Feira de Santana

No Dia Nacional da Capoeira, mestres e alunos falam sobre o amor que mantêm pelo esporte

Para o mestre Rone Rasta, o Dia Nacional da Capoeira traz um pouco mais de valorização para essa atividade, que precisa de mais incentivos.

03/08/2021 às 15h49, Por Laiane Cruz

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Laiane Cruz

Aos dois anos de idade, por influência do pai, a estudante de Odontologia e museóloga Laura Verônica da Conceição Pinheiro Rosa entrou em uma roda de capoeira e se encantou pelo som do berimbau. Desde então, ela nunca mais abandonou os fundamentos da arte, que faz parte da cultura afro-brasileira e mistura luta, dança e brincadeira.

Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

Atualmente com 27 anos de idade, Laura Verônica já é graduada no esporte e estagia em uma academia, onde ministra aulas para outros alunos. Em entrevista ao Acorda Cidade, nesta terça-feira (3), Dia Nacional do Capoeira, ela revelou o significado de lutar capoeira e como o esporte a ajudou a superar desafios e perseguir os seus objetivos.

“Meu cordão é o trançado de três, que é azul, amarelo e verde, as cores da Federação Baiana de Capoeira. A capoeira está inserida na minha vida desde sempre, já conheci o meu pai capoeirista. Eu fui asmática, hoje não tenho mais crises e aprendi a respirar na capoeira. Eu tenho um problema nos dois joelhos, que eu não consigo andar direito, então eu tenho saúde por causa da capoeira. Eu sou formada em Museologia e o que me ajudou a me formar, com a questão financeira e ter algo para pesquisar e um objetivo no curso, foi a capoeira. Hoje eu estudo Odontologia e o que banca os meus estudos é a capoeira. Então, se tirar a capoeira da minha vida, não sei o que sobra”, afirmou a capoeirista.

Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

Para ela, que faz parte da Associação Oásis, situada na Rua Castro Alves, no bairro Serraria Brasil, a capoeira tem muito a ensinar, uma vez que seus fundamentos podem ser levados para a vida.

“Dentro da capoeira, eu aprendi a respeitar os mais velhos. Aqui na Associação Oásis, a gente sempre fala quando recebe um visitante que gentileza gera gentileza. O capoeirista chega devagar e pisa manso, e quando a gente chega em outro grupo que tem outra forma de conduzir, a gente tem que respeitar. Porque a nossa verdade é válida, mas a verdade do outro pode ser diferente da minha e é tão válida quanto a minha. Isso a gente sai da capoeira e leva para a vida”, frisou.

Desafios

O mestre de capoeira Ronaldo Santos Rosa, conhecido como mestre Rone Rasta, 58 anos, fundou a Associação Oásis em 1996, juntamente com alguns alunos. De lá para cá, foram muitos os percalços e atualmente, em Feira de Santana, a capoeira é um esporte pouco procurado.

Segundo mestre Rone, ele e outros professores já chegaram a dar aulas para turmas de até 300 alunos, em diversas academias da cidade. Hoje em dia, as turmas não passam de 30 alunos.

Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

“Aonde você for, se perguntar aos mestres de capoeira, é muita dificuldade para a gente manter uma associação. Com essa pandemia piorou, mas eu tive sorte porque o tempo que a academia ficou fechada, os alunos mantiveram a mensalidade. Então a gente conseguia pagar as contas, o espaço. Mas, quando eu falo de muita dificuldade, é que a gente não consegue patrocínio, o poder público também pouco ajuda com um projeto. A gente luta para que a capoeira seja inserida no currículo escolar, mas até então nada”, compartilhou o mestre.

Ele conta que se mantém dando aulas em condomínios, como também em academias, para alunos de todas as idades.

“Eu dou aula a partir de 2 anos de idade, mas hoje aqui na academia a gente tem um rapaz, que ele é especial e a mãe trouxe, o acompanhou com a capoeira, depois a mãe saiu, ficou o pai, então esse senhor tem 56 anos e é o aluno mais velho que a gente tem. Também tive a honra e o prazer de dar aulas em um centro de convivência de idosos, e eu já dei aula para pessoas até de 80 anos de idade, como a mãe do radialista Dilton Coutinho, que foi minha aluna no Centro de Convivência Isa e Almerinda, nas Baraúnas. Eu vivo da capoeira, e o meu objetivo é fazer o melhor por essa cultura.”

Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

Para Rone Rasta, o Dia Nacional da Capoeira traz um pouco mais de valorização para essa atividade, que precisa de mais incentivos.

Dificuldades

O mestre capoeirista Fabrício Tatuzan, que também atua em Feira de Santana desde 2009, ministra aulas para pessoas de todas as faixas etárias e desenvolve projetos sociais, através da Escola de Capoeira Universo Cultural, que irá completar 12 anos em 18 de setembro deste ano.

A escola possui hoje uma média de 123 alunos dos distritos de Maria Quitéria, distrito da Matinha e no bairro Eucalipto. Além disso, a escola se soma a outro projeto social no bairro Conceição, em parceria com a Associação Comunitária Sonho Real, que tem uma média de 36 a 38 crianças, que nesse momento estão sem as aulas presenciais devido à pandemia.

Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

De acordo com o mestre Tatuzan, o objetivo dele é levar a capoeira e a cultura afro-brasileira aos locais mais distantes da cidade, para que tenha um reconhecimento e o seu valor, adotando como bandeira principal a cultura de paz.

“Através dessa filosofia, nós trabalhamos as relações sociais entre as crianças, os alunos e os familiares e passamos a promover momentos de convívio e solidariedade entre nosso grupo. Então se torna um ambiente muito familiar. Tenho alunos que me acompanham já há 13, 15 anos. Tudo isso é de uma importância que eu não consigo nem explicar. A plenitude do quanto eu me sinto contemplado por Deus e por todas as forças da natureza de poder contribuir nesse mundo com uma pequena parcela social e cultural na nossa comunidade feirense”, disse.

Foto: Arquivo Pessoal

Ele acompanha alunos a partir de 3 anos de idade até os 69 anos, e mantém um projeto de terapia adequada à terceira idade.

Com a pandemia, assim como em outras áreas da sociedade, as dificuldades vieram, mas a fidelidade de muitos alunos e o amor pelo trabalho fizeram que com a escola ficasse de pé.

“Todos que trabalham com a cultura e com o esporte com certeza passaram alguma dificuldade e com a capoeira não foi diferente, mas nós estamos ainda retomando as atividades agora com crianças, com número reduzido no espaço, e ainda com os adultos combinamos para retornar mesmo a partir da segunda semana de agosto, de acordo com essa situação da pandemia. Temos alunos bolsistas e alunos mensalistas, e se tornou mais difícil manter a escola de capoeira, que é uma instituição registrada, com todas as despesas. Eu trabalho com artes gráficas, e é o que tem ajudado bastante a sustentar os trabalhos online e persistir com a capoeira”, relatou o mestre ao Acorda Cidade.

A administradora Luciene da Silva Lima, de 50 anos, é aluna do professor Tatuzan em uma academia da cidade. Segundo ela, optou pela capoeira pela mobilidade corporal e qualidade de vida que o esporte traz.

Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

“Fiz capoeira há 15 anos e percebi que a capoeira dá uma desenvoltura no seu corpo, você tem mais habilidades ao cair, ao levantar, e quando a idade vai chegando, a gente necessita de um melhor preparo, até mesmo para uma queda. Retornei há um mês e estou gratificada com meu desempenho. Eu contratei o mestre Tatuzan para me dar aula na academia onde já faço musculação e isso tem melhorado muito meu dia a dia. Tem pessoas que fazem capoeira com 80 anos que têm uma habilidade que uma pessoa de 30 não tem. Então eu pretendo ter essa habilidade até quando Deus me permitir. A capoeira pra mim significa vitalidade”, resumiu.

Foto: Arquivo Pessoal

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.
 

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