para alívio de todos os baianos, nenhuma onda gigante foi vista invadindo as praias do nosso litoral.
Foto: Arquivo Pessoal
Não foi dessa vez
De acordo com o oceanógrafo feirense Iaggo Correia, formado em Oceanografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, e mestre em Geociências pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), apesar de toda a tensão e pânico experimentados nos últimos dias na Bahia, a possibilidade de um tsunami atingir a costa baiana é algo improvável de acontecer.
Segundo o especialista, essa teoria é antiga e aponta para uma combinação de eventos extremamente raros.
“Tudo isso se deve a uma antiga teoria feita por especialistas brasileiros da Universidade Federal do Paraná, onde eles indicaram que a erupção do vulcão Cumbre Vieja seria uma das poucas possibilidades de ocorrência da formação de uma grande onda. Mas para isso seria necessária a combinação de eventos extremamente raros. Primeiro, é a necessidade do processo eruptivo ser do tipo explosivo, com explosão de materiais rochosos, altamente energético, capaz de desagregar material rochoso do topo do vulcão, que desmoronaria em direção ao mar, causando a movimentação das massas de água e gerando uma grande onda, que seria o tsunami. Mas essa combinação de eventos é muito rara de acontecer e nunca foi vista na região do Oceano Atlântico”, pontuou.
O processo de erupção iniciado no domingo pelo Cumbre Vieja seria de baixa energia e com o derramamento da lava pelas bordas, o que torna a formação de um tsunami algo bastante improvável de acontecer.
Iaggo Correia explicou ainda sobre os motivos que levam um vulcão adormecido a entrar em erupção. No caso do Cumbre Vieja, o último evento desse tipo ocorreu há mais de 50 anos.
“Essa erupção vulcânica é causada pela necessidade alívio de pressão do manto terrestre, que é uma camada interna do planeta, localizada abaixo da camada da litosfera, onde estão presentes os continentes. O manto é formado por magma, rocha fundida de altíssima temperatura e pressão, que precisa ser aliviada. E um dos mecanismos terrestres para esse alívio de pressão é expulsar o magma em direção à litosfera. Esse magma é expulso através de um canal de conexão entre a litosfera e o manto, que é o vulcão. E esse processo eruptivo, agora em atividade, que gerou um grande pânico na população, com a possibilidade de ocorrência de um tsunami.”
Quem sabe um dia
Apesar de os baianos poderem respirar aliviados nesse momento, o oceanógrafo informou que já houve a formação de grandes ondas no litoral da Bahia, que foram consideradas tsunamis. Tal acontecimento foi em 1755, o que significa que, se já aconteceu, quem sabe um dia pode voltar a acontecer não é mesmo? Mas, não por agora, conforme reforçou o oceanógrafo.
“A Bahia já foi alvo de alguns tsunamis. Já têm notícias sobre isso. O último registrado foi em 1755, quando uma onda não tão grande, com cerca de 1,8 a 2 metros chegou ao litoral baiano, porém o que ela não tinha de altura, tinha em volume de água e acabou causando um grande estrago, porque penetrou no litoral em cerca de 4 km. Mas, atualmente esse risco só diminui, porque a erupção do atual vulcão é de baixa energia.”
O especialista salientou ainda que apesar do processo eruptivo nas Ilhas Canárias ter provocado perdas na comunidade e organismos marinhos e terrestres, presentes em volta do vulcão, esse processo ambiental pode significar também um recomeço.
“Esse magma ao esfriar e se solidificar vai dar origem a novas rochas. Possivelmente com jazidas minerais bastante importantes para a sociedade, de extremo valor financeiro. Então o processo vulcânico nem sempre pode ser visto como um processo destrutivo”, concluiu.
O oceanógrafo Iaggo Correia mantém a página no Instagram @oceanoterapia.br, onde tira dúvidas sobre assuntos ligados ao oceano e outros temas ligados ao meio ambiente.
Com informações da jornalista Maylla Nunes do Acorda Cidade.
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