Fraternidade sem Fronteiras

Unido pelo amor e pela medicina, casal de Feira vive experiência transformadora tratando crianças na África

Desde o dia 21 de janeiro, eles estão trabalhando como médicos voluntários do Projeto Fraternidade Sem Fronteiras, em Madagascar, na África.

06/02/2019 às 06h25, Por Andrea Trindade

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Rachel Pinto

Em tempos que as relações humanas estão cada vez mais frias e vazias, onde o dinheiro e o status são os grandes influenciadores para escolha de uma carreira profissional, ver médicos que cumprem com muita honra os princípios do juramento feito durante a formatura é algo admirável. Ainda mais se esses médicos conseguem se despreender de muitos fatores materiais e conseguem se doar ao verdadeiro sentido da profissão: ajudar ao próximo sem se importar onde for e quem for. Ajudar com o objetivo somente de ajudar e aprender. Aprender muito quando o assunto é humanidade, cidadania, fé e amor.

Foto: Arquivo Pessoal

E foi com essa vontade de servir e fazer valer o juramento feito na formatura que o casal de médicos de Feira de Santana Rui Nei Araújo, de 36 anos, e Anne Sthepanne, de 30 anos, ele neurocirurgião e ela nutróloga e médica do sono, embarcaram em uma experiência única e transformadora enquanto profissionais e também como casal. Uma aventura sem glamour, sem status, sem rendimentos financeiros e apenas de doação, de força humana e de sentimentos.

Desde o dia 21 de janeiro, eles estão trabalhando como médicos voluntários do Projeto Fraternidade Sem Fronteiras, em Madagascar, na África. O casal está na cidade de Ambovobê atendendo pessoas na Caravana Emergencial contra o Sarampo. O Acorda Cidade falou com Anne Stephane e ela contou sobre alguns momentos marcantes desse trabalho e os diversos aprendizados que ela e o marido estão adquirindo sobre a profissão e a vida.

Foto: Arquivo Pessoal

“A missão do projeto Fraternidade sem Fronteiras chegou pra gente no susto. Meu esposo Rui conheceu  Janaina, que é médica assistente do projeto Madagascar, no Congresso de Educação Médica, no ano passado, e lá ele teve a oportunidade de conversar com ela sobre o projeto. Nesta oportunidade ela nos convidou a vir à África e conhecer. Inclusive chegamos a nos planejar para virmos no Carnaval. Nós colocamos nas mãos de Deus e pedimos um sinal se deveríamos ou não vir. Muitas coisas aconteceram e no nosso coração era Deus dizendo que ainda não era o momento. Mandamos um áudio para Janaina dizendo que não viríamos e justificando muitas coisas, dentre elas custos, etc… Porém, ela não ouviu o áudio e nós não sabíamos o que estava acontecendo. Então na quinta-feira, dia 17 de janeiro, ela nos mandou uma mensagem perguntando se iríamos e se sabíamos o que estava acontecendo. Em seguida, mandou um vídeo falando sobre a epidemia de sarampo e que só havia ela de médica para cuidar de cerca de 450 crianças. Janaina disse que elas estavam morrendo, tendo muitas complicações graves e não havia recursos. Aquela mensagem naquele instante tocou nossos corações como uma flecha de Deus que acertou o alvo. Sentimos imediatamente o chamado dele”, declarou.

Depois de confirmar a partida para a África, os médicos conseguiram organizar a viagem em apenas dois dias. Organizaram a escala de plantões, os atendimentos aos pacientes nos consultórios e tudo fluiu de forma tranquila e muito compreensiva. A Caravana Emergencial do Sarampo iniciou dia 21 de janeiro e segue até o dia 8 de fevereiro, na próxima sexta-feira.

Fraternidade sem Fronteiras

O Projeto Fraternidade sem Fronteiras funciona desde 2009 e começou através do voluntário Wagner Moura, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Atualmente a iniciativa está em seis países, inclusive no Brasil. Realiza um trabalho humanitário e fraterno para famílias mais carentes. A Caravana contra o Sarampo que os médicos Anne e Rui participam está em Madagascar, um dos locais mais pobres da África, onde moram as famílias do Sul do país. De acordo com a médica, os atendimentos prioritários são para as crianças. No entanto, toda a família recebe o atendimento.

Foto: Arquivo Pessoal

“É a primeira vez que participo de um projeto assim. E é um choque gigantesco de realidade. A sensação é de que entrei numa máquina do tempo e voltei no tempo e no espaço. Estou em um lugar onde civilizações iniciavam as suas vidas, ainda sem tecnologia, sendo norteados por estrelas e o tempo pela lua, em que não se tinha estrutura, nem os direitos básicos. Isso é revoltante. Porque a política ineficaz, um sistema de retroalimentação de exploração e o olhar egoísta e materialista do mundo nos fazem esquecer de que existe gente que ainda não experimenta um mínimo de dignidade. Aí você imagina dia 8 de fevereiro eu pego de volta a máquina do tempo para o momento e lugar em que vivo, com tudo que tenho, me lembrando o tempo inteiro que eu faço parte desse mundo material e egoísta. Eu realmente não sei o que vai acontecer. Estou pedindo muito a Deus sabedoria, que prepare o meu coração. Porque as pessoas acham que é difícil vir para cá, mas eu digo que o mais difícil é voltar”, ressaltou a médica em entrevista ao Acorda Cidade.

Foto: Arquivo Pessoal

O trabalho do Projeto Fraternidade sem Fronteiras é totalmente voluntário e sem fins lucrativos. Os profissionais que participam da iniciativa como médicos e enfermeiros não recebem nenhum tipo de remuneração e os custos de transporte, hospedagem e alimentação são assumidos pelos voluntários que abraçam a causa.

Foto: Arquivo Pessoal

Anne Stephane comentou que não há ganho financeiro, mas em contrapartida, tem a oportunidade de vivenciar momentos únicos. Como ser abraçada por crianças que sofrem com a fome, com o sarampo e não perdem jamais a pureza, a vontade de viver e conseguem iluminar vidas com seus sorrisos sinceros e acolhedores.

“Sem dúvida o que mais me encanta são as crianças. O amor que elas têm para dar, é tão grande, que não cabe dentro delas. Eu cheguei aqui e achava que era carência delas. Essa sem dúvida foi uma das minhas primeiras rasteiras, de reconhecer que na verdade a carente era eu, que eram elas que tinham tanto amor para dividir, tanta pureza, tanta simplicidade. Porque o amor é simples, não tem distinção de nada. E sem contar que a fé deles é inabalável. Deus mora aqui! Deus mora onde as pessoas precisam mais dele! Deus mora no Brasil, nas crianças carentes, nas pessoas que vivem nas ruas, nos idosos abandonados, nos lugares mais pobres. Porque são nesses lugares onde ele é mais forte. E ele faz a gente lembrar dessas pessoas. Que são nossos irmãos e que não podemos mais pensar apenas em nós mesmos e na nossa própria vida. Eu acho que esse é o plano de Deus”, disse.

Olhando na mesma direção

Além dos aprendizados como seres humanos e médicos, o casal Anne Stephane e Rui Nei já arruma em sua bagagem de volta da África, mais união, carinho, cumplicidade e o valor de caminharem juntos em um mesmo propósito de vida. Embora a jornada de trabalho na África seja exaustiva e sobre quase tempo nenhum para os momentos a dois, a médica relata que há uma aproximação de vidas e também de almas.
Cada vez mais conectados eles dividem o trabalho, as emoções, as lágrimas e alegrias.

"O presente mais rico que ganhamos no dia do nosso casamento foi uma frase: “Um com o outro, um para o outro, sempre olhando na mesma direção”. E estar aqui juntos é isso! Essa frase resume o nosso sentimento. Aprendemos sobre fé, resiliência, humildade, simplicidade e acima de tudo o amor verdadeiro. Acho que todo mundo merece ter essa experiência para lembrarmos de como o mundo está doido e andando na direção errada. Que precisamos acordar logo para encontrar o verdadeiro curso do caminho”, frisou.

Perto de Deus

Anne e Rui são católicos e colocam Deus em todos os momentos das suas vidas. Na profissão e no relacionamento eles fazem questão de exaltar a presença divina e isso faz com que eles emanem muito bom astral e energia positiva por onde passam. Seja em Feira de Santana ou na África, são verdadeiros parceiros, colegas e namorados. Ela relata que a participação no Projeto Fraternidade sem Fronteiras os deixou ainda mais perto de Deus e com vontade de seguir em frente em prol de outras missões e outras causas humanitárias.

Foto: Arquivo Pessoal

“Vimos Deus de perto. O próximo passo agora é a grande pergunta que estamos fazendo a Ele todos os dias: – E agora Deus? O que nós vamos fazer com tudo isso, com todo esse aprendizado? O que o Senhor quer de nós? Eis-nos aqui Senhor, vossos servos e missionários! Amém”, finalizou.

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