Feira de Santana
Por falta de leitos, mulheres sofrem para dar à luz em Feira de Santana; dois bebês morreram
Na manhã deste sábado (4) o hospital amanheceu superlotado - havia 18 mulheres no corredor aguardando avaliação, outras dez no pré-atendimento e a todo momento chegavam parturientes.
04/05/2019 às 16h20, Por Andrea Trindade
Ney Silva
Mulheres de Feira de Santana e de várias cidades da Bahia ainda sofrem por conta do descaso das autoridades, principalmente de prefeitos da microrregião que não investem na ampliação de leitos de obstetrícia em seus municípios. O resultado não poderia ser outro: Crianças estão morrendo no Hospital da Mulher, em Feira, por falta de leitos. É praticamente o único hospital público que abre as portas para gestantes de vários lugares.
Na manhã deste sábado (4) o hospital amanheceu superlotado – havia 18 mulheres no corredor aguardando avaliação, outras dez no pré-atendimento e a todo momento chegavam parturientes.
Além dessa situação, presenciada pelo Acorda Cidade, a notícia da sexta-feira foi péssima: Duas crianças morreram por conta da demora no atendimento obstétrico. Uma delas nasceu morta e a outra morreu logo após o parto. Os dois partos foram cesáreos.
A diretora do complexo materno infanto-juvenil da Fundação Hospitalar, a enfermeira Charline Portugal, informou que vai abrir uma sindicância e apurar se houve alguma negligência.
Charline, ressaltou que a demanda de pacientes é muito grande, mas que a estrutura é 100%. "O hospital tem uma estrutura que corresponde às condições de trabalho, equipamentos devidos e equipe de trabalho suficiente, mas só encher o hospital de profissionais pra dar resolutividade não resolve", garantiu.
A diretora explica que o problema está na grande demanda que afeta o hospital por causa da falta de leitos no estado da Bahia. "Só neste sábado recebemos pacientes de vários municípios e essas parturientes deveriam estar sendo atendidas em seus munícipios porque a maioria é parto normal", afirmou.
Outra situação que provoca essa demanda de parturientes de acordo com Charline, é o fato de alguns profissionais de saúde orientarem as pacientes a não informarem que são de outras cidades.
A diretora médica do Hospital da Mulher, Marcia Sueli D' Amaral disse que a capacidade da unidade é limitada mesmo o hospital tendo 78 leitos de maternidade.
“Não estamos conseguindo dar conta da demanda de Feira de Santana e outros munícipios. Tivemos sim dois óbitos porque não tínhamos leitos para as gestantes serem atendidas. Na segunda avaliação os bebes foram a óbitos", esclareceu. Ela confirma que as pacientes não foram internadas devido a completa falta de leitos.
A dona de casa Elisabete dos Santos Pereira, de 18 anos, estava aguardando para ser atendida hoje pela manhã. Ela tinha acabado de chegar da cidade de São Gonçalo dos Campos. Ela é uma paciente de alto risco porque estava com a pressão arterial elevada. A cunhada de Elisabete, a dona de casa Eliane de Jesus informou que em São Gonçalo não tem maternidade e que lá não se faz parto. "Mandaram que a gente viesse para aqui. A enfermeira falou que como ela tem problema de pressão alta e está com quatro centímetros de dilatação viesse logo pra um atendimento", disse.
Eliane disse ainda que tentou levar Elisabete no Hospital Estadual da Criança (HEC) onde funciona uma maternidade de alto risco, mas não conseguiu o atendimento. "Nos enviaram aqui para o Hospital da Mulher. Só um hospital fica difícil porque eu acho que quando uma gestante entra no hospital e para ter um bebê e não correr riscos" observa.
Bebê morto na barriga
Outro drama na porta do Hospital da Mulher era o da dona de casa Vanessa dos Santos Santana. Ela tem 22 anos e chegou ao hospital na sexta-feira. Ela não poderia mais ter o filho porque ele estava morto. "Cheguei aqui para saber o sexo do bebê e a médica disse que o coração tinha parado. Era dez da manhã quando cheguei e onze horas fui informada que não tinha vaga. Estou com o filho morto na barriga e talvez precise fazer uma cesária, mas não tem vaga", disse indignada.
Ela disse que também tentou um atendimento no Hospital Estadual da Criança, mas teve que voltar. "Lá no HEC me disseram que não é caso mais de alto risco porque a criança estava morta", salienta Vanessa.
Revoltada com o atendimento, a comerciária Viviane de Jesus acompanhava Vanessa, que é sua cunhada, e uma irmã dela, que estava internada no Hospital da Mulher. "Eu acho que isso tudo e uma falta de respeito. Não critico o hospital em si por estar superlotado. A direção não tem culpa de receber tanta gente em um lugar só. Mas quando você vai para o Hospital Estadual reclamar dizem que não podem fazer nada. Fica um jogo de empurra", afirmou.
A presidente da Fundação Hospitalar (entidade que mantém o Hospital da Mulher), Gilberte Lucas, informou ao Acorda Cidade que aumentou de 29 para 40 mil atendimentos entre 2016 e 2018. Em 2019, segundo ela, os atendimentos aumentaram 15%. Ela disse ainda que a equipe foi ampliada com mais um obstetra e estão em construção, seis leitos e que o hospital é municipal, tem portas abertas para todo o estado, mas não recebe verbas do governo da Bahia.
Sobre São Gonçalo dos Campos, ela informou que aquele município não tem pactuação com Feira de Santana, mas já enviou de janeiro até marco 223 gestantes com a realização de 83 partos.
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