Ameaças de morte

'Prefeita não está sozinha', diz ministra Damares em visita à Cachoeira para acompanhar investigações

Em entrevista ao Acorda Cidade, a prefeita Eliana Gonzaga afirmou que a presença das autoridades federais no município é uma vitória para a democracia.

10/05/2021 às 13h31, Por Rachel Pinto

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Laiane Cruz e Rachel Pinto

O município de Cachoeira recebeu na manhã nesta segunda-feira (10) a visita da ministra Damares Alves, titular do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), juntamente como uma comitiva de autoridades do Governo Federal e do Congresso Nacional. O objetivo é acompanhar a investigação de denúncias de ameaças de morte à prefeita da cidade, Eliana Gonzaga (Republicanos).

Em entrevista ao Acorda Cidade, a prefeita Eliana Gonzaga afirmou que a presença das autoridades federais no município é uma vitória para a democracia.

“Eu enxergo como um mover de Deus e um olhar especial nessa questão, que nos tempos de hoje, em pleno século 21, todos os políticos, nenhuma autoridade pode admitir esse atentado à democracia, pois em nenhum momento político do nosso município, Cachoeira, que traz consigo uma história de luta pelas nossas independências, da Bahia e do Brasil, jamais passou por um momento fatídico igualmente a este. As autoridades foram movidas para que a democracia plena seja garantida, o direito do cidadão de escolher seus líderes seja respeitado. Portanto, eu vejo isso como a defesa à democracia.”

A prefeita relatou as razões que motivaram a investigação das autoridades. Segundo ela, desde as eleições, ela, seus familiares e militantes políticos ligados ao partido têm sofrido uma série de ameaças e fariam parte de uma lista de pessoas marcadas para morrer. Alguns desses militantes, conforme Eliana, foram assassinados.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Logo após as eleições, em 15 de novembro de 2020, imediatamente dois dias após, no dia 17 de novembro, nas primeiras horas da manhã, um militante nosso, Ivan Passos, foi brutalmente assassinado com dez tiros, coincidência ou não um número que representa o nosso partido, que é representado pelo número 10. No mesmo dia, saiu uma conversa que Ivan era apenas o primeiro e que tem uma lista com o nome de diversos militantes, o meu nome, o nome do meu marido, e segundo informações, até o nome do meu filho caçula. Houve conversas de rua que Georlando Silva era o segundo da lista a ser executado, como de fato foi, no dia 7 de março, na véspera do Dia da Mulher, com 19 tiros, todos na face, que chegou ao ponto de desfigurar e teve que fazer o enfaixamento da face para termos o direito de velar o corpo.

Tivemos que imprimir uma foto em tamanho real para pôr sobre o seu rosto, devido a tamanha brutalidade e covardia. Tivemos que retirar várias pessoas do município no dia do assassinato de Ivan e depois aos poucos fomos retornando essas pessoas. Mas, após o assassinato de Georlando, outras pessoas também foram embora de Cachoeira”, relatou a gestora.

Eliana Gonzaga ressaltou que não teria motivos para ser ameaçada de morte, por nunca ter tido inimigos políticos, nem na esfera pessoal.

“Tudo se deu após o resultado das eleições. Qual foi o meu crime? Aceitar o clamor da população, que eu fosse candidata à prefeitura, e o povo correspondeu e nos deu uma margem expressiva de votos, 10.448 votos, com uma frente de 2.535 votos. Esse foi o único crime que eu e a população cometemos. Já recebi vários recados para eu renunciar. Não vou renunciar jamais. O povo de Cachoeira não elegeu uma covarde. O povo cachoeirano terá um governo de excelência. É povo bravo, que luta pelos seus ideais. Quanto à nossa proteção, primeiro é a proteção divina, que aqui na Terra, graças a Deus estamos andando com seguranças pessoais e o governo do estado também nos disponibilizou uma força-tarefa pra trazer segurança tanto para mim quanto meus familiares, aos militantes e toda a população cachoeirana de um modo geral.”

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

A prefeita de Cachoeira comemorou também a movimentação das autoridades federais e diversos setores da sociedade, após terem tomado conhecimento do fato.

“Depois de toda a notoriedade, ocasionada pelas redes sociais, pela imprensa de uma forma geral, chegou ao conhecimento de todas as autoridades. E as figuras políticas começaram a emitir notas de solidariedade e moção de apoio, e isso foi ganhando uma proporção tal que chegou no âmbito federal. Inclusive a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa e dos deputados federais, os movimentos negros, de mulheres, LGBT, a própria UPB se manifestou solidária, os diversos seguimentos da sociedade. Através desse movimento, recebemos o apoio do governo do estado e federal, todos os órgãos competentes, que estão se esforçando, e espero que logo seja cumprido todo esse trabalho de investigação, que sejam elucidados os crimes e que não apenas os executores sejam punidos. A população merece uma resposta justa, que além dos executores, cheguem-se aos mandantes, para que sejam punidos, que sirva de exemplo, que todo o território nacional não é uma terra sem lei”, salientou.

A ministra Damares Alves, titular do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), considerou as ameaças a prefeita como uma covardia e frisou que o presidente Jair Bolsonaro, assim como toda a equipe do governo federal vão proteger Eliana Gonzaga. Segundo ela, a prefeita não está sozinha.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Disseram que eu não ia entrar na cidade e se pensam em ameaçar ‘Maria Bonita’, não sabem com quem estão brincando não. Nesse Brasil agora acabou para bandido. Estamos aqui cumprindo a nossa obrigação e ninguém tem que agradecer nada a nós. Isso aqui é obrigação nossa, proteger as mulheres do Brasil”, declarou.

O secretário nacional de igualdade racial, Paulo Roberto que também esteve presente na comitiva do governo federal frisou que o papel da pasta que responde é promover a igualdade racial no país. Segundo ele, não faz sentido no Brasil povos brancos ficarem contra negros, negros contra brancos e homens contra mulheres.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Isso tem que acabar. Somos um povo só independente dos grupos. São vários grupos, vários segmentos, quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais, ciganos, mas todos somos o povo brasileiro. Esse tipo de situação retrata a desigualdade, desigualdade histórica que vem de muito tempo rolando como se fosse bola de neve descendo a montanha. Não admitir que a mulher possa ascender a cargos políticos isso é fruto de um somatório de machismo com o racismo. Isso tem que acabar no país e nós que somos promotores da igualdade racial não podemos tolerar situações desse tipo”, enfatizou.

O secretário encerrou repudiando toda forma de discriminação, intolerância religiosa ou preconceito existentes no país.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.

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